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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Para Falar de Maçonaria: Diálogos Com o Sagrado

 Para Falar de Maçonaria: Diálogos Com o Sagrado

Por LuCaS

 

INTRODUÇÃO 


O termo Loja, tal qual é empregado na Maçonaria, encerra uma variedade de significados. Tradicionalmente refere-se ao conjunto de maçons reunidos em assembleia. Isto leva-nos a distinguir Loja de Templo, pois enquanto o Templo é o edifício onde os maçons se reúnem, a Loja é a própria reunião em si mesma. Assim sedo, esta pode ser realizada em qualquer lugar que ofereça condições para tanto, sem precisar, obrigatoriamente, que esta seja feita dentro de um Templo. Assim, o termo Loja assume um amplo leque de significados, que resumem a tradição que a assembleia de maçons pretende refletir.

O termo Loja designa, também, o local em que esta assembleia se realiza; é o local de reunião dos Obreiros da Loja para a prática da liturgia maçônica.

No estudo dos seus símbolos, é ensinado que a forma da Loja é de um retângulo, isto é, uma figura alongada, de quatro lados; seu comprimento é do Leste a Oeste; sua largura do Norte ao Sul; sua profundidade da superfície ao centro da Terra; e sua altura, da Terra ao Céu. Simbolizando a universalidade da Sublime Instituição e mostrando que a caridade do Maçom não tem limites, a não ser os ditados pela prudência. E mais, Orienta-se a Loja de Leste a Oeste porque, como todos os lugares de culto divino e antigos Templos, as Lojas Maçônicas assim devem estar, por três razões: primeira, o Sol, que é a maior Glória do Grande Arquiteto do Universo, nasce no oriente e se oculta no ocidente; segunda, a civilização e a ciência vieram do oriente, espalhando as mais benéficas influências para o ocidente; e terceira, a doutrina do amor e da fraternidade e o exemplo do cumprimento da lei vieram, também, do oriente para o ocidente, trazidos pelo Divino Mestre.

Em seus ensinamentos, informa-se, também, que a primeira notícia que se tem de um local destinado, exclusivamente, ao culto Divino, é a do Tabernáculo, erigido, no deserto, por Moisés, para receber a Arca da Aliança e as Tábuas da Lei. Esse Tabernáculo, cuja orientação era de leste para oeste, serviu, muito tempo depois, de modelo, na sua planta e posição, ao magnífico Templo erigido em Jerusalém pelo rei Salomão, sábio e poderoso monarca dos israelitas, e cujo esplendor e riqueza fizeram com que fosse considerado como a maior maravilha da época. Eis porque as Lojas Maçônicas, representando, simbolicamente, o Templo de Salomão.

A Loja Maçônica se apoia e é sustentada por três grandes colunas, denominadas Sabedoria, Força e Beleza. A Sabedoria inventa e cria, a Força sustenta e anima e a Beleza adorna. A Sabedoria deve orientar o homem no caminho da vida; a Força, deve animá-lo e o sustentar em todas as dificuldades; e a Beleza, adornar todas as suas ações, seu caráter e espírito. Isto, porque o universo é o Templo da Divindade, a quem servimos, e a Sabedoria, a Força e a Beleza estão em volta do Seu Trono, como pilares de Suas Obras, porque Sua Sabedoria é Infinita, Sua Força Onipotente e Sua Beleza manifesta-se em toda Sua Criação pela simetria e pela ordem.

A Loja, como espaço físico onde os Maçons se reúnem para a prática dos seus trabalhos, tem, internamente, a forma de um retângulo de comprimento igual ao triplo de sua largura, sendo dividido, no sentido longitudinal, ou do seu maior eixo, em três partes: a primeira compreende o Oriente, a segunda engloba o Ocidente, o Norte e o Sul, e a terceira corresponde ao Átrio.

A comunicação com o exterior é feita por uma única porta de duas folhas, que se abrem para o Átrio, situada no Ocidente.

O soalho do Ocidente é representado pelo Pavimento Mosaico, constituído de ladrilhos quadrados brancos e pretos, dispostos, alternadamente, em diagonal.

No Ocidente, ao longo das paredes laterais, erguem‑se as doze Colunas Zodiacais – equidistantes entre si e dispostas seis ao Norte e seis ao Sul.

Próximo ao fundo do Oriente, sobre um estrado de três degraus, que significam Pureza, Luz e Verdade, e sob um Dossel, eleva‑se o Trono do Venerável Mestre.

À frente do Trono, sobressaindo‑se sobre os demais em dimensão, fica o Altar do Venerável Mestre, e sobre o qual devem estar um malhete, um candelabro de três braços, uma coluneta jônica, a Espada Flamejante, a Constituição e o Regulamento da Grande Loja, o Estatuto da Loja, um exemplar do Ritual do Grau.

As luminárias sobre os Altares do Venerável Mestre e dos Vigilantes são obrigatórias porque estas Dignidades simbolizam a Luz do conhecimento, do entendimento e da razão de uma Loja Maçônica, daí porque serem também chamados de Luzes.

