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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Para Falar de Maçonaria: Diálogos Com o Sagrado

 Para Falar de Maçonaria: Diálogos Com o Sagrado

Por LuCaS

 

INTRODUÇÃO 


O termo Loja, tal qual é empregado na Maçonaria, encerra uma variedade de significados. Tradicionalmente refere-se ao conjunto de maçons reunidos em assembleia. Isto leva-nos a distinguir Loja de Templo, pois enquanto o Templo é o edifício onde os maçons se reúnem, a Loja é a própria reunião em si mesma. Assim sedo, esta pode ser realizada em qualquer lugar que ofereça condições para tanto, sem precisar, obrigatoriamente, que esta seja feita dentro de um Templo. Assim, o termo Loja assume um amplo leque de significados, que resumem a tradição que a assembleia de maçons pretende refletir.

O termo Loja designa, também, o local em que esta assembleia se realiza; é o local de reunião dos Obreiros da Loja para a prática da liturgia maçônica.

No estudo dos seus símbolos, é ensinado que a forma da Loja é de um retângulo, isto é, uma figura alongada, de quatro lados; seu comprimento é do Leste a Oeste; sua largura do Norte ao Sul; sua profundidade da superfície ao centro da Terra; e sua altura, da Terra ao Céu. Simbolizando a universalidade da Sublime Instituição e mostrando que a caridade do Maçom não tem limites, a não ser os ditados pela prudência. E mais, Orienta-se a Loja de Leste a Oeste porque, como todos os lugares de culto divino e antigos Templos, as Lojas Maçônicas assim devem estar, por três razões: primeira, o Sol, que é a maior Glória do Grande Arquiteto do Universo, nasce no oriente e se oculta no ocidente; segunda, a civilização e a ciência vieram do oriente, espalhando as mais benéficas influências para o ocidente; e terceira, a doutrina do amor e da fraternidade e o exemplo do cumprimento da lei vieram, também, do oriente para o ocidente, trazidos pelo Divino Mestre.

Em seus ensinamentos, informa-se, também, que a primeira notícia que se tem de um local destinado, exclusivamente, ao culto Divino, é a do Tabernáculo, erigido, no deserto, por Moisés, para receber a Arca da Aliança e as Tábuas da Lei. Esse Tabernáculo, cuja orientação era de leste para oeste, serviu, muito tempo depois, de modelo, na sua planta e posição, ao magnífico Templo erigido em Jerusalém pelo rei Salomão, sábio e poderoso monarca dos israelitas, e cujo esplendor e riqueza fizeram com que fosse considerado como a maior maravilha da época. Eis porque as Lojas Maçônicas, representando, simbolicamente, o Templo de Salomão.

A Loja Maçônica se apoia e é sustentada por três grandes colunas, denominadas Sabedoria, Força e Beleza. A Sabedoria inventa e cria, a Força sustenta e anima e a Beleza adorna. A Sabedoria deve orientar o homem no caminho da vida; a Força, deve animá-lo e o sustentar em todas as dificuldades; e a Beleza, adornar todas as suas ações, seu caráter e espírito. Isto, porque o universo é o Templo da Divindade, a quem servimos, e a Sabedoria, a Força e a Beleza estão em volta do Seu Trono, como pilares de Suas Obras, porque Sua Sabedoria é Infinita, Sua Força Onipotente e Sua Beleza manifesta-se em toda Sua Criação pela simetria e pela ordem.

A Loja, como espaço físico onde os Maçons se reúnem para a prática dos seus trabalhos, tem, internamente, a forma de um retângulo de comprimento igual ao triplo de sua largura, sendo dividido, no sentido longitudinal, ou do seu maior eixo, em três partes: a primeira compreende o Oriente, a segunda engloba o Ocidente, o Norte e o Sul, e a terceira corresponde ao Átrio.

A comunicação com o exterior é feita por uma única porta de duas folhas, que se abrem para o Átrio, situada no Ocidente.

O soalho do Ocidente é representado pelo Pavimento Mosaico, constituído de ladrilhos quadrados brancos e pretos, dispostos, alternadamente, em diagonal.

No Ocidente, ao longo das paredes laterais, erguem‑se as doze Colunas Zodiacais – equidistantes entre si e dispostas seis ao Norte e seis ao Sul.

Próximo ao fundo do Oriente, sobre um estrado de três degraus, que significam Pureza, Luz e Verdade, e sob um Dossel, eleva‑se o Trono do Venerável Mestre.

À frente do Trono, sobressaindo‑se sobre os demais em dimensão, fica o Altar do Venerável Mestre, e sobre o qual devem estar um malhete, um candelabro de três braços, uma coluneta jônica, a Espada Flamejante, a Constituição e o Regulamento da Grande Loja, o Estatuto da Loja, um exemplar do Ritual do Grau.

As luminárias sobre os Altares do Venerável Mestre e dos Vigilantes são obrigatórias porque estas Dignidades simbolizam a Luz do conhecimento, do entendimento e da razão de uma Loja Maçônica, daí porque serem também chamados de Luzes.

Atrás do Trono e junto à parede fica o Retábulo, ou Painel do Oriente, no qual brilharão, ao centro, o Delta Sagrado, também chamado de Delta Luminoso ou Delta Radiante ostentando no seu interior o Olho Onividente ou o nome hebraico de Deus, formado pelas letras hebraicas Iod-He-Vau-He, ou, ainda, pelo menos, a primeira letra deste nome – Iod –, tendo à sua direita o Sol, e à sua esquerda, a Lua em quarto crescente.

No Ocidente, coloca‑se o Altar dos Juramentos, sobre o qual repousam o Livro* da Lei, um Esquadro e um Compasso.

*(O Livro da Lei é o Livro Sagrado de cada religião onde seus adeptos julgam existir as verdades pregadas por seus profetas. Assim, o juramento deve ser prestado sobre o Livro Sagrado da crença do Iniciando, pois, pelos princípios básicos da Maçonaria, deve haver o máximo respeito às crenças de cada um).

No eixo longitudinal da Loja, voltado para o Ocidente, o Painel Alegórico.

No Oriente, o Painel Simbólico.

o Altar dos Perfumes, denominado, também, em determinadas cerimônias maçônicas, de Altar da Consagração.

No Ocidente, próximo à Coluna B. – entre o assento do Cobridor Externo e do 1o  Experto –, estará uma pedra de forma e contornos irregulares, denominada Pedra Bruta, enquanto que, próximo à Coluna J. – entre o assento do Cobridor Externo e do 2o  Experto –, estará uma pedra de superfície lisa e polida, perfeitamente esquadriada e de faces iguais, denominada Pedra Cúbica.

No ângulo sudoeste da Loja fica o Altar das Abluções sobre o qual descansa o Mar de Bronze, enquanto que, no ângulo noroeste da Loja, em posição diametralmente oposta, fica o Altar do Fogo da Purificação, usado nas iniciações.

O teto da Loja, com sua decoração estelar entremeada de nuvens com os matizes de cor – do vermelho ao alaranjado, ao amarelo, ao azul e ao negro –, mostrando a transição do dia, ou da Luz (Oriente), para a noite, ou para as trevas (Ocidente), representa a abóbada celeste de uma noite de 24 de junho no hemisfério norte.

O Átrio, compartimento vestibular da Loja, é uma antecâmara que precede a porta de entrada e faz comunicação com a Sala dos Passos Perdidos e a Câmara de Reflexão.

