domingo, 23 de junho de 2024

A importância do Aprendiz Maçom para a Maçonaria

 

A importância do Aprendiz Maçom para a Maçonaria

LuCaS

O Aprendiz Maçom é de fundamental importância para a Maçonaria, pois representa o início da jornada de desenvolvimento pessoal e espiritual dentro da ordem. O Aprendiz é aquele que está aprendendo não apenas as técnicas e conhecimentos específicos da Maçonaria, mas também está se aprimorando moral e intelectualmente.

No contexto maçônico, o Aprendiz recebe ensinamentos que são cruciais para o seu desbaste da ‘pedra bruta’, que simboliza o seu aperfeiçoamento moral e espiritual. Este primeiro grau é dedicado à Fraternidade, com o objetivo de unir toda a humanidade em um ideal comum. O Aprendiz Maçom, ao ingressar na Ordem, passa a ser um obreiro do Grande Arquiteto do Universo, desenvolvendo-se por meio de trabalhos e instruções ministradas pelo corpo administrativo da Oficina.

Além disso, o Grau de Aprendiz Maçom é uma fase emocionante e desafiadora na jornada de um maçom, com objetivos principais de autoconhecimento, aprendizado dos princípios maçônicos e cultivo de habilidades sociais e de liderança, essenciais para o crescimento pessoal e para a formação de um maçom exemplar.

Portanto, o Aprendiz Maçom é essencial para a continuidade e a vitalidade da Maçonaria, pois é através de seu desenvolvimento e aprimoramento que a ordem perpetua seus valores e ideais ao longo do tempo.

TFA

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ÁGAPE DO SOLSTÍCIO DE INVERNO NO HEMISFÉRIO SUL

ÁGAPE DO SOLSTÍCIO DE INVERNO NO HEMISFÉRIO SUL

LuCaS

Introdução

Ontem, noite de 21 de Junho de 2024, tive a honra de, mais uma vez, participar de uma sessão ritualística em comemoração ao Solstício de inverno do nosso hemisfério, a qual foi presidida pelo nosso Irmão Carlos Porto, Venerável Mestre da Augusta, Benemérita e Benfeitora Loja Simbólica “Regeneração Campinense 02”, Oriente de Campina Grande - PB, coadjuvado pelos Irmãos Ivan Lucena, 1º Vigilante e Paulo Gervany, 2º Vigilante; presentes, ainda, Mestres Instalados, Mestres, Companheiros e Aprendizes, além de Irmãos visitantes de Lojas coirmãs e Obediências com as quais a GLEPB mantém Tratados de Paz e Amizade.

Pois bem, a celebração do solstício de inverno pelos maçons no hemisfério sul é um evento de grande significado simbólico e espiritual. Tradicionalmente, nós maçons realizamos “ágapes solsticiais” durante o solstício, que são encontros fraternais para compartilhar, agradecer e unir energias em prol do bem maior e da ajuda à humanidade.

Essas celebrações não são apenas reuniões para comer ou beber, mas momentos de reflexão e renovação espiritual. No templo maçônico, as datas solsticiais são representadas por um símbolo especial, que é o círculo entre paralelas verticais e tangenciais, símbolo esse que está caindo no esquecimento, lamentavelmente.

Além disso, para os maçons e Civilizações Antigas, o solstício de inverno simboliza a vitória da Luz (Sol) sobre a Escuridão, e na maçonaria está associado às lições de São João, tanto Batista quanto Evangelista, enfatizando a reprovação do vício e a prática do amor fraternal.

A celebração dos solstícios e equinócios pela Maçonaria remonta a tradições esotéricas e iniciáticas antigas, que celebram o magnífico ciclo da vida e as mudanças das estações. Essas práticas são vistas como uma continuação das tradições culturais e espirituais que têm suas raízes em civilizações antigas, como os celtas e os egípcios.

Portanto, o solstício de inverno é uma época de celebração e reflexão para os maçons, marcando um tempo de renascimento e renovação espiritual.

A Celebração se fazia com um ágape:

Ágape era uma refeição que os antigos (primitivos) cristãos faziam em comum. Eles reuniam-se em torno de uma mesa disposta em formato de ferradura, pois para eles esta disposição transmitia a ideia de imagem do céu nas suas épocas solares.

Assim, a reunião de mesa tinha o cunho ritualístico religioso. Era o Kidush dos hebreus.

O Kidush (da raiz hebraica kodesh = sagrado significa “santificação, sagração” e era realizado na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do shabat (sábado), para realçar a santificação do dia.

A última ceia de Jesus com os apóstolos foi um Kidush, que precedeu à Pêssach (Páscoa).

A realização de Kidush, muito comum entre os essênios, deu origem à eucaristia, haja vista que a Igreja herdou muitas das práticas hebraico- judaicas. Assim, a Liturgia Eucarística da Missa é uma das partes em que a influência hebraica mais se manifesta. A Oração Eucarística é considerada o ponto central da ação de graças e consagração em que se revive a última Ceia de Jesus, quando, lançando as bênçãos sobre o pão e o vinho, ele os distribui entre os convivas; depois da devida preparação, realiza-se a Comunhão entre os fiéis, que se reveste do recebimento do corpo e do sangue do Cristo, como alimento espiritual.

Também, entre os demais povos da antiguidade, os banquetes eram frequentes. Qualquer evento extraordinário se transformava em motivação para que uma família, uma associação ou um grupo social se reunisse, para comemorar ao redor de uma mesa.

Além dos hebreus, que demonstravam particular prazer com as suas festividades, os egípcios e os gregos as celebravam, com singular recolhimento de convidar os deuses para os seus banquetes sagrados. De igual forma, os romanos não se esqueciam de convidar os Deuses festins, colocando-os em leitos que circundavam as mesas guarnecidas com iguarias.

Os Maçons, coparticipando dos banquetes primitivos, mantiveram as tradições antigas, realizando um belo culto ao simbolismo nos seus dias festivos.

Atualmente, o que é de conhecimento geral é que as festas de São João Baptista, 21 a 24 de Junho – solstício de Inverno, no nosso hemisfério – e de São João Evangelista, em dezembro – solstício de Verão, – são celebradas pelos Maçons com Sessões Especiais.