Atrás do Trono e junto à parede fica o Retábulo, ou Painel do Oriente, no qual brilharão, ao centro, o Delta Sagrado, também chamado de Delta Luminoso ou Delta Radiante ostentando no seu interior o Olho Onividente ou o nome hebraico de Deus, formado pelas letras hebraicas Iod-He-Vau-He, ou, ainda, pelo menos, a primeira letra deste nome – Iod –, tendo à sua direita o Sol, e à sua esquerda, a Lua em quarto crescente.

No Ocidente, coloca‑se o Altar dos Juramentos, sobre o qual repousam o Livro* da Lei, um Esquadro e um Compasso.

*(O Livro da Lei é o Livro Sagrado de cada religião onde seus adeptos julgam existir as verdades pregadas por seus profetas. Assim, o juramento deve ser prestado sobre o Livro Sagrado da crença do Iniciando, pois, pelos princípios básicos da Maçonaria, deve haver o máximo respeito às crenças de cada um).

No eixo longitudinal da Loja, voltado para o Ocidente, o Painel Alegórico.

No Oriente, o Painel Simbólico.

o Altar dos Perfumes, denominado, também, em determinadas cerimônias maçônicas, de Altar da Consagração.

No Ocidente, próximo à Coluna B. – entre o assento do Cobridor Externo e do 1o  Experto –, estará uma pedra de forma e contornos irregulares, denominada Pedra Bruta, enquanto que, próximo à Coluna J. – entre o assento do Cobridor Externo e do 2o  Experto –, estará uma pedra de superfície lisa e polida, perfeitamente esquadriada e de faces iguais, denominada Pedra Cúbica.

No ângulo sudoeste da Loja fica o Altar das Abluções sobre o qual descansa o Mar de Bronze, enquanto que, no ângulo noroeste da Loja, em posição diametralmente oposta, fica o Altar do Fogo da Purificação, usado nas iniciações.

O teto da Loja, com sua decoração estelar entremeada de nuvens com os matizes de cor – do vermelho ao alaranjado, ao amarelo, ao azul e ao negro –, mostrando a transição do dia, ou da Luz (Oriente), para a noite, ou para as trevas (Ocidente), representa a abóbada celeste de uma noite de 24 de junho no hemisfério norte.

O Átrio, compartimento vestibular da Loja, é uma antecâmara que precede a porta de entrada e faz comunicação com a Sala dos Passos Perdidos e a Câmara de Reflexão.

Junto à parede ocidental e ladeando o Portal elevam‑se as duas, a coluna colocada a esquerda de quem entra na Loja, tem insculpida no fuste a letra "B", enquanto que a coluna colocada a direita de quem entra na Loja, tem insculpida no seu fuste a letra "J". Essas colunas, simbolicamente, separa o “profano” do “sagrado”.

O sagrado é um espaço artificial padronizado que inventa uma Tradição marcada pela escolha do que é sagrado. Aderir a esta escolha destacaria a função transitória e não substancial do sagrado.

Cada tradição religiosa organiza o espaço sagrado de acordo com as suas crenças. As igrejas, capelas, catedrais e santuários católicos são decorados com vitrais, imagens, estátuas, entre outros símbolos.

Nos templos evangélicos não há imagens religiosas, mas podem ter vitrais decorativos e simbólicos.

Terreiro é o nome do espaço sagrado das religiões Afro-Brasileiras.

Sinagoga é o espaço sagrado do Judaísmo, onde aos sábados os seguidores desta religião se reúnem para o culto semanal.

A mesquita é o local de oração dos muçulmanos. Eles costumam reunir-se nas sextas-feiras ao meio dia para a oração comunitária.

O centro espírita é o local de reuniões e estudos da doutrina dos seguidores do Espiritismo.

Entre outras funções os espaços sagrados destinam-se:

Ao contato com o sagrado;

À realização de práticas devocionais e rituais;

Às celebrações religiosas;

Às reuniões de ensino e pregação.

A Maçonaria sendo uma instituição secular, por muitos considerada milenar, embora progressista, é também arcaica pois é herdeira e guardiã dos antigos mistérios e filosofias das mais antigas religiões.

Quanto ao ensino, pregação, e suas práticas rituais e suas celebrações, a Maçonaria tem sido definida por vários modos.

"A Ordem Maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente unidos por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando‑se, uns aos outros, na prática das virtudes”.

"É um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos".

Embora imperfeitas, essas definições nos dão a convicção de que a Ordem Maçônica foi, sempre, e deve continuar a ser, a união consciente de homens, virtuosos, desinteressados, generosos e devotados, irmãos livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade, para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e prepará‑los para a emancipação progressiva e pacífica da Humanidade.

É, pois, um sistema e uma escola não só de moral, como de filosofia social e espiritual, reveladas por alegorias e ensinadas por símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres do homem cidadão.

Para evitar o afastamento de seus nobres e sublimes fins, a Maçonaria exige que só sejam iniciados em seus Augustos Mistérios aqueles que, crendo na existência de Deus e em Sua Vontade Revelada, bem compreendam os deveres sociais e, alheios a elogios mútuos e inclinações contrárias aos rígidos princípios da moralidade, a busquem, movidos pelos altos interesses do amor fraternal.