Junto à parede ocidental e ladeando o Portal elevam‑se as duas, a coluna colocada a esquerda de quem entra na Loja, tem insculpida no fuste a letra "B", enquanto que a coluna colocada a direita de quem entra na Loja, tem insculpida no seu fuste a letra "J". Essas colunas, simbolicamente, separa o “profano” do “sagrado”.

O sagrado é um espaço artificial padronizado que inventa uma Tradição marcada pela escolha do que é sagrado. Aderir a esta escolha destacaria a função transitória e não substancial do sagrado.

Cada tradição religiosa organiza o espaço sagrado de acordo com as suas crenças. As igrejas, capelas, catedrais e santuários católicos são decorados com vitrais, imagens, estátuas, entre outros símbolos.

Nos templos evangélicos não há imagens religiosas, mas podem ter vitrais decorativos e simbólicos.

Terreiro é o nome do espaço sagrado das religiões Afro-Brasileiras.

Sinagoga é o espaço sagrado do Judaísmo, onde aos sábados os seguidores desta religião se reúnem para o culto semanal.

A mesquita é o local de oração dos muçulmanos. Eles costumam reunir-se nas sextas-feiras ao meio dia para a oração comunitária.

O centro espírita é o local de reuniões e estudos da doutrina dos seguidores do Espiritismo.

Entre outras funções os espaços sagrados destinam-se:

Ao contato com o sagrado;

À realização de práticas devocionais e rituais;

Às celebrações religiosas;

Às reuniões de ensino e pregação.

A Maçonaria sendo uma instituição secular, por muitos considerada milenar, embora progressista, é também arcaica pois é herdeira e guardiã dos antigos mistérios e filosofias das mais antigas religiões.

Quanto ao ensino, pregação, e suas práticas rituais e suas celebrações, a Maçonaria tem sido definida por vários modos.

"A Ordem Maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente unidos por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando‑se, uns aos outros, na prática das virtudes”.

"É um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos".

Embora imperfeitas, essas definições nos dão a convicção de que a Ordem Maçônica foi, sempre, e deve continuar a ser, a união consciente de homens, virtuosos, desinteressados, generosos e devotados, irmãos livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade, para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e prepará‑los para a emancipação progressiva e pacífica da Humanidade.

É, pois, um sistema e uma escola não só de moral, como de filosofia social e espiritual, reveladas por alegorias e ensinadas por símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres do homem cidadão.

Para evitar o afastamento de seus nobres e sublimes fins, a Maçonaria exige que só sejam iniciados em seus Augustos Mistérios aqueles que, crendo na existência de Deus e em Sua Vontade Revelada, bem compreendam os deveres sociais e, alheios a elogios mútuos e inclinações contrárias aos rígidos princípios da moralidade, a busquem, movidos pelos altos interesses do amor fraternal.

A Maçonaria proclama, como sempre proclamou, desde sua origem, a existência de um Princípio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.

Para elevar o homem aos próprios olhos e torná‑lo digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria erige em dogma que o Grande Arquiteto do Universo deu ao mesmo, como o mais precioso dos bens, a Liberdade, patrimônio da Humanidade inteira, cintilação celeste que nenhum poder tem o direito de obscurecer ou de apagar, pois que é a fonte de todos os sentimentos de honra e de dignidade.

Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a dedicarem‑se à felicidade de seus semelhantes, não porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é a qualidade inata que os fez filhos de Deus e amigos de todos os homens, fiéis observadores da Lei do Amor Universal.

Pelo exposto, vê-se que a maçonaria é, portanto, religiosa e exige a religiosidade do pretendente ao ingresso nos seus Augustos Mistérios, seja essa pessoa Teísta, Deísta ou Gnóstica, isto é, “religioso”. Por outro lado, a “maçonaria” se desvia desses princípios e que admite em seus quadros pessoas a-religiosas, ateus etc. é considerada “maçonaria” espúria, irregular, não sendo, portanto, reconhecida como uma entidade Maçônica.

A “aparente” separação entre o profano e o sagrado é um limite da transformação cultural ou religiosa do objeto – ou da pessoa – que manifesta o sagrado ao tornar-se outra coisa, permanecendo ele mesmo. O sagrado na Maçonaria é um princípio de separação e integração onde o profano e o sagrado são definidos em relação um ao outro.

A iniciação é uma série de cerimônias que visam incorporar o neófito à Tradição. Ele então deixará o mundo puramente profano para entrar no círculo das coisas sagradas. Ora, esta mudança de estado é concebida não como o desenvolvimento simples e regular de potenciais pré-existentes, mas como uma transformação de toda a substância. Diz-se que neste momento morre o profano, isto é, que determinada pessoa que era deixa de existir e que outra, instantaneamente, substitui a anterior. Renasce, então, sob uma nova forma, numa dialética dentro/fora.

A tentativa de responder à pergunta “Como passar do profano ao sagrado na Maçonaria?” apresenta-se como uma série de questões sobre as práticas maçônicas para interpretá-las no que diz respeito aos seus papéis nesta transição.

Aqui está uma lista que pode fazer você querer abordá-los com mais profundidade.

a). Como o sagrado se distingue do profano?

b). Como o sagrado é produzido na loja?

c). Como ocorre a separação? Como a separação das roupas profanas conduz ao sagrado? Como funciona o ritual? O que são essas portas? O cobridor, um pedreiro que nos protege? A abertura dos trabalhos é uma hierofania? Quais são os limites do tempo sagrado no vestuário?

d). Onde está o sagrado na loja? Em primeiro lugar, o que é necessário para que um espaço seja um lugar sagrado? Então, a loja é um templo? Existem níveis de sacralidade na loja? O pavimento mosaico é apenas uma decoração de piso? A Câmara de Reflexões é então o centro da sacralidade? Não é o altar dos juramentos mais sagrado pelo que ali está depositado? Por que o Livro Lei é sagrado? A interseção do esquadro e do compasso participa do sagrado? O quadro de traçar (ou Painel da Loja) é mais sagrado do que pensamos? Os juramentos feitos diante do altar tornam-se sagrados? Por serem únicas, a pedra angular* e a pedra fundamental estabelecem a sacralidade da construção?

*(A pedra angular significa geralmente a principal pedra de sustentação que era usada na construção de um edifício na antiguidade. Outro significado possível para a expressão “pedra angular” também é aquele que se refere à pedra principal colocada no centro de um arco para unir seus dois lados. Então no primeiro sentido, a pedra angular traz o significado de “pedra fundamental”; enquanto que no segundo sentido ela diz respeito à pedra que estabiliza e une como uma só estrutura os dois lados de um arco formando a própria base do arco).

e). A linguagem maçônica participa de uma separação do profano? Quais são as palavras que separam o profano do iniciado? Que importância deve ser dada à ortoépia das palavras faladas? A marcha maçônica, a linguagem corporal, um passo em direção ao sagrado?

 POR QUE A SACRALIDADE NA MAÇONARIA?

1. A Crise do homem moderno

O homem moderno sofre uma crise existencial decorrente da perda de sentido do ser. A Humanidade contemporânea é estruturada nas interpretações mecanicistas da natureza. Seus domínios do tempo e do espaço simbolizam uma alteração radical de como se está no mundo.