Como não se sabe a qual São João grande parte da Maçonaria honra como padroeiro, os dois são aceitos como tal. Mas, a maioria dos autores destaca São João Baptista como o verdadeiro padroeiro, por ter sido ele tomado como patrono pelos membros das sociedades de construtores romanos – os “collegiati” – convertidos ao cristianismo, e ainda pelo fato de os colégios de arquitetos celebrarem, assim como os povos da antiguidade, naquele hemisfério (Norte), o solstício de Verão. Esta tese foi reforçada pela fundação da primeira Obediência Maçônica do mundo – a Premier Grand Lodge – a 24 de Junho de 1717.

Loja de mesa

Procedimentos de uma Loja de Mesa:

De maneira geral, o Banquete Ritualístico deve ser realizado nos edifícios maçônicos, em salas apropriadas. Pode, todavia, ter lugar em qualquer outro edifício, contanto que tudo esteja disposto de maneira que, de fora, nada se possa ver e ouvir; isso significa que o Banquete Ritualístico deve estar a coberto dos olhos profanos, já que se trata de uma sessão ritualística.

Como dito, o Banquete Ritualístico, antigo costume maçônico, deveria ser realizado pelo menos uma vez por ano, de preferência no solstício de Inverno (no hemisfério Sul), ou de Verão (no hemisfério Norte).

O solstício de Inverno, no nosso hemisfério, ocorre a 21 de Junho, que é, então, a época mais propícia para o Banquete Ritualístico, embora muitas Oficinas o realizem no dia 24 de Junho, aproveitando o solstício e homenageando o padroeiro de muitos ritos maçônicos, São João, o Baptista.

Tudo o que é usado no Banquete Ritualístico tem um nome simbólico, ligado à arte de construir, aos materiais de construção e aos instrumentos necessários ao trabalho de edificação, são seguintes os nomes simbólicos:

·         Água: Pólvora branca ou fraca;

·         Sal: Areia branca;

·         Copos: Armas, ou Canhões;

·         Beber à saúde: Fazer fogo;

·         Cerveja ou Cidra: Pólvora amarela;

·         Cadeiras: Mochos;

·         Café: Pólvora preta;

·         Colher: Trolha;

·         Comer: Mastigar;

·         Comida em geral: Materiais;

·         Colocar líquido no copo: Carregar;

·         Faca: Alfange;

·         Garfo: Espeque;

·         Garrafa: Barrica;

·         Guardanapo: Bandeira;

·         Licor: Pó fulminante;

·         Luzes: Estrelas;

·         Mesa: Oficina;

·         Pão: Pedra bruta;

·         Pimenta: Cimento ou saibro;

·         Prato: Telha;

·         Travessa (prato): Bandeja;

·         Sal: Areia branca;

·         Toalha: Véu;

·         Trinchar: Desbastar;

·         Vinho: Pólvora vermelha ou forte.

 Arquitetura de uma Loja de Mesa:

A mesa do banquete é disposta em forma de ferradura, com as extremidades correspondendo ao Ocidente e a cabeceira (mesa de honra), ao Oriente.

O Venerável Mestre ocupa o centro da parte da mesa que constitui o Oriente, tendo, à sua esquerda, os Mestres Instalados e, se for o caso, o Venerável de Honra, e, à sua direita, as Dignidades do Simbolismo, presentes à sessão.

Os demais Oficiais e Dignidades, colocam-se como em Loja, ou seja: O Orador e o Secretário colocam-se nas extremidades da mesa de honra, frente a frente; ao lado deles, colocam-se o Chanceler e o Tesoureiro, tendo, junto a si, o Hospitaleiro; o 2° Vigilante senta-se na metade do lado Sul, ou na extremidade ocidental, ou sudoeste, da mesa (da ferradura); na metade da mesa do lado Norte, coloca-se o Experto; o 1° Vigilante ocupa a extremidade noroeste da mesa, variando a posição, conforme o rito (inversão dos lugares dos Vigilantes, Orador, Secretário, etc.); o Mestre de Cerimónias fica próximo à extremidade, ao Norte, junto ao 1° Vigilante e à disposição deste; finalmente, o Cobridor fica na extremidade sudoeste, de frente para o Oriente (se ali estiver o 2° Vigilante, ficará ao lado dele).

Os demais obreiros colocam-se à vontade, em torno da mesa, sempre na parte externa da ferradura, com Aprendizes e Companheiros ocupando o mesmo local que lhes compete nos templos. Se o espaço na parte externa não for suficiente, admite-se a ocupação de alguns lugares na parte interna.

Na mesa deve ter uma fita estreita, azul ou encarnada, conforme o Rito, indicativa do alinhamento das armas.

Na parte interna da mesa, sobre um pedestal colocado junto à mesa de honra, à frente do Venerável Mestre, estarão as Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria (o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso), dispostas no grau de Aprendiz Maçom. Isso é fundamental, pois não pode haver sessão ritualística sem a presença das Três Grandes Luzes Emblemáticas.

Sobre a mesa de honra, diante do Venerável, estará um candelabro de sete braços (o menorá hebraico), um pedaço de pão e um copo de vinho tinto; à frente do 1° Vigilante, estará um candelabro de cinco braços e, à frente do 2° Vigilante, um candelabro de três braços. A presença do pão e do vinho é uma lembrança do ritual hebraico de kidush, incrementado pelos essênios.

Todos os participantes da Loja de Mesa estarão paramentados e as Dignidades e Oficiais usarão as joias dos seus cargos. Algumas Obediências costumam recomendar que não sejam usados os aventais, pois eles seriam reservados para os trabalhos da Loja no templo; isto, todavia, não é correto, pois, em qualquer sessão ritualística, o Maçom deve portar o seu avental, sem o qual será considerado como se estivesse nu.

As Saudações Obrigatórias, Saúde ou Brindes:

Há em todo banquete ritualístico, sete brindes obrigatórios, que são os seguintes:

1º. Ao Chefe da Nação e a sua família;

2º. À Sereníssima Grande Loja, a seu Grão Mestre e sua família;

3º. Ao Venerável Mestre da Loja e sua família;

4º. Aos Vigilantes da Loja e suas famílias;

5º. Aos Irmãos visitantes e Lojas Coirmãs;

6º. Aos Oficiais, demais membros da Loja e novos Iniciados;

7º. A todos os Maçons espalhados pelo Universo.