A Maçonaria proclama, como sempre proclamou, desde sua origem, a existência de um Princípio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.

Para elevar o homem aos próprios olhos e torná‑lo digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria erige em dogma que o Grande Arquiteto do Universo deu ao mesmo, como o mais precioso dos bens, a Liberdade, patrimônio da Humanidade inteira, cintilação celeste que nenhum poder tem o direito de obscurecer ou de apagar, pois que é a fonte de todos os sentimentos de honra e de dignidade.

Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a dedicarem‑se à felicidade de seus semelhantes, não porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é a qualidade inata que os fez filhos de Deus e amigos de todos os homens, fiéis observadores da Lei do Amor Universal.

Pelo exposto, vê-se que a maçonaria é, portanto, religiosa e exige a religiosidade do pretendente ao ingresso nos seus Augustos Mistérios, seja essa pessoa Teísta, Deísta ou Gnóstica, isto é, “religioso”. Por outro lado, a “maçonaria” se desvia desses princípios e que admite em seus quadros pessoas a-religiosas, ateus etc. é considerada “maçonaria” espúria, irregular, não sendo, portanto, reconhecida como uma entidade Maçônica.

A “aparente” separação entre o profano e o sagrado é um limite da transformação cultural ou religiosa do objeto – ou da pessoa – que manifesta o sagrado ao tornar-se outra coisa, permanecendo ele mesmo. O sagrado na Maçonaria é um princípio de separação e integração onde o profano e o sagrado são definidos em relação um ao outro.

A iniciação é uma série de cerimônias que visam incorporar o neófito à Tradição. Ele então deixará o mundo puramente profano para entrar no círculo das coisas sagradas. Ora, esta mudança de estado é concebida não como o desenvolvimento simples e regular de potenciais pré-existentes, mas como uma transformação de toda a substância. Diz-se que neste momento morre o profano, isto é, que determinada pessoa que era deixa de existir e que outra, instantaneamente, substitui a anterior. Renasce, então, sob uma nova forma, numa dialética dentro/fora.

A tentativa de responder à pergunta “Como passar do profano ao sagrado na Maçonaria?” apresenta-se como uma série de questões sobre as práticas maçônicas para interpretá-las no que diz respeito aos seus papéis nesta transição.

Aqui está uma lista que pode fazer você querer abordá-los com mais profundidade.

a). Como o sagrado se distingue do profano?

b). Como o sagrado é produzido na loja?

c). Como ocorre a separação? Como a separação das roupas profanas conduz ao sagrado? Como funciona o ritual? O que são essas portas? O cobridor, um pedreiro que nos protege? A abertura dos trabalhos é uma hierofania? Quais são os limites do tempo sagrado no vestuário?

d). Onde está o sagrado na loja? Em primeiro lugar, o que é necessário para que um espaço seja um lugar sagrado? Então, a loja é um templo? Existem níveis de sacralidade na loja? O pavimento mosaico é apenas uma decoração de piso? A Câmara de Reflexões é então o centro da sacralidade? Não é o altar dos juramentos mais sagrado pelo que ali está depositado? Por que o Livro Lei é sagrado? A interseção do esquadro e do compasso participa do sagrado? O quadro de traçar (ou Painel da Loja) é mais sagrado do que pensamos? Os juramentos feitos diante do altar tornam-se sagrados? Por serem únicas, a pedra angular* e a pedra fundamental estabelecem a sacralidade da construção?

*(A pedra angular significa geralmente a principal pedra de sustentação que era usada na construção de um edifício na antiguidade. Outro significado possível para a expressão “pedra angular” também é aquele que se refere à pedra principal colocada no centro de um arco para unir seus dois lados. Então no primeiro sentido, a pedra angular traz o significado de “pedra fundamental”; enquanto que no segundo sentido ela diz respeito à pedra que estabiliza e une como uma só estrutura os dois lados de um arco formando a própria base do arco).

e). A linguagem maçônica participa de uma separação do profano? Quais são as palavras que separam o profano do iniciado? Que importância deve ser dada à ortoépia das palavras faladas? A marcha maçônica, a linguagem corporal, um passo em direção ao sagrado?

 POR QUE A SACRALIDADE NA MAÇONARIA?

1. A Crise do homem moderno

O homem moderno sofre uma crise existencial decorrente da perda de sentido do ser. A Humanidade contemporânea é estruturada nas interpretações mecanicistas da natureza. Seus domínios do tempo e do espaço simbolizam uma alteração radical de como se está no mundo.

As ciências modernas alteraram a visão humana da realidade e de sua existência, e conduziram o homem “a-religioso” a um comportamento ateísta face o cosmos. Só é válido e necessário aquilo que passa pelo crivo da racionalidade. Com isso, desponta uma nova perspectiva para o homem: manipular, prever e racionalmente planejar as coisas. Resulta daí um cosmos secularizado, vazio de uma divindade. Ele significa compreender e viver em um universo dessacralizado. Contudo, essa perspectiva da existência profana é falsa, pois uma vida vazia de sacralidade representa sofrimento, ilusão e ausência de solução para os problemas existenciais.