As ciências modernas alteraram a visão humana da realidade e de sua existência, e conduziram o homem “a-religioso” a um comportamento ateísta face o cosmos. Só é válido e necessário aquilo que passa pelo crivo da racionalidade. Com isso, desponta uma nova perspectiva para o homem: manipular, prever e racionalmente planejar as coisas. Resulta daí um cosmos secularizado, vazio de uma divindade. Ele significa compreender e viver em um universo dessacralizado. Contudo, essa perspectiva da existência profana é falsa, pois uma vida vazia de sacralidade representa sofrimento, ilusão e ausência de solução para os problemas existenciais.

A crise do homem moderno é também o resultado do esforço das filosofias ocidentais em esvaziar o homem de qualquer possibilidade de transcendência e de reduzi-lo à sua imanência. O mito do progresso, embasado nos avanços científicos de uma sociedade tecnologicamente desenvolvida, fez com que renunciássemos a toda e qualquer possibilidade de uma ontologia teísta. Ademais, colocou na imagem do homem, com sua racionalidade, o fundamento auto suficiente da Humanidade.

Nesse novo cenário, dessacralizado, da crise teísta do homem moderno, não nos impressiona o fato de termos como o pessimismo, a angústia, o niilismo e o desespero tornaram-se virtudes e conceitos do homem.

Entendemos que a condição moderna se encontra nesse estado devido à sua ruptura com o âmbito do sagrado, onde o eu (self), o indivíduo, tal como se revela e se conhece em sua própria consciência, passou a ser entendido como oposição ao “outro”, posição que rompeu, consequentemente, com a conexão cosmos-humano. Dessa forma, a crise da Humanidade representa uma “queda” na história do homem, que ocorre devido à alteração de sua mentalidade na relação com o mundo. A consciência científica histórica afastou o vínculo do homem com os arquétipos divinos, e reprimiu essa relação à zona do inconsciente.

Entretanto, se reconhece nessa afirmação a existência, no homem moderno, ainda que inconsciente, de vestígios do “Homo religiosus”. Portanto, “[...] a queda da ordem da existência e o retorno dessa ordem constituem um problema fundamental da existência humana”. A crise do homem moderno é uma crise da sua “a-religiosidade”. Por conseguinte, pode-se afirmar que o homem secular não pode livrar-se plenamente do pensamento religioso, pois, ao assumir a necessidade de esvaziar-se ontologicamente de qualquer divindade, o homem assume a existência de modelos sagrados. Ao tentar fazer sua própria história, o homem moderno se opõe ao pensamento dos modelos míticos exemplares. O resultado desse esforço, o homem total se desintegra no homem a-religioso e perde a capacidade de transformar sua situação particular em uma situação exemplar. Daí as angústias do homem moderno, ainda que inconscientes, decorrentes da ausência da religião, que não são interpretadas como o homem “religioso” as interpreta. Uma consequência disso é a incapacidade de conceber o mundo de modo integral, como algo instituidor de um arquétipo.

A crise é, em suma, “religiosa”, descrença no sagrado, pois que, aos níveis arcaicos da cultura, e a maçonaria é por excelência arcaica, o “ser” se confunde como o sagrado. Para toda a Humanidade primitiva, é a experiência religiosa que dá origem ao Mundo: é a orientação ritual, com as estruturas do espaço sagrado que ela revela, que transforma o “Caos” em “Cosmos” (Ordo Ab Chao) e, por esse fato, torna possível uma existência humana (quer dizer, impede-a de regressar ao nível de existência zoológica). Todas as religiões, mesmo as mais elementares, são uma realidade ontológica: elas revelam o ser das coisas sagradas e das Figuras divinas, demonstram o que é realmente e, ao fazê-lo, fundam um Mundo que já não é evanescente e incompreensível.

2. O homem não é só desejo

Não se pode analisar o homem somente pelo horizonte sentimental e psíquico, sem abordar a dimensão do mundo e da singular realidade existencial. Essa dimensão não está restrita à libido: o homem não é só desejo. Não se pode reduzir o homem como um “ser” que é somente determinado pelo prazer.

O homem “religioso”, o homem integral, o verdadeiro Iniciado, se vale dos símbolos para captar a realidade mais profunda das coisas. Existe, nesses símbolos, um movimento dialético de desvelar e de cobrir que não poderia ser expresso por palavras ou conceitos. Desse modo, “traduzir uma Imagem na sua terminologia concreta, reduzindo-a a um único dos seus planos referenciais, é pior que mutilá-la, é aniquilá-la, anulá-la como instrumento de conhecimento”.

Os símbolos representam uma “abertura” para o transcendente. O mito é um modelo para o mundo inteiro, como uma revelação de mistérios pelo homem enquanto um ser total.

O mito não de dissocia da ordem natural, sensual ou cognitiva. O mito é informado pelo cosmos; "amarra" os seres humanos à natureza e à sua imaginação mítica. Por isso, não podem operar de nenhum outro modo a não ser por meio dos sentidos e do simbolismo do corpo.

Durante milênios, o homem trabalhou ritualmente e pensou miticamente nas analogias entre o macrocosmo e o microcosmo. Era uma das possibilidades de se “abrir” para o Mundo e de participar assim da sacralidade do Cosmo.

Desde a Renascença, quando se provou que o Universo era infinito, essa dimensão cósmica que o homem acrescentava ritualmente à sua existência nos é negada.

“A “religião”, a religião universal, a maçonaria é a solução exemplar de toda crise existencial, não apenas porque é indefinidamente repetível, mas também porque é considerada de origem transcendental e, portanto, valorizada como revelação recebida de um outro mundo, trans humano. A solução representada pelo sagrado não somente resolve a crise, mas, ao mesmo tempo, torna a existência “aberta” a valores que já não são contingentes nem particulares permitindo assim ao homem ultrapassar as situações pessoais e, no fim das contas, alcançar o mundo do espírito”.

3. O Nosso humanismo

O Nosso Humanismo se funda em uma ontologia da experiência do sagrado mediante o diálogo intercultural e o uso de uma linguagem simbólica.

Enquanto a ontologia moderna (profana) nega qualquer forma de transcendência, a filosofia maçônica sugere uma ontologia do sagrado como solução para as crises existenciais do homem moderno, já que elas “retiram o homem de seu universo profano ou de sua situação histórica e o projetam num universo diferente em qualidade, um mundo completamente novo, transcendente e sagrado”.

A fim de elucidar o Nosso Humanismo, é preciso compreender a definição do sagrado e seu efeito na vida do homem. Entretanto, o sagrado é irredutível, o que torna complexo definir o seu sentido.

Assim, apresentaremos alguns conceitos que a filosofia nos propõe;

O principal ponto de partida na compreensão da existência do sagrado é originado de uma dualidade: o sagrado e o profano. “A ambivalência da divindade constitui um tema encontrado em toda história religiosa da Humanidade. O sagrado atrai e atemoriza simultaneamente o homem”.

A sacralidade separa o natural do sobrenatural. Lançada essa dualidade, expõem-se as características que formam seus modos de ser. O sagrado é a experiência de uma realidade e a fonte da consciência que existe no mundo. O sagrado é sempre a revelação do real, a realidade por excelência, o encontro com o que orienta e que fornece um sentido à existência.

O profano, ao contrário, é tudo o que desorienta o homem. Subtrai-lhe o sentido da existência e o projeta ao caos. O profano está cheio do que é irreal; o sagrado, por sua vez, está completo do real e da ordem cósmica.