 Conclusão

A Loja de Mesa ou Banquete Ritualístico reveste-se de uma cerimônia sagrada, que deveria ser praticada pelas Lojas, anualmente, com toda solenidade, nas duas grandes festas tradicionais e, eminentemente simbólicas, que são as chamadas Festas Solsticiais ou de São João. Nestas festas são celebrados os Banquetes Fraternais.

Algumas Lojas realizam, anualmente, o Banquete Ritualístico, por ocasião da data da sua fundação.

O Banquete Ritualístico tem reminiscências antiquíssimas – Ceia dos Apóstolos, Ceia Pascoal dos Judeus e os Ágapes do Amor dos Cristãos – razão pela qual deve se revestir da maior seriedade. Não é uma brincadeira. É uma comunhão fraternal, razão pela qual é realizado longe das vistas profanas, portanto, deve ser evitado o excesso de bebida e de comida. Infelizmente, em algumas ocasiões, tem-se presenciado, neste tipo de Ágape Sagrado, mera festa de comilança.

O Banquete Ritualístico é um momento de confraternização, que é exercer uma confraternidade, em nome de todos os Maçons do orbe terrestre, de salientar os laços que unem os Irmãos dessa Ordem Universal. Neste momento deve-se estar conectado com o Grande Arquiteto do Universo, entendendo que, no momento dessa confraternização, dever-se-ia estar recebendo o mesmo alimento espiritual, alimento propiciador de uma ligação espiritual forte, mantenedora de um laço invisível e inquebrantável, que deve estar isento de qualquer mácula, pois advém de seres Iniciados.

Bibliografia

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 2a. Edição. Rio de Janeiro. Editora Aurora, 1991.

CARVALHO, Assis. Cadernos de Estudos Maçônicos – Cargos em Loja Nº 1. 3a Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 1988.

CASTELLANI, José. Cadernos de Estudos Maçônicos – Consultório Maçônico II. 1a Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 1989.

______________. Dicionário de Termos Maçônicos. 1a. Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 1989.

_______________. Loja de Mesa. 1a. Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 2004.

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. 2a. Edição. São Paulo. Editora Pensamento, 1974.

GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA. Coletânea de Ritualísticas Especiais. Ritual dos Trabalhos de Banquete. Aprovado pelo Decreto Nº 016/95-97. João Pessoa - PB. 1996.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

O TEÍSMO, O DEÍSMO E O AGNOSTICISMO NA MAÇONARIA

 O TEÍSMO, O DEÍSMO E O AGNOSTICISMO NA MAÇONARIA

 INTRODUÇÃO

Na época da Maçonaria Operativa, não havia discussões na Europa. Era-se cristão ou judeu e ponto final. A religião entrava na vida de cada indivíduo, não através de uma busca racional, mas como uma caraterística essencial. E a religião era o que os responsáveis da Igreja diziam que era. Analisar questões teológicas era encargo de muito poucos dentre os pouquíssimos que sabiam ler e escrever. A grande massa dos Povos tinha a religião do Estado onde se encontrava ou do senhor a quem servia. Não era, sequer, uma questão de escolha. Era de sobrevivência, literalmente falando. Não se punha, pois, a questão de se ser deísta, teísta ou gnóstico. O conceito de deísmo nem sequer existia. Todos eram teístas, porque todos eram crentes. E quem não fosse, calava e fingia sê-lo, se queria continuar integrado na sociedade, vivo e de boa saúde.

Na Europa de então, opções religiosas haviam duas: o cristianismo (primeiro apenas sob a batuta do papa de Roma; depois, com a Reforma, com dois grandes campos de escolha: o catolicismo ou, com diversas variantes, o que se convencionou chamar de protestantismo) e o judaísmo, sendo o catolicismo amplamente maioritário.

Todos os maçons eram, por definição, crentes. E cristãos. A Maçonaria Operativa, como instituição eminentemente profissional, não destoava do resto das instituições existentes. E todos eram teístas. Nem se concebia que pudesse ser diferente!

O tempo e a evolução social, porém, vieram a alterar esta situação.

A partir de finais do século XVI, inícios do século XVII, gradualmente as Lojas maçônicas operativas começaram a admitir elementos não integrantes da profissão de construtores em pedra. Foram senhores que mandavam construir igrejas e contratavam e pagavam, para esse efeito, os oficiais construtores, exercendo sobre estes manifesta influência econômica, que demonstravam interesse em compartilhar dos segredos da Arte Real da construção, foram influentes cavalheiros ou nobres que assumiam o papel de protetores das corporações de maçons, enfim, pouco a pouco foram sendo Aceitos indivíduos não construtores nas Lojas. E as Lojas passaram a ser locais de congregação de maçons livres e aceitos. Maçons livres, os oficiais construtores que não dependiam de senhores, que eram livres de trabalhar e exercer o seu ofício onde quisessem e pudessem. Maçons aceitos, aqueles que, não sendo oficiais construtores, tinham sido aceitos no seio das Lojas.

Os maçons aceitos eram mais letrados do que os maçons livres. Uma vez inteirados dos segredos da arte de construir - particularmente as técnicas ancestrais aplicando princípios geométricos -, tinham a vantagem competitiva da sua maior instrução, do seu mais profundo e alargado conhecimento, da sua maior influência social. Pouco a pouco, os maçons aceitos foram se sobrepondo aos maçons livres, quer em número, quer na condução dos destinos das Lojas, quer na escolha dos trabalhos de Loja, dos ensinamentos a transmitir em Loja. E, ao longo de pouco mais de um século, a Maçonaria transformou-se de Operativa em Especulativa, de simples agremiação de construtores em instituição de discussão livre, de especulação filosófica, de aperfeiçoamento moral e não apenas de mera aprendizagem profissional.

Paralelamente, vivem-se os tempos do Iluminismo, da emergência do racionalismo, da popularização das ideias de Kant, de Locke, e muitos outros. A "Royal Society", sociedade dedicada ao avanço e divulgação das ciências é constituída e muitos dos seus fundadores e elementos impulsionadores são maçons aceitos.