A crise do homem moderno é também o resultado do esforço das filosofias ocidentais em esvaziar o homem de qualquer possibilidade de transcendência e de reduzi-lo à sua imanência. O mito do progresso, embasado nos avanços científicos de uma sociedade tecnologicamente desenvolvida, fez com que renunciássemos a toda e qualquer possibilidade de uma ontologia teísta. Ademais, colocou na imagem do homem, com sua racionalidade, o fundamento auto suficiente da Humanidade.

Nesse novo cenário, dessacralizado, da crise teísta do homem moderno, não nos impressiona o fato de termos como o pessimismo, a angústia, o niilismo e o desespero tornaram-se virtudes e conceitos do homem.

Entendemos que a condição moderna se encontra nesse estado devido à sua ruptura com o âmbito do sagrado, onde o eu (self), o indivíduo, tal como se revela e se conhece em sua própria consciência, passou a ser entendido como oposição ao “outro”, posição que rompeu, consequentemente, com a conexão cosmos-humano. Dessa forma, a crise da Humanidade representa uma “queda” na história do homem, que ocorre devido à alteração de sua mentalidade na relação com o mundo. A consciência científica histórica afastou o vínculo do homem com os arquétipos divinos, e reprimiu essa relação à zona do inconsciente.

Entretanto, se reconhece nessa afirmação a existência, no homem moderno, ainda que inconsciente, de vestígios do “Homo religiosus”. Portanto, “[...] a queda da ordem da existência e o retorno dessa ordem constituem um problema fundamental da existência humana”. A crise do homem moderno é uma crise da sua “a-religiosidade”. Por conseguinte, pode-se afirmar que o homem secular não pode livrar-se plenamente do pensamento religioso, pois, ao assumir a necessidade de esvaziar-se ontologicamente de qualquer divindade, o homem assume a existência de modelos sagrados. Ao tentar fazer sua própria história, o homem moderno se opõe ao pensamento dos modelos míticos exemplares. O resultado desse esforço, o homem total se desintegra no homem a-religioso e perde a capacidade de transformar sua situação particular em uma situação exemplar. Daí as angústias do homem moderno, ainda que inconscientes, decorrentes da ausência da religião, que não são interpretadas como o homem “religioso” as interpreta. Uma consequência disso é a incapacidade de conceber o mundo de modo integral, como algo instituidor de um arquétipo.

A crise é, em suma, “religiosa”, descrença no sagrado, pois que, aos níveis arcaicos da cultura, e a maçonaria é por excelência arcaica, o “ser” se confunde como o sagrado. Para toda a Humanidade primitiva, é a experiência religiosa que dá origem ao Mundo: é a orientação ritual, com as estruturas do espaço sagrado que ela revela, que transforma o “Caos” em “Cosmos” (Ordo Ab Chao) e, por esse fato, torna possível uma existência humana (quer dizer, impede-a de regressar ao nível de existência zoológica). Todas as religiões, mesmo as mais elementares, são uma realidade ontológica: elas revelam o ser das coisas sagradas e das Figuras divinas, demonstram o que é realmente e, ao fazê-lo, fundam um Mundo que já não é evanescente e incompreensível.

2. O homem não é só desejo

Não se pode analisar o homem somente pelo horizonte sentimental e psíquico, sem abordar a dimensão do mundo e da singular realidade existencial. Essa dimensão não está restrita à libido: o homem não é só desejo. Não se pode reduzir o homem como um “ser” que é somente determinado pelo prazer.

O homem “religioso”, o homem integral, o verdadeiro Iniciado, se vale dos símbolos para captar a realidade mais profunda das coisas. Existe, nesses símbolos, um movimento dialético de desvelar e de cobrir que não poderia ser expresso por palavras ou conceitos. Desse modo, “traduzir uma Imagem na sua terminologia concreta, reduzindo-a a um único dos seus planos referenciais, é pior que mutilá-la, é aniquilá-la, anulá-la como instrumento de conhecimento”.

Os símbolos representam uma “abertura” para o transcendente. O mito é um modelo para o mundo inteiro, como uma revelação de mistérios pelo homem enquanto um ser total.

O mito não de dissocia da ordem natural, sensual ou cognitiva. O mito é informado pelo cosmos; "amarra" os seres humanos à natureza e à sua imaginação mítica. Por isso, não podem operar de nenhum outro modo a não ser por meio dos sentidos e do simbolismo do corpo.

Durante milênios, o homem trabalhou ritualmente e pensou miticamente nas analogias entre o macrocosmo e o microcosmo. Era uma das possibilidades de se “abrir” para o Mundo e de participar assim da sacralidade do Cosmo.

Desde a Renascença, quando se provou que o Universo era infinito, essa dimensão cósmica que o homem acrescentava ritualmente à sua existência nos é negada.