– O sagrado é qualitativamente diferente do profano, embora possa se manifestar na profanidade por intermédio de hierofanias: manifestações do sagrado, ou quando o sagrado se nos revela. Elas ocorrem quando o sagrado é percebido em qualquer objeto (pedras, animais, plantas, instrumentos de trabalho, o Pavimento Mosaico, o Oriente, a posição dos Oficiais, o Delta Sagrado, Candelabros, Altares, Espada Flamejante etc.). As hierofanias equivalem às maneiras de percepção da realidade do homem integral.

O sagrado é um arquétipo transcendental que fundamenta e revela as relações existenciais no Mundo. Suas modalidades correspondem aos modelos essenciais do ser do homem “religioso”. Logo, todo ato que o homem arcaico efetua só têm sentido no mundo sagrado. O encontro do homem com o sagrado desperta-o para a existência de valores absolutos referenciais para seu modo de ser, levando-o a rejeitar o modo profano de vida.

O sagrado é uma “visão do Mundo” capaz de assegurar a existência em sua plenitude, na medida em que lhe fornece o valor total e o sentido último do modo-de-ser do verdadeiro iniciado.

O sagrado e o profano fundamentam duas formas de existência que o homem assumiu no mundo. Com isso, há outras questões que devemos nos interrogar: como definir o modo de existir do homem no mundo sagrado e sua existência no mundo profano? Quais implicações decorrem ao se assumir uma dessas duas modalidades de existência?

Ora, assim como existe a dualidade entre o sagrado e o profano, existe, também, a dualidade do homem no mundo, a saber, o homem “religioso” e o homem “profano”. Essa dualidade só existe devido à presença do sagrado em oposição ao profano.

O “Homo religiosus” é caracterizado pela vida no âmbito do mundo sagrado, que se constitui em uma existência aberta e que permite transcender-se. A vida é vivida num plano duplo, a própria existência humana e a vida trans humana ligada ao cosmos ou ao divino.

O “Homo religiosus” é aquele sedento do Ser, quem sempre está em contato com o sagrado que, por sua vez, lhe confere uma dimensão ontológica à existência. Toda ação realizada simboliza uma repetição do que seu “deus” fez no passado.

Fundamentados nessa concepção é que apreendemos o modo de ser do arcaico em relação ao espaço circundante. Não tardaremos a perceber que também o espaço é constituído a partir de uma oposição entre o sagrado e profano. Com isso, para entender melhor essa relação do homem com o espaço, indagamos: como o iniciado nos augustos mistérios percebe o espaço? Qual é o papel do espaço sacralizado em sua existência? Quais implicações surgidas desse contato? Há diferença na percepção do espaço do homem maçom e do homem não maçom?

Essas são as dúvidas que podem nos desvelar o modus vivendi do homem arcaico e, por conseguinte, os novos paradigmas do Nosso Humanismo.

O Tempo

Assim como é preciso interpretar a existência do mundo e do homem a partir da dualidade sagrado e profano, o mesmo se dá para compreendermos a concepção do tempo. A noção do tempo é de vital importância para o homem “Teísta ou Deísta”. É por meio do tempo que o sagrado e o homem são contemporâneos e garantem suas coexistências. Sem isso, o sagrado perderia o sentido para o homem arcaico e se esgotaria o significado de sua vida. O que desejamos compreender são questões implicadas no conceito de tempo. Como o homem “religioso” percebe o tempo? O homem não “religioso” tem a mesma percepção de tempo que a do homem arcaico? O que significa o conceito templum-tempus? Qual a importância das festas comemorativas dos solstícios de inverno e de verão e dos rituais na relação do homem maçom com o tempo? O que os mitos dizem sobre o tempo? O tempo sagrado está camuflado no mundo do homem profano?

Na autêntica vertente inglesa da Maçonaria, que é Teísta, geralmente o Craft (Ofício ou Arte) determina a idade simbólica do Maçom por tempo determinado, ou seja, pura e simplesmente como “X” anos. Isso se explica porque a doutrina de aperfeiçoamento de determinado Grau no Ofício é ilustrada pelo completo domínio das Ciências e Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas preleções sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada em caracol (sinuosa) que é constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das Ciências ou Artes da Antiguidade.

Na verdade, essa alegoria faz referência a que a Árvore da Vida, situada no topo da escada sinuosa, só será alcançada por aquele que possuir completo domínio das Ciências e Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.

Essa ideia de concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada um dos anos (vida simbólica), de tal modo que cada ano seja uma qualidade própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática da moral, como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências correspondente ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a construir conforme as exigências da Arte. Em síntese é o processo de moral elevado que se aplica na construção da Obra da Vida.

Ainda na vertente inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Maçom, aparece também a alegoria da Estrela que é encontrada no Painel do Primeiro Grau ficando ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei Sagrada e vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira equidistante, arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais – Fé (cruz), Esperança (âncora) e Caridade (mão em direção à taça).

Para relacionar essa alegoria à idade completa do Maçom completos, ou de tempo determinado, somam-se às Três Virtudes Teologais as virtudes cardeais – Prudência (originalmente “sapientia” que em latim significa conhecimento ou sabedoria, dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida", sendo por isso considerada a virtude mãe humana), Justiça (que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido), Fortaleza (ou Força) que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem) e Temperança (ou Moderação) que "modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados", sendo por isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres), cujos símbolos encontram-se representados pelas quatro Borlas colocadas nos quatro cantos do mesmo Painel.

Interpreta-se esse emblema relacionado ao tempo de vida simbólico do Maçom como “a obra construída é a vida do próprio homem, desde que pautada pelos princípios da crença em um Arquiteto Criador, pela confiança em atingir o seu objetivo com complacência e benevolência e vivida pelo princípio da moderação, do comedimento e da resolução, de modo firme e constante”.

Na vertente francesa, diferente da inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito a sua compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador da Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve os três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante de um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.

Sob a ótica filosófica do deísmo a Maçonaria francesa, especulativa por excelência, viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com a Natureza.

Nessa concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático da morte e do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos naturais que faz corresponder as estações do ano com as etapas da existência humana.

Apesar do ideário do “morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do ensinamento maçônico, ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do escocesismo simbólico.

Assim, na alegoria iniciática Homem/Natureza, sugestivamente a primavera representa o nascimento e a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a maturidade; o inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.

Isso explica e até justifica, por exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no Templo do R.E.A.A., já que o seu simbolismo indica que cada ciclo é um tempo existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da vida – o Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre a maturidade (Meia-Noite). Na verdade, tudo se reporta à transformação e ao aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).

Outra consideração importante no rito em questão é a da existência dos três candelabros de três braços que acolhem as Luzes litúrgicas, os quais se situam, um sobre o Altar destinado ao Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas destinadas aos Vigilantes.

Dessa concepção de filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se criou estruturalmente a idade de “X” anos e mais, para determinado grau de Maçom do R.E.A.A.

Desse modo, esse enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o renascimento da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por ocasião do inverno quando a Terra fica viúva do Sol.

O Tempo De Nove Meses.

É esse tempo existencial que explica a idade do Maçom, também, possuir algo mais além dos “X” anos, já que simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza é de nove meses, a contar desde o início da primavera até o final do outono. Daí a razão dos “X” anos e (ou) Mais. Na verdade, vai além do número sete (criação) até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o Esquadro e o Compasso).

Assim se explica a disposição do mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros com as três Luzes litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os nove meses de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os três meses de inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do Sol (dias curtos e noites longas). É dessa alegoria solar absorvida dos cultos solares da antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a despeito de que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante o inverno.