Por outro lado, viveram-se e ainda estão bem inseridos na memória coletiva britânica tempos de profundos e dolorosos conflitos políticos e religiosos. "Stuarts" contra "Oranges" e depois "Hanovers", católicos contra anglicanos, jacobinos contra realistas. Viveram-se na Grã-Bretanha tempos revolucionários, lutas ferozes e sangrentas, prisões e decapitações, que em nada ficaram a dever à mais famosa das Revoluções, a Revolução Francesa. De tudo isto, acabou por resultar o fim do Estado Confessional, a aceitação, primeiro tímida, depois crescentemente consensual, da Liberdade de Religião. O Homem podia já pensar sobre os fundamentos da sua crença. E o fez.

A postura de cada um em face do Divino já não dependia exclusivamente da aceitação da Revelação das Escrituras e dos ensinamentos dos profetas e ministros religiosos. Kant indicou o caminho, os acontecimentos romperam o dique e muitos foram progressivamente percorrendo a vereda da descoberta do divino através da Razão. Já não havia apenas o caminho exclusivo da Fé para a Crença. Outro também se abriu, o caminho da Razão. Já não havia só teísmo, também apareceu e autonomizou-se o deísmo.

Através do seu desassossego intelectual, os maçons aceitos não se limitaram a "colonizar" a Maçonaria Operativa e a transformá-la em Maçonaria Especulativa. Também, na Maçonaria introduziram os princípios e o conceito do deísmo. Sobre uma pré-existente Maçonaria teísta construíram uma Maçonaria deísta.

A ORIGEM

Embora esse tema não seja de fato muito recente (primeiro quartil do século XVIII), pois ele teve início com a primeira edição do Livro das Constituições do reverendo James Anderson, aprovadas e publicada em 1723, quando ele afirma que:

"Sobre Deus e Religião.

Um maçom é obrigado por seu mandato a obedecer à lei moral; e se ele compreender corretamente a Arte, ele nunca será um Ateu estúpido, nem um Libertino irreligioso. Mas, embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados ​​em todos os países de serem da religião daquele país ou nação, qualquer que fosse, ainda assim, considerou-se mais conveniente apenas obrigá-los a essa religião com a qual todos os homens concordam, deixando suas opiniões particulares para eles mesmos; isto é, serem homens bons e verdadeiros, ou homens de honra e honestidade, por quaisquer denominações ou persuasões que possam ser distinguidos; por meio do qual a Maçonaria se torna o Centro da União, e os meios de conciliar a verdadeira Amizade entre Pessoas que de outra forma deveriam ter permanecido a uma Distância perpétua". (Livre tradução do Original).

E isto quer dizer que ele deve ser um homem bom e verdadeiro; ou um homem de honestidade; mas qualquer que seja a denominação (da religião) ou crença pela qual ele possa se distinguir, onde quer que esteja; e que a Maçonaria possa ser o centro de união, e o meio pelo qual se possa conseguir a verdadeira amizade entre todas as pessoas isto é, que as opiniões individuais, religiosas e políticas, nunca devem ser ventiladas.

Desta forma, vê-se nessa obrigação da primeira Constituição que já se delineava a absoluta liberdade de consciência, de pensamento e de religião. E isso é Deísmo, ou seja, os primeiros germes do deísmo, na Maçonaria. Dando uma pequena abertura para que os maçons de todas as crenças (judeus, maometanos, budistas, brâmanes etc.), tivessem a possibilidade de se unirem pelos laços da verdadeira amizade, que são os princípios da Maçonaria excluindo, é claro, os ateus estúpidos e os libertinos irreligiosos.

Todavia, foi somente na segunda metade do século XX, que alguns membros efetivos, da mais antiga e mais completa Loja de Pesquisas Maçônicas a "Quatuor Coronati", de Londres, começaram a pesquisar e estudar esse tema. Não sem encontrar algumas resistências entre seus pares, especialmente, aqueles mais ortodoxos com relação às suas teses.

Isso se verifica quando o irmão J. R. Clarke, em março de 1965, apresentou na Loja, um trabalho intitulado "The Change From Christianity to Deism in Freemasonry" (A Mudança do Cristianismo para o Deísmo na Maçonaria).

Esse trabalho, longo e muito bem elaborado, também muito documentado, foi a pedra de toque, para a abertura dos debates e de novos estudos.

O irmão E. Ward companheiro de pesquisas de Clarke apresentou o seguinte trabalho, intitulado "Andersons Freemasonry Not Deistic"; (A Maçonaria não Deística de Anderson), para contestar algumas opiniões de Clarke, mas o assunto não morreu ali. Em 1974, sete anos após, quando a poeira já tinha abaixado, o irmão R. A. Wells, também da Quatuor Coronati, apresenta um trabalho, aparentemente desvinculado do assunto, intitulado: "George Claret Ritual Printer" (George Claret Impressor de Ritual), onde no desenrolar do trabalho, ele aborda o tema do teísmo e deísmo, na Maçonaria inglesa.

Quando se pensava que o tema estava esquecido, eis que em 1984, após se passarem dez anos, o irmão N. B. Cryer, volta à carga, com um trabalho contundente "The Dechristianization of the Craft"; (A Descristianização da Ordem). Esse trabalho reacende o debate e os estudos sobre o porquê, a causa dessa descristianização. Três anos depois, 1987, o irmão Michel L. Bradsky, também Membro da "Quatuor Coronati", escreve um bem alicerçado artigo, intitulado:

"Why was the Craft Dechristianized?" (Por que a Ordem foi Descristianizada?)

E dentro dessa interrogação vem toda uma gama de esclarecimentos.

Apontando dois dos mais respeitáveis irmãos o reverendo James Anderson e o reverendo John Teófilo Desaguliers, como autores dessa tese, com a finalidade de universalizar a Maçonaria, recém organizada os defensores dessa tese vão buscar evidências e provas para robustecer seus argumentos.

O JUDAÍSMO E A MAÇONARIA

No ano de 1290, na Inglaterra, após muitos atritos com os judeus, o rei Eduardo I, através de um Édito, baniu os judeus, de todo o território inglês, ou seja, das Ilhas Britânicas. E com os judeus foram banidos, também, seus Livros Sagrados, seus costumes aquele conjunto de leis, costumes e tradições conhecidas como o Velho Testamento e, especialmente a Torá.