“A “religião”, a religião universal, a maçonaria é a solução exemplar de toda crise existencial, não apenas porque é indefinidamente repetível, mas também porque é considerada de origem transcendental e, portanto, valorizada como revelação recebida de um outro mundo, trans humano. A solução representada pelo sagrado não somente resolve a crise, mas, ao mesmo tempo, torna a existência “aberta” a valores que já não são contingentes nem particulares permitindo assim ao homem ultrapassar as situações pessoais e, no fim das contas, alcançar o mundo do espírito”.

3. O Nosso humanismo

O Nosso Humanismo se funda em uma ontologia da experiência do sagrado mediante o diálogo intercultural e o uso de uma linguagem simbólica.

Enquanto a ontologia moderna (profana) nega qualquer forma de transcendência, a filosofia maçônica sugere uma ontologia do sagrado como solução para as crises existenciais do homem moderno, já que elas “retiram o homem de seu universo profano ou de sua situação histórica e o projetam num universo diferente em qualidade, um mundo completamente novo, transcendente e sagrado”.

A fim de elucidar o Nosso Humanismo, é preciso compreender a definição do sagrado e seu efeito na vida do homem. Entretanto, o sagrado é irredutível, o que torna complexo definir o seu sentido.

Assim, apresentaremos alguns conceitos que a filosofia nos propõe;

O principal ponto de partida na compreensão da existência do sagrado é originado de uma dualidade: o sagrado e o profano. “A ambivalência da divindade constitui um tema encontrado em toda história religiosa da Humanidade. O sagrado atrai e atemoriza simultaneamente o homem”.

A sacralidade separa o natural do sobrenatural. Lançada essa dualidade, expõem-se as características que formam seus modos de ser. O sagrado é a experiência de uma realidade e a fonte da consciência que existe no mundo. O sagrado é sempre a revelação do real, a realidade por excelência, o encontro com o que orienta e que fornece um sentido à existência.

O profano, ao contrário, é tudo o que desorienta o homem. Subtrai-lhe o sentido da existência e o projeta ao caos. O profano está cheio do que é irreal; o sagrado, por sua vez, está completo do real e da ordem cósmica.

– O sagrado é qualitativamente diferente do profano, embora possa se manifestar na profanidade por intermédio de hierofanias: manifestações do sagrado, ou quando o sagrado se nos revela. Elas ocorrem quando o sagrado é percebido em qualquer objeto (pedras, animais, plantas, instrumentos de trabalho, o Pavimento Mosaico, o Oriente, a posição dos Oficiais, o Delta Sagrado, Candelabros, Altares, Espada Flamejante etc.). As hierofanias equivalem às maneiras de percepção da realidade do homem integral.

O sagrado é um arquétipo transcendental que fundamenta e revela as relações existenciais no Mundo. Suas modalidades correspondem aos modelos essenciais do ser do homem “religioso”. Logo, todo ato que o homem arcaico efetua só têm sentido no mundo sagrado. O encontro do homem com o sagrado desperta-o para a existência de valores absolutos referenciais para seu modo de ser, levando-o a rejeitar o modo profano de vida.

O sagrado é uma “visão do Mundo” capaz de assegurar a existência em sua plenitude, na medida em que lhe fornece o valor total e o sentido último do modo-de-ser do verdadeiro iniciado.

O sagrado e o profano fundamentam duas formas de existência que o homem assumiu no mundo. Com isso, há outras questões que devemos nos interrogar: como definir o modo de existir do homem no mundo sagrado e sua existência no mundo profano? Quais implicações decorrem ao se assumir uma dessas duas modalidades de existência?

Ora, assim como existe a dualidade entre o sagrado e o profano, existe, também, a dualidade do homem no mundo, a saber, o homem “religioso” e o homem “profano”. Essa dualidade só existe devido à presença do sagrado em oposição ao profano.

O “Homo religiosus” é caracterizado pela vida no âmbito do mundo sagrado, que se constitui em uma existência aberta e que permite transcender-se. A vida é vivida num plano duplo, a própria existência humana e a vida trans humana ligada ao cosmos ou ao divino.

O “Homo religiosus” é aquele sedento do Ser, quem sempre está em contato com o sagrado que, por sua vez, lhe confere uma dimensão ontológica à existência. Toda ação realizada simboliza uma repetição do que seu “deus” fez no passado.

Fundamentados nessa concepção é que apreendemos o modo de ser do arcaico em relação ao espaço circundante. Não tardaremos a perceber que também o espaço é constituído a partir de uma oposição entre o sagrado e profano. Com isso, para entender melhor essa relação do homem com o espaço, indagamos: como o iniciado nos augustos mistérios percebe o espaço? Qual é o papel do espaço sacralizado em sua existência? Quais implicações surgidas desse contato? Há diferença na percepção do espaço do homem maçom e do homem não maçom?

Essas são as dúvidas que podem nos desvelar o modus vivendi do homem arcaico e, por conseguinte, os novos paradigmas do Nosso Humanismo.