Por fim, é essa a síntese da explicação dessas variações aparentes que nos apresentam as tradições ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da Maçonaria Especulativa é sempre o mesmo, o de forjar um novo homem nos seus canteiros simbólicos (Loja), entretanto, mesmo de objetivo único, os métodos muitas vezes se diferenciam. Assim não há como se generalizar procedimentos na liturgia maçônica. Tradições, usos e costumes muitas vezes são particularidades de cada um dos sistemas maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o que significa cada processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime Instituição. Para cada gesto, para cada símbolo ou procedimento na liturgia dos ritos maçônicos, desde que sejam autênticos, sempre existirá uma explicação lógica.

O Espaço

A noção de espaço para o verdadeiro iniciado é heterogênea, pois existem rupturas que separam o mundo sagrado do mundo profano. A, “[...] divisão binária do espaço é generalizada ao universo inteiro. Os pares de opostos são, ao mesmo tempo, complementares. O princípio da polaridade parece ser a lei fundamental da natureza e da vida.  As rupturas se manifestam por hierofanias que ocorrem quando o sagrado se revela. Todo o espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que destaca um território do meio cósmico que o envolve e o torna qualitativamente diferente.

As hierofanias, vitais para o modo de ser "Iniciático”, permitem mudar o regime ontológico dos objetos e locais aparentemente insignificantes que, desde o instante em que incorporam o sagrado, tornam-se arquétipos inestimáveis aos olhos de todos que participam da mesma experiência.

O mundo no qual a presença e ação do homem se realizam – as regiões povoadas e cultivadas, os rios que fornecem as condições de produzir o alimento, as montanhas escaladas e desbravadas, as cidades, as casas e os templos – existem porque, antes, está presente um arquétipo que escapa à dimensão material. O espaço sagrado é compreendido como um modelo ou “cópia” do que há no nível cósmico, que faz com que a área habitada pela cultura religiosa seja considerada uma terra sagrada.

O homem “arcaico” vive em um mundo simbólico. Para ele, o mundo está vivo e aberto. Portanto, um local ou um objeto nunca são simplesmente eles mesmos, mas sempre o sinal de uma realidade que transcende o ser daquilo diante dele. Quando meteoros caem do céu, estão carregados de sacralidades: o local em que se encontram também se torna santo, pois eles vieram do céu, local habitado pelos “deuses”. Dessa forma, Ka’aba, em Meca, se tornou uma cidade sagrada para o Islamismo. O povo de Israel, quando vagueava pelo deserto, chefiado por Moisés, levava seu acampamento de um lugar para outro somente quando a nuvem, que simbolizava Javé, se levantava acima da tenda. Logo, “[...] a noção de espaço sagrado implica a ideia da repetição da hierofania primordial que consagrou este espaço transfigurando-o, singularizando-o, em resumo, isolando-o do espaço profano a sua volta”, também. O nosso Templo Sagrado e separado ou isolado do mondo profano por suas duas Colunas vestibulares “J” e “B”.

O espaço sagrado encontra-se isolado do espaço profano. Mas o que representa? O que o torna diferente para ser distinto do espaço profano? Ele representa o ser, o real, o cosmos que se revela como ponto fixo, centro do mundo – o que equivale à criação do mundo – sustenta sua existência, isto é, tudo o que é verdadeiro e perfeito, lugar em que se encontra e se pode estar em comunhão com a divindade.

“Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tire a sandálias de teus pés, porque o lugar onde te encontras é uma terra santa”. Local que representa o princípio de todas as coisas, “[...] o sagrado revela a realidade absoluta e, ao mesmo tempo, torna possível a orientação – portanto, funda o mundo, no sentido de que fixa os limites e, assim, estabelece a ordem cósmica”. Em contrapartida, tudo que está fora desse espaço é profano, estrangeiro, amorfo, desconhecido, lugar do caos.

O espaço sagrado é utilizado como um local de retorno para renovação de energia e vitalidade. Adentrar em sua extensão significa tomar parte de uma fonte inesgotável de força e de sacralidade.

Tratamos de um povo primitivo, de uma sociedade arcaica. Existem diferenças na percepção do espaço e do tempo do homem religioso e do homem moderno? Como o homem não-religioso percebe o espaço em que vive?

Para a experiência profana, o espaço é homogêneo, neutro, sem nenhuma orientação sacralizada. O ponto fixo que permite ao homem arcaico escapar da homogeneidade caótica do espaço, na vida do homem não-religioso não goza de um estatuto ontológico único, pois surge e desaparece segundo as necessidades cotidianas. Assim, a mudança de moradia não significa, necessariamente, uma mudança transcendental que exige um ritual de consagração. Para o homem dessacralizado, o espaço no qual se encontra não é dotado de simbolismos espirituais. No entanto, ainda surgem espaços que matizam o que foi dito acima. Alguns não são homogêneos para o homem profano, como locais especiais que lhe trazem lembranças e se tornam “sagrados” em sua singularidade.

Ainda, quanto ao tempo, o homem integral, seja ele teísta ou deísta, concebe o tempo de forma heterogênea: o sagrado e o profano.

O tempo sagrado tem, por natureza, a capacidade de ser reversível, circular e repetível. Encontra-se nele a possibilidade do retorno a seus primórdios, a renovada apreensão de seu modelo originário de vida, pois ele mantém-se sempre igual, não se esgota. Nele se revela um período especial na vida do homem arcaico, que o tira do tempo ordinário e o coloca em contato com o sagrado.

Por sua vez, o tempo profano é o tempo do cotidiano, sem sentido, onde ocorrem atos privados de significados sacralizados. Mas em que se distingue o tempo sagrado da duração profana que o precede e lhe sucede? Nosso entendimento é que qualquer momento do tempo pode se tornar sagrado por sua hierofania. Quando isso ocorre, o tempo passa a ser transfigurado, consagrado, comemorado e repetível infinitamente.

De fato, uma das principais diferenças que separa o homem “arcaico” do homem “moderno” se encontra na incapacidade em que esse tem de viver a vida orgânica como um sacramento. Com efeito, em consequência disso, as grandes crises do homem moderno ocorrem quando este se lança no mundo sem consciência de seu sentido de existir nesse mundo. Somente ao se lançar na busca da compreensão do sagrado, o homem encontrará a revelação do sentido de sua existência.

Ao conceber o mundo com um sentido sagrado, ao perceber o tempo como uma possibilidade de eterna repetição dos gestos exemplares míticos e um retorno às fontes sagradas e do real e, ao perceber o espaço como um estar junto à divindade, o homem transcende seus limites e é salvo do nada e da morte. Habita um mundo ordenado e carregado de sentido. Goza de uma ordem interna e se sente mais forte para viver.

Eis o porquê da sacralidade na maçonaria!

TFA

LuCaS

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

ARQUITETURA DO TEMPLO DE APRENDIZ NO R. E. A. A. SEGUNDO THEOBALDO VAROLI FILHO

 

1. O TEMPLO DE APRENDIZ E SEU SIMBOLISMO - A Maçonaria Simbólica ou Azul é constituída de três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. O Simbolismo é governado por instituições independentes e soberanas, denominadas Grandes Orientes ou Grandes Lojas. Estes corpos maçônicos congregam lojas maçônicas de determinadas regiões. Os graus acima do 3° são dirigidos pelos Corpos Maçônicos de cada Rito, sem interferência no Simbolismo. Porém, as lojas simbólicas, devem seguir a doutrina essencial e os métodos de cada Rito. Além disso, maçom que não pertença ou não permaneça no Simbolismo não pode pertencer a graus acima do 3°. Os graus superiores ao 3° constituem complementos e aperfeiçoamentos da ciência maçônica adquirida nos graus simbólicos.