Aquilo que os judeus não levaram com eles, os monges beneditinos recolheram para a parte interior de seus conventos. Portanto, quando a Maçonaria Documental nasceu, e ela nasceu na Grã-Bretanha, predominava então somente os evangelhos de Cristo isto é, o cristianismo. Daí pode-se afirmar que a Maçonaria nasceu cristã, se estruturou, progrediu e atravessou os séculos XIV, XV, XVI, XVII, e XVIII, dentro e à sombra do cristianismo, ou das igrejas cristãs. Até a metade do século XVI, sob a proteção da igreja católica e daí por diante, das igrejas católica e anglicana, esta, fundada pelo rei Inglês, Henrique VIII. E somente a partir de 1760 é que o Édito de Eduardo I foi revogado.

É bem verdade que não foi somente após essa data que os judeus retornaram à Grã-Bretanha. Alguns anos antes, isso já acontecia. Os judeus sefarditas (judeus que viviam na Espanha), tinham entrado na Grã-Bretanha, mas disfarçados de cristãos novos, pois desde o massacre iniciado em 1391, um grande número de judeus escapou da morte, abraçando uma nova religião – isto é, aceitando o batismo cristão, embora continuassem praticando, em segredo, sua velha e querida religião judaica. Mas para efeito de proteger a própria vida e a da família, passaram a frequentar as missas e os cultos cristãos.

Quando em 1492, com a queda de Granada, os judeus foram expulsos de toda a Península Ibérica, eles foram disseminados por toda a Europa especialmente na Inglaterra, França, Países Baixos e América.

Os judeus começaram a ingressar na Maçonaria Simbólica, pouco tempo depois da criação da Grande Loja de Londres, em 1717. As Reformas introduzidas pelos dirigentes deístas da Maçonaria daqueles tempos estão refletidas na Constituição de Anderson, onde a fé no cristianismo deixa de ser uma das condições para ser admitido na Ordem (se bem que, a intenção não era, precisamente, estender a tolerância religiosa a outras religiões, senão, permitir, somente a católicos e protestantes, conviverem em paz), abrir as portas da Maçonaria pelo menos em teoria a judeus e muçulmanos, entre outros.

Não deve surpreender-se que a primeira menção que existe de um judeu maçom, data de 1716, e refere-se a um sefardita inglês:

"Francis Francia", também conhecido como um judeu jacobita" (os jacobitas eram seguidores de Jaime II, da Inglaterra, que se havia convertido ao catolicismo), que fora exonerado de seu cargo sob a acusação de traição.

Francis Francia era um judeu sefardita, isto é, um judeu que adotara o cristianismo, pelo menos de fachada, para evitar perseguições, como acontecia com tantos outros.

Em 1732, outro judeu, Edward Rose, foi iniciado em uma Loja presidida por Daniel Delvalle, de origem claramente judia.

O que fica claro, todavia, é que antes de 1716, nenhum judeu pertenceu à Maçonaria. E que o primeiro judeu, sem sombra de dúvida, só foi iniciado na Maçonaria, em 1732. Outros houveram nesse ínterim, mas que estavam disfarçados de cristãos.

E por essa época a colônia judaica que vivia na Grã-Bretanha era tão pequena, que era facilmente reconhecida e conhecida.

À primeira menção da presença de alguns judeus nas províncias de Birmingham, data de 1718, embora nenhuma comunidade judaica fosse fundada até 1730. Em Cambridge, só foi registrada, a partir de 1732; outra comunidade foi criada em Exeter, em 1735; em Bath, em 1736; em Plimouth, em 1740 e em Swansea, em 1741.

Todavia, a soma dos judeus em todas essas comunidades era muito pequena, com exceção de Birmingham, que possuía em 1847, 679 Membros, as demais comunidades não iam além de 200 Membros. Isso em 1847, mais de um século após a fundação da primeira comunidade, a de Birmingham (1718).

Quando algum irmão quer dar à Maçonaria uma origem judaica ou ele está enganado ou está querendo enganar você.

Partimos da premissa de que os judeus só começaram a entrar para a Maçonaria, após a criação do Grau 3, que ocorreu por volta do ano de 1725, a partir do Livro da Constituição do Reverendo James Anderson; muito especialmente a partir da I Obrigação, àquela que se referia a Deus e à Religião.

CONCERNENTE A DEUS E À RELIGIÃO

Um maçom fica obrigado por ocasião de sua Iniciação, a obedecer as Leis Morais, e, se ele entender corretamente a Arte, ele nunca será um ateu estúpido, e nem tampouco um libertino irreligioso. Porque desde os tempos imemoriais os maçons eram obrigados, em todos os países, a seguirem a religião da maioria, de seu país de origem, qualquer que ela fosse; mas, atualmente, o maçom só é obrigado a ter aquela religião em que todos, ou que a maioria concorda, guardando para si, as suas opiniões próprias; isto quer dizer que o maçom deve ser um homem bom e verdadeiro; ou um homem de honra e de honestidade. Mas, qualquer que seja a denominação das crenças, pelas quais ele possa se distinguir onde quer que seja, a Maçonaria dever ser o Centro de União, e os meios pelos quais se possa conseguir a verdadeira amizade entre as pessoas. (Livre tradução do original).

Isso quer dizer que as opiniões individuais religiosas e políticas, nunca devem ser ventiladas, emitidas.

Muitos e profundos estudos foram feitos sobre esse texto que está supra epigrafado, pela 2ª vez, do Livro da Constituição de Anderson.

O irmão E. Ward dá sua interpretação sobre o que seja o deísmo:

TEÍSMO E DEÍSMO

Embora, etimologicamente, teísmo e deísmo tenham uma derivação paralela, deísmo é o nome em contraste a teísmo, dado ao movimento teológico e religioso que se desenvolveu no final do século XVII e a primeira metade do século XVIII, tendo sido suas principais influências, o grande aumento de conhecimento científico do universo.

Para o irmão J. R. Clarke a exemplo do irmão E. Ward, também pertencente aos Quadros da "Quatuor Coronati":

A transição do cristianismo, para o deísmo, como exigência base da Ordem, foi um processo gradual.