O Tempo

Assim como é preciso interpretar a existência do mundo e do homem a partir da dualidade sagrado e profano, o mesmo se dá para compreendermos a concepção do tempo. A noção do tempo é de vital importância para o homem “Teísta ou Deísta”. É por meio do tempo que o sagrado e o homem são contemporâneos e garantem suas coexistências. Sem isso, o sagrado perderia o sentido para o homem arcaico e se esgotaria o significado de sua vida. O que desejamos compreender são questões implicadas no conceito de tempo. Como o homem “religioso” percebe o tempo? O homem não “religioso” tem a mesma percepção de tempo que a do homem arcaico? O que significa o conceito templum-tempus? Qual a importância das festas comemorativas dos solstícios de inverno e de verão e dos rituais na relação do homem maçom com o tempo? O que os mitos dizem sobre o tempo? O tempo sagrado está camuflado no mundo do homem profano?

Na autêntica vertente inglesa da Maçonaria, que é Teísta, geralmente o Craft (Ofício ou Arte) determina a idade simbólica do Maçom por tempo determinado, ou seja, pura e simplesmente como “X” anos. Isso se explica porque a doutrina de aperfeiçoamento de determinado Grau no Ofício é ilustrada pelo completo domínio das Ciências e Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas preleções sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada em caracol (sinuosa) que é constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das Ciências ou Artes da Antiguidade.

Na verdade, essa alegoria faz referência a que a Árvore da Vida, situada no topo da escada sinuosa, só será alcançada por aquele que possuir completo domínio das Ciências e Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.

Essa ideia de concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada um dos anos (vida simbólica), de tal modo que cada ano seja uma qualidade própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática da moral, como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências correspondente ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a construir conforme as exigências da Arte. Em síntese é o processo de moral elevado que se aplica na construção da Obra da Vida.

Ainda na vertente inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Maçom, aparece também a alegoria da Estrela que é encontrada no Painel do Primeiro Grau ficando ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei Sagrada e vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira equidistante, arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais – Fé (cruz), Esperança (âncora) e Caridade (mão em direção à taça).

Para relacionar essa alegoria à idade completa do Maçom completos, ou de tempo determinado, somam-se às Três Virtudes Teologais as virtudes cardeais – Prudência (originalmente “sapientia” que em latim significa conhecimento ou sabedoria, dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida", sendo por isso considerada a virtude mãe humana), Justiça (que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido), Fortaleza (ou Força) que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem) e Temperança (ou Moderação) que "modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados", sendo por isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres), cujos símbolos encontram-se representados pelas quatro Borlas colocadas nos quatro cantos do mesmo Painel.

Interpreta-se esse emblema relacionado ao tempo de vida simbólico do Maçom como “a obra construída é a vida do próprio homem, desde que pautada pelos princípios da crença em um Arquiteto Criador, pela confiança em atingir o seu objetivo com complacência e benevolência e vivida pelo princípio da moderação, do comedimento e da resolução, de modo firme e constante”.

Na vertente francesa, diferente da inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito a sua compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador da Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve os três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante de um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.

Sob a ótica filosófica do deísmo a Maçonaria francesa, especulativa por excelência, viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com a Natureza.

Nessa concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático da morte e do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos naturais que faz corresponder as estações do ano com as etapas da existência humana.

Apesar do ideário do “morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do ensinamento maçônico, ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do escocesismo simbólico.

Assim, na alegoria iniciática Homem/Natureza, sugestivamente a primavera representa o nascimento e a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a maturidade; o inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.

Isso explica e até justifica, por exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no Templo do R.E.A.A., já que o seu simbolismo indica que cada ciclo é um tempo existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da vida – o Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre a maturidade (Meia-Noite). Na verdade, tudo se reporta à transformação e ao aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).

Outra consideração importante no rito em questão é a da existência dos três candelabros de três braços que acolhem as Luzes litúrgicas, os quais se situam, um sobre o Altar destinado ao Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas destinadas aos Vigilantes.

Dessa concepção de filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se criou estruturalmente a idade de “X” anos e mais, para determinado grau de Maçom do R.E.A.A.

Desse modo, esse enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o renascimento da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por ocasião do inverno quando a Terra fica viúva do Sol.

O Tempo De Nove Meses.

É esse tempo existencial que explica a idade do Maçom, também, possuir algo mais além dos “X” anos, já que simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza é de nove meses, a contar desde o início da primavera até o final do outono. Daí a razão dos “X” anos e (ou) Mais. Na verdade, vai além do número sete (criação) até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o Esquadro e o Compasso).

Assim se explica a disposição do mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros com as três Luzes litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os nove meses de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os três meses de inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do Sol (dias curtos e noites longas). É dessa alegoria solar absorvida dos cultos solares da antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a despeito de que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante o inverno.

Por fim, é essa a síntese da explicação dessas variações aparentes que nos apresentam as tradições ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da Maçonaria Especulativa é sempre o mesmo, o de forjar um novo homem nos seus canteiros simbólicos (Loja), entretanto, mesmo de objetivo único, os métodos muitas vezes se diferenciam. Assim não há como se generalizar procedimentos na liturgia maçônica. Tradições, usos e costumes muitas vezes são particularidades de cada um dos sistemas maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o que significa cada processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime Instituição. Para cada gesto, para cada símbolo ou procedimento na liturgia dos ritos maçônicos, desde que sejam autênticos, sempre existirá uma explicação lógica.