Rigorosamente, cada grau maçônico tem o seu Templo. Como seria muito dispendioso construir um edifício maçônico dotado de compartimentos para todos os graus, usam-se determinados cenários num mesmo recinto, mediante cortinados de várias cores e diversos ornamentos.

 O edifício de uma Loja pode chamar-se Palácio Maçônico ou Oriente do lugar, bairro ou cidade. Nos saguões das estações rodoviárias e ferroviárias e nos aeroportos, quando for permitido, as Lojas de cada Oriente devem expor um cartaz que mencione o endereço da Oficina, escrito em vários idiomas, se possível.

Dá-se o nome de Templo Maçônico ao lugar principal em que os maçons trabalham. Esse lugar deve ser entendido, de modo simbólico apenas, como uma faixa entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. Os trópicos são assinalados pelas duas colunas vestibulares do Templo de Salomão. JAQUIM e BOAZ (I-Reis, 7/21 e Crônicas ou Paralipômenos, II, 3/17). Embora essas colunas erguidas por Hiram ficassem no Oriente, como os dois, Obeliscos principais dos antigos templos egípcios; a Maçonaria, para facilitar uma síntese de conhecimentos, as coloca à entrada de seus Templos, isto é, no Ocidente e para simbolizar que no local existe um Oriente Maçônico. Internam-se as duas colunas no recinto secreto somente quando, por economia, se fazem adaptações numa sala, mais para, simular um átrio entre as duas colunas é a Porta. Em templo construído de modo apropriado, a internação das duas colunas é inadmissível. As duas colunas se não for possível colocá-las à entrada do átrio, como é de rigor, devem ladear a Porta e esta, por sua vez, feita no estilo salomônico, deve ser de quatro folhas, possuir um pequeno postigo e abranger, se possível, quase toda a extensão divisória do Ocidente. Abrem-se apenas as duas folhas centrais da porta, geralmente (I - Reis, 6/2 e 3 e II – Crônicas, 3/3 e 4). A Porta do Templo Maçônico existe, não para imitar propriamente o Templo de Salomão, mas para cobrir os trabalhos maçônicos, que são secretos e não podem ser vistos nem ouvidos fora do recinto (I/Reis, 6/7).

Entende-se a Loja como um parlamento ou congresso instalado no Templo de Salomão. Ensina-se, no Rito Escocês Antigo e Aceito, que essa tradição se origina principalmente dos Templários. A Ordem dos Cavaleiros do Templo, fundada em 1118, passou a reger-se pelos estatutos projetados por São Bernardo. Nesses estatutos mencionou-se que símbolo principal da Ordem e de seus Cavaleiros, inclusive os das Cruzadas, era Templo de Salomão, padrão das obras perfeitas dedicadas a Deus e expressão lata da doutrina de Abraão, pacífica entre judeus, cristãos e muçulmanos. Essa ideia já preconizava um fator de fraternidade, cujo maior exemplo foi de São João de Jerusalém, ou São João Esmoler ou Hospitaleiro, lendária figura de um príncipe de Chipre, que, ao tempo das Cruzadas, renunciara aos seus direitos de sucessor ao trono, para socorrer feridos, fundar um hospital e praticar a caridade.

2. EXTENSÃO SIMBÓLICA DE UMA LOJA - Simbolicamente, Templo Maçônico é Cósmico ou Universal ou Ordem e Universo (na Grécia, "kosmos" era tudo isso). Assim, uma Loja pousa sobre uma faixa retangular representativa de qualquer parte da superfície da Terra, cujo centro é do planeta, cuja altura é Zênite, cujo comprimento é do Oriente ao Ocidente e cuja largura é de Norte a Sul, sem limites, como o Universo, a Eternidade e a Caridade Maçônica.

3. DIMENSÕES MATERIAIS OU TERRENAS DE UM TEMPLO MAÇÔNICO - Atendendo-se exclusivamente a medidas simbólicas e não aos limites externos do Templo de Salomão, a área de um Templo Maçônico, abrangendo o recinto de trabalho secreto e o Átrio, deve ser de comprimento igual, ao triplo da largura, de modo a formar três quadrados perfeitos; o Oriente, o Meio e, o Ocidente. O Átrio deve ser igual à metade do quadrado do Ocidente, eis que, entre ele e o quadrado do Oriente, deve haver uma extensão de quadrado e meio, retangular. (1 - Reis, 6/2 e 3 e II - Crônicas, 3/3 e 4).

Nem todas as Lojas podem dispor de terrenos adequados a essas áreas. Além disso, quando há frentes reduzidas, deve-se evitar que o Templo se transforme num corredor. Toleram-se, pois, medidas aproximadas ou disfarçadas, ou substituídas pelo Pavimento Mosaico, mas nunca se dispensa o formato de um quadrilongo ou paralelepípedo retangular.

Existem, ainda, as medidas chamadas sublimes ou doiradas, fundadas em pretextos pitagóricos e ocultistas e, principalmente, no padrão usado na Idade Média, pelos Maçons Operativos construtores das Catedrais. Tais medidas são baseadas na proporção de 1 de largura por 1,618 de comprimento, mas nesse caso o Oriente tem de ser apenas retangular de largura, para que o restante do recinto fique exatamente com a área de um quadrado perfeito. Essas medidas devem ser evitadas no Rito Escocês Antigo e Aceito, de tradições templárias.

4.- AS COLUNAS PRINCIPAIS – Devem ficar no Átrio, à entrada deste ou junto às paredes Norte e Sul, ladeando a Porta do Templo. Atualmente se recomenda que as duas colunas, sempre de cor de bronze, e nunca das cores vermelha e branca, da Magia medieval, tenham as características mencionadas na Bíblia (I Reis, 7/15 a 22 e Crônicas, 2°, 3/15 e 4/12 e 13). As duas colunas, babilônicas e, por conseguinte, desproporcionais, podem ser feitas também de gesso pintado, de plástico ou de madeira bronzeada, embora se entendam simbolicamente ocas. Seus motivos principais são egípcios, eis que os construtores fenícios também empregavam estilos mistos ou sincréticos. Daí as bases das colunas, sempre arredondadas, devem ser largas até certo ponto do fuste. Este vai-se estreitando um pouco até o capitel, que termina em forma de açucena, dentro e em torno da qual se colocam as redes e as romãs, estas em número de três, no mínimo. Dois globos podem encimar as colunas: a Terra e a Esfera Celeste. Na base das colunas esculpem-se folhas de papiro, ou lotos, estes, para lembrarem a universalidade e aquelas a simbolizarem o material em que se escreve para sempre e com o qual Ísis, a Grande Viúva, construiu um barco à procura dos despojos de seu marido e irmão Osíris, o que vem a ser uma configuração da eterna busca do transcendental.

Para evitar confusões resultantes de inversão da posição das colunas, recomenda-se que no fuste das mesmas não se coloquem as iniciais J e B, nem em língua pátria, nem em caracteres hebraicos. No Rito Escocês Antigo e Aceito a coluna Jaquim ou "J" deve ficar à direita de quem entra no Templo, isto é, no lado Sul. A coluna Boaz ou "B" deve ficar ao Norte, formando um par com a outra.