O curioso é que o renomado Benjamim Franklin, mesmo antes de ser iniciado na Maçonaria, e sendo um fervoroso membro da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, "concebeu um grande e extenso projeto", para Fundação em Filadélfia, de uma Sociedade Secreta Deística". Isso, todavia, não aconteceu, pois em fevereiro de 1731 ele foi iniciado na Loja "São João", de Filadélfia. Talvez o ambiente e o movimento deísta, que ele encontrou na Ordem, tenha feito com que ele esquecesse seu projeto da "Fundação da Sociedade Secreta Deísta".

Ainda é o irmão Clarke quem diz:

Que possamos nos termos de uma definição de deísmo no contexto deste Trabalho, isto é – "A religião com a qual todos os homens concordam", com particular consideração para a palavra "Todos".

E foi no bojo dos debates entre o deísmo e o teísmo, que foi forjada a Maçonaria que praticamos. Até a união das duas Grandes Lojas Rivais, em 1813, a Maçonaria Inglesa praticava o mesmo Rito, mas com procedimentos distintos. Enquanto a Grande Loja de Londres se afastava cada vez mais do cristianismo paradoxalmente, a Grande Loja dos "Antigos", que tinha como mentor intelectual, Lawrence Dermott, um estudioso do judaísmo e defensor do mesmo, colocando até como título da Constituição, compilada por ele uma expressão hebraica "Ahiman Rezon" segundo alguns autores, significando "Conselho dado aos irmãos", para outros "Irmãos selecionados", ou "Irmãos escolhidos", ou, ainda, um "Auxílio para os irmãos".

O que é significativo é que Lawrence Dermott, em seu Livro Ahiman Rezon, colocou como obrigação para as cerimônias das Lojas de sua jurisdição duas orações uma cristã e outra hebraica, que deveriam ser recitadas na cerimônia de iniciação de um novo maçom. A oração cristã está plena da Santíssima Trindade. Ela começava assim:

Dote-os (os novos Maçons), com a competência da sua Divina Sabedoria para que eles possam, com os Segredos da Maçonaria, ser capazes de entender os Mistérios da Santidade do Cristianismo”.

Já a oração hebraica era bem explícita e podia ser usada pelos maçons judeus:

Oh! Senhor, excelente artista, Tu, na tua verdade, nada há tão grande para comparar-se a Ti...”.

Alguns autores afirmam que foi Dermott quem introduziu o Salmo 133, na Maçonaria, especialmente na abertura da Loja de Aprendiz. Não temos evidências documentadas para duvidar de tais afirmações, tão pouco para corroborar. Sabe-se, Entretanto,  que de toda documentação que se tem sobre o assunto, de 1751 a 1813, ano da União das Duas Grandes Lojas Rivais, em nenhuma das pesquisas da "Quatuor Coronati", de 1965 até o momento, o Salmo 133 é citado, só o Evangelho de São João é mencionado..

Os motivos apresentados para a fundação da Segunda Grande Loja (a dos Antigos) em oposição à primeira (dos Modernos) de Londres, foram:

I - Preparar os candidatos incorretamente;

II - Abreviar as cerimônias:

III - Omitir as leituras;

IV - Omitir as leituras das mudanças, iniciadas pelos antigos;

V - Omitir as súplicas;

VI - Alterar a ordem dos Sinais e Palavras de Reconhecimento dos 2º e 3º Graus;

VII - Usar uma palavra incorreta no Grau de Mestre;

VIII - Incluir a garra, as palavras de ingresso, na cerimônia atual (1751), ao invés de usá-los preliminarmente;

IX - Descristianizar o ritual;

X - Ignorar os dias santos, especialmente o Dia de São João, o Batista (24 de junho) e São João, o Evangelista (27 de dezembro);

XI - A classificação incorreta de suas Lojas;

XII - Não ter Diáconos como Oficiais de suas Lojas; e

XIII - Negligenciar a cerimônia de exaltação a Mestre.

Então eles fundaram uma Grande Loja (a dos Antigos), para corrigir essa "falha", e praticar a forma "verdadeira" da Maçonaria. 

O CRISTIANISMO NA MAÇONARIA

A "Maçonaria" foi 100% cristã até o final do século XVIII. Desde o seu surgimento documental, 2 de fevereiro de 1356 até início do século XVIII, toda a documentação que se possui, especialmente relacionada com os catecismos predecessores dos rituais são puramente cristãos.

O "Poema Régio", datado de 1390, fala sobre um juramento prestado sobre um livro, pelo ingressante. Esse livro se acreditava que fosse a bíblia. Só que por essa época, a bíblia não era nem lida e nem tocada por indivíduos que não pertencessem a alguma Ordem Monástica. E era manuscrita em latim. De difícil leitura para um pobre trabalhador da pedra, em sua maioria analfabeto isento de cultura.

O juramento não era prestado somente pelos pedreiros – maçons – operativos. Todas as demais profissões e suas guildas, a dos alfaiates, dos tecelões, dos sapateiros, dos carpinteiros, dos açougueiros, dos tingidores de tecidos, dos assentadores de tijolos etc. E os juramentos, como se verifica em todas as tradições, eram prestados sobre um livro.

Exemplos não faltam nos antigos catecismos, dos antigos Manuscritos.

Nos Manuscritos dos arquivos da Grande Loja, datados de 1583, o "Devonshire" de 1685, e o do rei George de 1726, abriam suas orações, com estas palavras:

"O Poder do Pai do Céu abençoado, sabedoria do filho glorioso, com a bondade do Espírito Santo, três pessoas em um único Deus...".

Essa mentalidade Cristã documentada atinge uma marca de quase 150 anos. O que não deixa de ser um ponto de apoio para afirmar-se que a Maçonaria era puramente cristã, e, portanto, Teísta.

Vejamos pois:

Em um Manuscrito denominado de Sloane, encontra-se isto:

Pergunta: Como era chamada, no início, sua Loja?

Resposta: Uma capela consagrada a São João.

Alex Horne cita o Manuscrito de Dunfries nº 4, que tinha em seu catecismo estas perguntas:

Pergunta: Em qual Loja você ingressou?

Resposta: Numa verdadeira Loja de São João, Justa e Perfeita.

O reverendo N. Barker Cryer nos diz o seguinte, em seu trabalho:

“Eu já tinha chamado a atenção para o fato de que ele (São João) era um dos Evangelhos do maçom medieval, onde era, frequentemente, tomado suas "Obrigações" ou juramentos”.