O Espaço

A noção de espaço para o verdadeiro iniciado é heterogênea, pois existem rupturas que separam o mundo sagrado do mundo profano. A, “[...] divisão binária do espaço é generalizada ao universo inteiro. Os pares de opostos são, ao mesmo tempo, complementares. O princípio da polaridade parece ser a lei fundamental da natureza e da vida.  As rupturas se manifestam por hierofanias que ocorrem quando o sagrado se revela. Todo o espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que destaca um território do meio cósmico que o envolve e o torna qualitativamente diferente.

As hierofanias, vitais para o modo de ser "Iniciático”, permitem mudar o regime ontológico dos objetos e locais aparentemente insignificantes que, desde o instante em que incorporam o sagrado, tornam-se arquétipos inestimáveis aos olhos de todos que participam da mesma experiência.

O mundo no qual a presença e ação do homem se realizam – as regiões povoadas e cultivadas, os rios que fornecem as condições de produzir o alimento, as montanhas escaladas e desbravadas, as cidades, as casas e os templos – existem porque, antes, está presente um arquétipo que escapa à dimensão material. O espaço sagrado é compreendido como um modelo ou “cópia” do que há no nível cósmico, que faz com que a área habitada pela cultura religiosa seja considerada uma terra sagrada.

O homem “arcaico” vive em um mundo simbólico. Para ele, o mundo está vivo e aberto. Portanto, um local ou um objeto nunca são simplesmente eles mesmos, mas sempre o sinal de uma realidade que transcende o ser daquilo diante dele. Quando meteoros caem do céu, estão carregados de sacralidades: o local em que se encontram também se torna santo, pois eles vieram do céu, local habitado pelos “deuses”. Dessa forma, Ka’aba, em Meca, se tornou uma cidade sagrada para o Islamismo. O povo de Israel, quando vagueava pelo deserto, chefiado por Moisés, levava seu acampamento de um lugar para outro somente quando a nuvem, que simbolizava Javé, se levantava acima da tenda. Logo, “[...] a noção de espaço sagrado implica a ideia da repetição da hierofania primordial que consagrou este espaço transfigurando-o, singularizando-o, em resumo, isolando-o do espaço profano a sua volta”, também. O nosso Templo Sagrado e separado ou isolado do mondo profano por suas duas Colunas vestibulares “J” e “B”.

O espaço sagrado encontra-se isolado do espaço profano. Mas o que representa? O que o torna diferente para ser distinto do espaço profano? Ele representa o ser, o real, o cosmos que se revela como ponto fixo, centro do mundo – o que equivale à criação do mundo – sustenta sua existência, isto é, tudo o que é verdadeiro e perfeito, lugar em que se encontra e se pode estar em comunhão com a divindade.

“Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tire a sandálias de teus pés, porque o lugar onde te encontras é uma terra santa”. Local que representa o princípio de todas as coisas, “[...] o sagrado revela a realidade absoluta e, ao mesmo tempo, torna possível a orientação – portanto, funda o mundo, no sentido de que fixa os limites e, assim, estabelece a ordem cósmica”. Em contrapartida, tudo que está fora desse espaço é profano, estrangeiro, amorfo, desconhecido, lugar do caos.

O espaço sagrado é utilizado como um local de retorno para renovação de energia e vitalidade. Adentrar em sua extensão significa tomar parte de uma fonte inesgotável de força e de sacralidade.

Tratamos de um povo primitivo, de uma sociedade arcaica. Existem diferenças na percepção do espaço e do tempo do homem religioso e do homem moderno? Como o homem não-religioso percebe o espaço em que vive?

Para a experiência profana, o espaço é homogêneo, neutro, sem nenhuma orientação sacralizada. O ponto fixo que permite ao homem arcaico escapar da homogeneidade caótica do espaço, na vida do homem não-religioso não goza de um estatuto ontológico único, pois surge e desaparece segundo as necessidades cotidianas. Assim, a mudança de moradia não significa, necessariamente, uma mudança transcendental que exige um ritual de consagração. Para o homem dessacralizado, o espaço no qual se encontra não é dotado de simbolismos espirituais. No entanto, ainda surgem espaços que matizam o que foi dito acima. Alguns não são homogêneos para o homem profano, como locais especiais que lhe trazem lembranças e se tornam “sagrados” em sua singularidade.

Ainda, quanto ao tempo, o homem integral, seja ele teísta ou deísta, concebe o tempo de forma heterogênea: o sagrado e o profano.

O tempo sagrado tem, por natureza, a capacidade de ser reversível, circular e repetível. Encontra-se nele a possibilidade do retorno a seus primórdios, a renovada apreensão de seu modelo originário de vida, pois ele mantém-se sempre igual, não se esgota. Nele se revela um período especial na vida do homem arcaico, que o tira do tempo ordinário e o coloca em contato com o sagrado.