É condenável esculpir as duas colunas nos estilos gregos, inclusive o coríntio, que não existia nos tempos de Salomão, eis que veio a definir se na era alexandrina: O modo errado resultou de enganosas interpretações derivadas de filósofos neoplatônicos e alexandrinos da Idade Média, principalmente, dos cabalistas medievais que desejavam fundir as ideias da Cabala com a filosofia grega.

5. CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS E FUNCIONAIS DE UM TEMPLO MAÇÔNICO - Desde que se respeitem as regras do Simbolismo Maçônico, nada impede que um Templo e seus compartimentos sejam construídos e ornamentados de acordo com a Arte sempre atualizada e os requisitos mais modernos

 Assim, as antigas velas podem ser substituídas por lâmpadas elétricas, salvo quando o rito, em certas práticas, exigir o velho costume. Todo o sistema elétrico de iluminação deve ficar sob o comando de um painel, ao cuidado do Irmão Arquiteto ou de outro Obreiro, de maneira que as luzes se apaguem ou se acendam nos lugares devidos e conforme o ritual. 

Por sua vez, a decoração deve ser entregue a artistas especializados. Não há apegar-se a mitos, como o de não se admitirem janelas num Templo Maçônico. Basta fazer com que as aberturas não permitam que do exterior se veja o recinto, ou algo se escute dos trabalhos sigilosos. Permitem-se cúpulas altas e fenestradas, de janelas oblíquas, que aproveitem a luz do Sol poente e nascente, como no Templo de Salomão. Vitrais na Abóbada e no alto das paredes podem representar a Esfera Celeste. Um vitral circular, no alto do teto, facilita a representação das Constelações e a pintura dos Signos Zodiacais, ao redor.

As paredes e o teto do Templo de Aprendiz devem ser azuis-celestes e estrelados rigorosamente de acordo com o Mapa Celeste, como se apresenta no padrão das cosmografias. Para se cumprir uma tradição do escocismo deve permitir-se que a decoração, e não a cor seja dominantemente vermelha e restrinja-se aos cortinados, à tapeçaria em geral, às almofadas e a certos ornamentos. As Lojas que ainda mantêm a cor vermelha nas paredes devem conservar a pintura tradicional.

Estrelar o teto do Templo é apenas uma lembrança dessa maneira de decorar adotada no antigo e majestoso Templo de Luxor, dos egípcios. Paredes e teto simplesmente azuis-celestes satisfazem o ritualismo maçônico, desde que se representem na Loja o Sol e a Lua e, entre estes dois astros, a Estrela Flamígera. É essa a verdadeira posição dos três símbolos, embora se admitam variações.

Também se pode decorar o céu da Loja assim: no centro do teto, três estrelas da constelação Órion; das mesmas ao nordeste, às Plêiades, as Híadas e Aldebaran e; na posição adequada, Regulus, de Leão; ao norte, a Ursa Maior; a nordeste, Arcturus (vermelha); a leste, a Espiga, da Virgem; a oeste, Antares; ao sul, Fomal-Haut; os planetas Júpiter e Vênus, respectivamente, no Oriente e no Ocidente; Mercúrio, perto do Sol e Saturno, próximo a Órion. O Sol se deslumbra no Oriente, com a claridade da Aurora. É o Dia. Ao passo que a Lua, no Ocidente, num fundo escuro e ornado de nuvens discretas, dispersas e calmas, representa a Noite. É aproveitável também a ideia de se projetarem estrelas, planetas e satélites no teto da Loja, por meio de aparelhos refletores.

A Maçonaria Oculta chama de Estrelas Principais, as três de Órion, as cinco Híadas e as sete das Plêiades. Aldebaran, Arcturus, Regulus, Antares e Formal-Haut são denominadas Estrelas-Reais. 

Também se usa pintar o Hemisfério Celeste correspondente ao local, ou toda a Esfera Celeste, no padrão cosmográfico. No Brasil é tradição aparecer principalmente o Cruzeiro do Sul.

As estrelas podem também ser esculpidas ou representadas por pequenas lâmpadas ou pontos luminosos. 

6. O PAVIMENTO MOSAICO - Rigorosamente e como exige a Maçonaria Clássica, é todo o chão do Templo, inclusive o do Átrio. Os antigos rituais do escocismo ora o mencionavam, ora não. No escocismo, ele é o ladrilhado branco e preto, mas em diagonal e não como um tabuleiro de xadrez. Os ladrilhos devem ser de tamanho que proporcione a medida dos Passos Regulares, que no Rito geralmente são seguidos com os pés em Esquadro abertos para a frente, isto é, da maneira mais natural. Entre outros significados que serão explicados em Instruções, o Pavimento é o caminho de Pedras Lavradas em que se firmam os passos daqueles que se livram das trevas, e de um mar de lama (Bíblia, Salmos, 40/2 ou, na Vulgata, 39/2).

O Pavimento é Mosaico, não por se assemelhar a uma figura de pedras justapostas, como as obras assim chamadas, mas pelo fato de existir uma lenda pela qual Moisés teria assentado pedrinhas coloridas no chão da Tenda que abrigava o Tabernáculo (Pavimento Mosaico, de Moisés ou judaico).

Quando não se puder revestir todo o chão da Loja com ladrilhos brancos e pretos (ou madeira clara e escura), procura-se assoalhar da mesma maneira a faixa de passagem entre o Oriente e a Porta do Templo. O uso de tapetes não é conveniente, a menos que a Loja seja obrigada a funcionar em recintos adaptados.

7. A ORLA DENTEADA - Contorna todo o Pavimento Mosaico e não deve interromper-se, razão pela qual deve ser como uma guarnição junto às paredes e ao longo da Porta do Templo. Em não sendo possível tal disposição, ela deve figurar no alto das paredes, à altura da Corda de Nós.

8. A GRADE DO ORIENTE - É uma balaustrada ou um pequeno muro que separa o Quadrado do Oriente, distinguindo-o do resto do recinto. Deve ser interrompida num espaço igual ao da faixa de passagem central e, para não encobrir a Orla Denteada, deve ser lateralmente um tanto separada das paredes Norte e Sul. Pode ser ladeada de colunas proporcionais, diferentes daquelas que já estão representadas na Loja, isso para completar as cinco ordens clássicas: Dórica, Jônica, Coríntia, Compósita e Toscana.

9. O ORIENTE E O TRONO - É de bom gosto construir o fundo do Oriente com uma parede curva e projetada sobre o lado extremo do Quadrado. Isso realça do Trono de Salomão, no qual tem assento exclusivamente o Venerável ou o Grão-Mestre, sem exceção, O Trono fica sob majestoso dossel, cujo alto nunca deve ser como um pálio ou um toldo de cobertura, mas um discreto ornamento, como uma coroa cortada ao meio e da qual pendam cortinas de veludo vermelho, de tal forma dispostas que não cheguem a cobrir o Retábulo ou Painel do Oriente. Todo o dossel, com seus cortinados, pode ser uma escultura de gesso ou de argamassa devidamente suportada. Se não for possível a colocação da Estrela Flamígera no alto e no meio do Templo, entre o Sol do Oriente e a Lua do Ocidente, o emblema deve ficar no alto da pequena cobertura do dossel, ostensivamente e no lugar onde; de um modo geral, figuram o Compasso e o Esquadro cruzados em torno da letra "G".