E o irmão Alex Horne enfatiza isso como quando a bíblia era usada:

"O uso de abrir a bíblia no Evangelho de São João, é um costume maçônico, que vem lá de trás, do início da Maçonaria Especulativa, no mínimo...".

Numerosas citações em História de Lojas Antigas, nas quais se abria a Bíblia automaticamente, no Capítulo 1º, do Evangelho de São João...

Vejamos mais alguns fatos interessantes:

1. O número 3. Na Maçonaria Primitiva esse número não era cabalista. A Cabala só veio para a Maçonaria depois de 1730. Esse número representava simplesmente Pai, Filho e Espírito Santo. Aí estavam as três faces do Triângulo.

2. O número 5. Simbolizava apenas as cinco fases da vida de Cristo isto é:  Nascimento, Vida, Morte, Ressurreição e Ascensão. Nada cabalístico, também, como desejam alguns Irmãos.

3. Estrela de Cinco Pontas simbolizava a Estrela Brilhante (Flamejante), que guiara os três reis Magos. Só depois é que os Pitagóricos a desbancaram e, mais tarde, a Blazing Star Judaica desbancou, ou tentou desbancar a Pitagórica.

4. O Número 13. Simbolizava o Cristo e seus 12 Apóstolos;

5. O peito esquerdo desnudo homenagem a São João Batista, que usava uma pele de animal, presa ao ombro direito, com o ombro e peito esquerdo desnudo;

6. Joelhos nus ainda em homenagem a São João Batista, cuja roupa de pele não lhe cobria os joelhos.

7. A retirada de todos os metais era para evitar que alguns Judas com suas "moedas sujas" de sangue ingressassem na Ordem.

8. O círculo, com duas paralelas, um ponto no centro e um livro entre as duas paralelas, e sobre o círculo. João Batista o precursor da Luz, da verdade. João Evangelista o continuador e propagador das Obras e Ensinamentos de Cristo. Depois de 1750, alguém alterou o nome das paralelas, dando-Ihes os nomes de Moisés e Salomão. Moisés o mentor e Codificador da Religião Hebraica. Salomão o unificador do povo Judeu.

Pelo que se pode observar, o cristianismo não foi de todo banido de nossos rituais. A descristianização não atingiu todos os seus objetivos.

O JUDAÍSMO NA MAÇONARIA

Até 12 de maio de 1725, quando foi criado o Grau de Mestre, e com ele a Criação da Lenda de Hiran, não havia judaísmo na Maçonaria, a não ser algumas poucas passagens lendárias como as lendas, noaquitas, enokianas, babilônicas, lamekianas etc.

A ideia chave dos Irmãos James Anderson e João Teófilo Desaguliers (dois Líderes Evangélicos de Londres), era trazer para os quadros da Maçonaria hebreus, maometanos, budistas etc. Mas o efeito não foi o desejado. Somente o hebraísmo trouxe para a Maçonaria uma gama de lendas, palavras e símbolos. O que não aconteceu nem com os budistas e nem com os maometanos.

O primeiro judeu iniciado na Maçonaria foi Edward Rose, numa Loja de Londres em 1732. Daí por diante, é que todo esse Acervo de símbolos, lendas, palavras, ingressaram na Maçonaria, especialmente nos altos graus, advindos após 1750. E com eles, devido à proximidade, o egipcianismo, pirâmides, colunas, decorações de templos etc.

A REGULARIDADE MAÇONICA E A CRENÇA EM DEUS

Na Proclamação de Estrasburgo, o Grande Oriente de França (GOdF) e o Grande Oriente da Bélgica, embora suavizando a sua posição relativa à crença em Deus e em sua revelação, mantêm vivos os princípios que levaram estas duas Potências à “SUMMA DIVISIO” ocorrida em 1877, que separou em definitivo a nossa Ordem em duas: uma "regular", e outra "irregular". Uma, que mantém o dogma da crença no Grande Arquiteto do Universo e outra que, em nome da Constituição de Anderson, aceita em suas Lojas até ateus e irreligiosos.

Mais uma vez, recapitulando, em seu artigo primeiro, agora, subdividido em dois parágrafos, a Constituição de Anderson diz:

“Um maçom é obrigado a obedecer à lei moral; e se ele bem entender da arte, jamais será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso...."

..."Posto que nos tempos antigos os maçons tivessem a obrigação de seguir a religião do próprio país ou nação, qualquer que ela fosse, presentemente julgou-se mais conveniente obrigá-los a praticar a religião em que todos os homens estão de acordo, deixando-lhes plena liberdade às convicções particulares. Essa religião consiste em serem bons, sinceros, honrados, de modo que possam ser diferenciados dos outros. Por este motivo, a Maçonaria é considerada como o CENTRO DE UNIÃO e faculta os meios de se estabelecer leal amizade entre pessoas que sem ela não se conheceriam".

É a este Artigo da Constituição de 1723 que franceses, belgas e simpatizantes se agarram para continuarem praticando a sua Maçonaria particular e "irregular".

O que acontece é que eles se apegam ao segundo parágrafo da Constituição de Anderson e esquecem totalmente do que diz no primeiro parágrafo, isto é: o maçom não pode ser nem ateu, nem irreligioso.

Baseiam-se no segundo parágrafo, que também não os ajuda. Senão vejamos:

"Nos tempos antigos, os maçons tinham a obrigação de seguir a religião de seu país ou nação". No ocidente, esta religião era cristã: católica, anglicana ou protestante. Todas estas versões do cristianismo têm como dogma a crença em Deus.

O que acontece é que desde o final do sec. XVIII e, sobretudo, no começo do sec. XIX, por influência dos filósofos iluministas houve uma natural tendência para o ateísmo: "Do cristianismo ao deísmo, do deísmo à neutralidade simpática, da neutralidade simpática à neutralidade hostil, da neutralidade hostil ao laicismo, do laicismo ao ateísmo declarado". Foi justamente esta escalada descendente o que aconteceu em algumas Potências maçônicas da Europa e da América Latina, no séc. XIX, sobretudo no Grande Oriente de França, líder incontestável deste movimento que desembocou na mudança da sua Constituição em 1877. Na realidade, este foi o resultado da ação de uma facção minoritária, mas ativa que, mesmo sendo minoria, conseguiu impor suas ideias à maioria acomodada.