Por sua vez, o tempo profano é o tempo do cotidiano, sem sentido, onde ocorrem atos privados de significados sacralizados. Mas em que se distingue o tempo sagrado da duração profana que o precede e lhe sucede? Nosso entendimento é que qualquer momento do tempo pode se tornar sagrado por sua hierofania. Quando isso ocorre, o tempo passa a ser transfigurado, consagrado, comemorado e repetível infinitamente.

De fato, uma das principais diferenças que separa o homem “arcaico” do homem “moderno” se encontra na incapacidade em que esse tem de viver a vida orgânica como um sacramento. Com efeito, em consequência disso, as grandes crises do homem moderno ocorrem quando este se lança no mundo sem consciência de seu sentido de existir nesse mundo. Somente ao se lançar na busca da compreensão do sagrado, o homem encontrará a revelação do sentido de sua existência.

Ao conceber o mundo com um sentido sagrado, ao perceber o tempo como uma possibilidade de eterna repetição dos gestos exemplares míticos e um retorno às fontes sagradas e do real e, ao perceber o espaço como um estar junto à divindade, o homem transcende seus limites e é salvo do nada e da morte. Habita um mundo ordenado e carregado de sentido. Goza de uma ordem interna e se sente mais forte para viver.

Eis o porquê da sacralidade na maçonaria!

TFA

LuCaS

sábado, 26 de agosto de 2023

A movimentação Destro Centrica na visão de um aprendiz

Por Neemias Ximenes, Aprendiz Maçom, Obreiro regular da Loja Simbólica

Regeneração Campinense Nº 02, PB.  


“Melhor que ser maçom, é ser reconhecido como tal”.                                                                                      (Luiz Carlos Silva - LuCaS)


Desde que o mundo é mundo, o homem toma-se por perguntas como de

onde viemos e para onde iremos, e certamente essas perguntas ainda se

perpetuarão por muito tempo. O estudo dos astros para a tentativa de explicar de

onde viemos e para onde vamos é muito constante e comum na história da

humanidade, tendo em vista isso, o homem começou a venerar o sol ainda na

pré-história, notando que ele nascia no oriente e se põe no ocidente, o homem

começou a fazer seus planos na trajetória do sol para ficar a salvo de ameaças

selvagem. Após isso já no Egito antigo, temos conhecimento que aquele povo já

levantava-se templos para o deus sol, chamado por eles de Rá, também no Egito o

faraó Akhenaton antes conhecido como Amenófis IV, abandonou todo o panteão de

deuses egípcios para se dedicar exclusivamente ao deus sol intitulado por ele como

Aton; Akhenaton significa “aquele que louva o deus Aton”; ou seja, o caminhar do

sol e sua importância sempre foram levadas em considerações por todas as

sociedades.

Na maçonaria não seria diferente, embora não sejamos religião, estudamos a

movimentação do sol e nos baseamos nela ainda no ritual de aprendiz, e eu como

tal falarei um pouco do que venho aprendendo nesta árdua jornada de desbaste da

pedra bruta.

No REAA (Rito Escocês Antigo e Aceito) o aprendiz maçom sentado na

coluna do norte, simbolizada pela coluna dórica, a coluna de força, o aprendiz tem a

representação de estar no canto mais “escuro” do templo, quanto mais ao topo da

coluna mais “escuro” o aprendiz, que escuridão seria esta? a falta de conhecimento

sobre o ofício e sobre os meios de trabalho, o aprendiz é o primeiro a entrar no

templo (depois que autorizado) e o último a sair, pois ele precisa se esforçar mais

para aprender, embora nas corporações de ofício e antigas guildas os aprendizes

não podiam sair de suas oficinas e também não eram pagos, seu pagamento era o

aprendizado. Os aprendizes são ensinados como se portar no templo e como se

movimentar se assim for necessário. O aprendiz trabalha do meio dia à meia noite,

podendo assim simbolizar do zênite ao anoitecer quando só então o aprendiz pode

descansar para o outro dia de trabalho, o aprendiz pode notar também, que quando

ele estiver apto a elevar ao grau de companheiro, ele mudará de coluna

sentando-se então na coluna do sul, mudando assim também sua posição em

relação ao sol vindo do oriente (sabedoria). Todas as movimentações no templo são

feitas com o ombro direito voltada ao centro de forma circular, toda vez que algum

irmão precisa passar pela linha do delta, ele precisa fazer a saudação ao delta, a

menos que esteja portando um objeto, desta forma, todos os irmãos quando preciso

for mudar de lado em Loja precisam fazer esta “linha de movimentação”, não podem

por hipótese nenhuma “regredir”, ou seja não pode andar com o lado esquerdo do

corpo voltado ao centro como demonstrado na imagem a seguir.

Concluindo assim de que todo conhecimento em relação a movimentação em

loja na visão de um aprendiz maçom é dada pela trajetória que o sol faz na terra, em

relação às 24 horas do dia.

Referências bibliográficas:

Ritual de aprendiz rito escocês antigo e aceito - 1928

Matérias do National Geographic Portugal - disponíveis na internet

A importância do Aprendiz Maçom para a Maçonaria

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