Este processo começou pela infiltração nas Lojas do GOdF das ideias dos Iluminados da Baviera, seguidos dos Filadelfos e dos Carbonários, guiados pelos irreligiosos e ateus, como por exemplo Littré, Proudhon, que eram ateus, e que a partir de determinado momento, conseguiram impor as suas ideias. Proudhon, por exemplo, durante sua iniciação, respondeu assim à pergunta ritualística que lhe fizeram: “Quais são os seus deveres para com Deus”? A sua resposta não deixou margem para dúvidas: “A guerra”. Apesar disso, foi iniciado em 08 de junho de 1847. Estes e outros fatos semelhantes acabaram arrastando o GOdF para fora da Tradição da Ordem, quando eliminou de sua Constituição, em 1877 o seu artigo primeiro que exigia a fé em Deus e na imortalidade da alma.

As Grandes Lojas Unidas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, e todas as demais Obediências a elas aderentes, romperam relações com o GOdF, e estas relações permanecem rompidas até hoje, não tendo sido nunca mais restabelecidas, apesar das várias tentativas do mesmo Grande Oriente de França em restabelecê-las, como por exemplo em 1961, como demonstrado na Declaração de Estrasburgo.

Assim ocorreu o grande CISMA, do qual se originaram duas grandes correntes maçônicas. Tanto numa corrente quanto na outra existem ou existiram maçons cultos, de destaque e de boa vontade: Na corrente do GOdF podemos citar Jacques Miterrand, Gaston Martin, Albert Lantoine, Paul Naudon, etc. À corrente das Grandes Lojas Unidas citam-se Marius Lepage, Alec Mellor, Ernest Van Heck, etc. Cada um deles sempre com fortes argumentos para defender os seus pontos de vista.

A verdade é que em 1877 ocorreu o CISMA, com a introdução da "VOIE SUBSTITUTÉE", isto é, a eliminação oficial de Deus – o “teicídio” – da Constituição do GOdF, em Assembleia Geral dessa Potência, começada em 10 de setembro de 1877, estando presentes 180 delegados das Lojas da Obediência. Na quinta sessão desta Assembleia foi posto na Ordem do Dia o pedido de alteração do art. 1º da Constituição, que suprimia a declaração nela contida de que “a Maçonaria francesa professa como princípio fundamental a crença em Deus e na imortalidade da alma”.

A nova redação do art. 1º da Constituição do GOdF ficou assim:

“A Maçonaria não exclui ninguém por suas crenças. A Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por finalidade a busca da verdade, o estudo da moral universal, das ciências e das artes e o exercício da beneficência. Tem por princípio a liberdade absoluta de consciência e a solidariedade humana. Tem por divisa: liberdade, igualdade, fraternidade”.

O "TEICÍDIO", isto é, a morte da exigência na crença em Deus foi aprovada por dois terços da Assembleia votante. Desse modo, foram eliminados dos rituais do GOdF todas as orações e alusões a Deus, o Grande Arquiteto do Universo. Como consequência imediata, ocorreu o rompimento com a Maçonaria "autêntica", ortodoxa e "universal" que tem a sustentá-la as três Grandes Lojas Unidas da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda e todas as demais Potências que proclamam a crença em Deus.

Aqui no Brasil, o Grande Oriente do Brasil, em 1908, submeteu à apreciação das Lojas a seguinte tese:

“O atual momento histórico exige a simplificação dos rituais, de modo a que domine no interior de todos os templos o princípio da mais larga tolerância, abrigando no meio da Maçonaria os deístas e os ateus, os sectários de quaisquer religiões e os livres-pensadores”.

Esta “tese” não passou de uma tentativa dos adeptos do Rito Moderno ou Francês, o Rito Oficial – e único – do Grande Oriente de França, de seguir os mesmos passos daquela Potência e de suas aderentes de então, principalmente os Grandes Orientes da Bélgica, da Hungria e da Itália.

Todos sabemos o que pensa a grande maioria dos maçons brasileiros a respeito de Deus e da imortalidade da alma.

Este meus Irmãos é o desfecho de uma breve história dos fatos que iniciaram com uma maçonaria Teísta – cristã – passando por uma maçonaria Deísta – crença num Grande Arquiteto do Universo – chegando a uma maçonaria agnóstica, que aceita em seus quadros pessoas irreligiosas e ateus, que racharam a Maçonaria de Anderson, de Desaguilliers (principalmente deste) e de Frederico Desmons. Todos três pastores de igrejas cristãs.

Concluindo

Maçonaria deísta é, pois, a Maçonaria hoje correntemente aplicada, que aceita no seu seio crentes de todas as religiões. Isto não quer dizer que renegue a sua origem cristã, Teísta. Designadamente, mantém, em especial em alguns dos Altos Graus, graus especificamente cristãos. Mas, mesmo esses, um não cristão que a eles queira aceder e não se sinta desconfortável com o ideário cristão neles expresso, pode recebê-los.

Por fim, quando se diz que a Maçonaria é deísta, não se pretende dizer, nem se aceita, que se destina exclusivamente a deístas. Porque apenas se exige a crença num Criador, sendo indiferente qual é e como a ela se chegou, na Maçonaria convivem fácil e proveitosamente deístas, gnósticos e teístas. Seja qual for a sua religião.

Também, em Maçonaria "regular" a evolução se fez do teísmo para o deísmo, numa perspectiva de inclusão, nunca de exclusão. Por isso, a Maçonaria Moderna e "regular" é deísta, sem prejuízo de ter no seu seio – e muito confortavelmente – muitos teístas. Porque ser, individualmente, teísta, deísta, católico, luterano, anglicano, calvinista, evangélico, judeu, muçulmano, hindu etc.,  desde que crente, é absolutamente indiferente!

TFA

LuCaS

BIBLIOGRAFIAS:

– Assis Carvalho. O Mestre Maçom.

– Breno Trawtuim. Dogmas e Preconceitos Maçônicos.

– Frederico Guilherme Costa & José Castellani. O Rito Moderno - A verdade revelada.

– Gilson da Silveira Pinto. Pérolas Maçônicas.

– José Castellani. O Rito Escocês Antigo e Aceito.

– Luiz Carlos Silva. A Maçonaria Para Neófitos.

– Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia Sagrada.

– Valério Alberton. O Conceito de Deus na Maçonaria.

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