Atrás do Trono e junto à parede está o Retábulo ou Painel do Oriente, de fundo azul-celeste emoldurado de vermelha e dourado, como os ornatos do dossel, e ladeada de duas meias-colunas, ou Salomônicas (espiraladas), ou, preferivelmente, jônicas (Sabedoria). O fundo também pode ser liso e moderno, com as figuras pintadas ou incrustadas na mesma superfície da parede. O Triângulo Radiante, equilátero e de base horizontal, como o imaginou Xenócrates e outros para representar a Divindade, deve ser a figura central e luminosa, se possível. Para que jamais seja encoberto pela pessoa do Venerável (mesmo de pé), deve ser numa altura conveniente, entre o Sol (Osíris, Atividade, Sabedoria etc.) e a Lua (Ísis, Passividade, Amor, Reflexivo etc.), o astro-rei do lado do Orador da Loja e o satélite do lado do Secretário. Se o Templo foi construído quando o Orador se sentava ao Sul (o que estava mais certo), deixa-se a configuração.

No interior do Triângulo Radiante ou Delta Sagrado há um Olho Esquerdo - O Olho Onividente, a Verdade d'Aquele que É, Foi e Será. O símbolo também lembra Horus, o filho da Viúva Ísis, aconselhado por seu pai Osíris a lutar pela Verdade, contra o Mal (Set ou Tifão). É permitido, porém, substituir o Olho Que Tudo Vê pela figura da Estrela Flamígera, com a letra “G”, no centro, ou, simplesmente, pela letra IOD, do Tetragrama hebraico, ou, mesmo, pelas quatro letras IOD-HÉ-YAU-HÉ gravadas à maneira hebraica, inversamente ao modo ocidental.

O Oriente de um Templo Escocês deve ser mais alto. Sobe-se a ele por quatro degraus à entrada da Grade, ou por um só degrau. Porém, essa regra não é mais obrigatória, diante da arquitetura maçônica funcional e moderna, que tem apresentado Templos de um só plano muito mais bonitos. O importante e indispensável é que o Trono do Oriente esteja sobre um plano de três degraus. Por outro lado, é absolutamente rigoroso que a Cátedra do Trono seja isolada e distinta das demais, que a circundam, ainda que possam ficar num mesmo plano. Para melhor efeito a parte da mesa destinada ao Venerável deve ser mais alta do que as partes laterais, tudo na devida proporção.

10. PEDRA, CEDRO DO LÍBANO e OURO - São representações que jamais podem faltar num Templo do Simbolismo Escocês, para o qual, esotericamente, a Pedra representa Estabilidade, o Cedro a Vitalidade e o ouro a Espiritualidade. Releva-se que o Templo de Salomão continha esses três elementos principais, que a Maçonaria substituiu simbolicamente por Pedras Lavradas ou Mármore, Madeiras de Lei e ornatos dourados.

11.  MOBILIÁRIO E OUTROS ORNAMENTOS DE UMA LOJA DE APRENDIZ-MAÇOM - Em que pese à tradição, em Loja Maçônica usam-se cadeiras confortáveis para todos, e não mais os incômodos bancos de Aprendiz e Companheiro, de antigamente. Também já está em desuso construir o Oriente, o Norte e o Sul em planos mais altos. Basta que se suba ao Trono do Oriente por três degraus, ao altar do 1° Vigilante por dois degraus e ao do 2° Vigilante por um só degrau. Convém que o Trono e esses dois altares estejam sobre planos circulares ou semicirculares, com degraus do mesmo formato e com todo o conjunto (de Cátedra, Mesas e estrados) devidamente separado, para facilitar a circulação dos Obreiros.

A Loja é governada por um Triângulo de Três Mestres ("tres faciunt collegíum"): o Venerável Mestre, o 1° Vigilante e o 2° Vigilante, que ocupam, respectivamente, o Trono, o altar norte - ocidental, ao lado da faixa de passagem, e o altar situado no Sul, no meio dos Obreiros e de frente para o Equador, isto é, num Meridiano imaginário ou Meio-Dia. Os três titulares são portadores do Malhete, símbolo de autoridade democrática e evolução do antigo cetro real. 

A mesa do Venerável pode ser comum, retangular ou mais elevada no meio, e pode possuir um complemento frontal de forma prismático - triangular, a apontar para o Ocidente, o que dispensa o chamado Altar de Juramentos. Mesa (altar-mor) e Cátedra ficam sob o dossel. A Cátedra é de espaldar alto, esculpido de motivos maçônicos na cabeceira (Esquadro e Compasso entrelaçados, etc.). Pode-se ladear o espaldar com duas molduras salomônicas ou jônicas, o que empresta mais simbolismo ao conjunto. A mesa pode ostentar na face frontal o Esquadro, que é a joia do Venerável. Diante da face frontal sul da mesa, verticalmente e fixado num pequeno cavalete preso ao último degrau do Trono, coloca-se um quadro que contém a Carta Constitutiva da Loja e, no lado norte, igualmente disposta, coloca-se a Prancheta, gravada com as Paralelas Cruzadas e o X de ângulos opostos pelo vértice, expressões do limitado e do infinito, que servem à composição do Alfabeto Maçônico. Sobre a mesa deve haver sempre, além do Malhete, a Espada Flamígera (de lâmina, serpeante ou de fogo, prevista no Gênesis ou Bêrezith, 2/24), e, mais, o material de escrita, um volume dos rituais simbólicos e outro de todas as leis e regulamentos maçônicos vigentes. Se a mesa não possuir molduras de meias, colunas jônicas (Sabedoria), sobre ela pode estar pousada uma miniatura correspondente. É de bom gosto e muito simbólico ostentar ao norte do trono uma estátua de Minerva, cuja imagem também pode ser pintada à moda acadêmica ou por filamentos, em local conveniente da parede oriental. Se a mesa servir de altar de Compromissos ou de Juramentos, como tem servido originalmente, devem estar sobre ela um Livro da Lei Sagradas (Bíblia, ou o Código Moral da religião do iniciado), o Esquadro e o Compasso. Tal disposição deve ser adotada para aqueles cuja crença não admita a genuflexão, embora esta, no Rito Escocês 'constitua uma tradição haurida dos Cavaleiros do Templo, ao serem consagrados.

Para as ocasionais genuflexões (somente em iniciações), coloca-se no Oriente, diante do altar do Venerável, mais um pequeno móvel de superfície triangular, quadrada ou circular, de mais ou menos 60 cm. de altura. Trata se do Altar de Juramentos, já consagrado pelo uso e como complemento do altar frente ao Trono. Pode-se assentar a parte útil sobre uma coluna jônica, baixa, o que dispensa o mesmo ornamento na mesa do Venerável. Convém, entretanto, que esse altar contenha uma parte frontal ou face, ostensiva, na qual figurem o Círculo Entre Paralelas Tangenciais e Verticais e a Escada de Jacó, como os símbolos ascendentes das Três Virtudes: Fé, Esperança e Caridade, (Cruz Grega. Âncora e uma Lâmpada antiga, de bico, ou um Cálice ou Graal de comunhão e Amor ao Próximo). No topo da Escada há uma Estrela de Sete Pontas. O Círculo entre Paralelas verticais sugere que o Sol não transpõe os Trópicos, lembrando ao Maçom que a Consciência religiosa de cada Irmão é inviolável. Lembra também a antiquíssima tradição de se comemorarem os inícios do Verão e do Inverno, em festas que as Corporações medievais inclusive a dos Pedreiros Livres, passaram a realizar nas datas de S. João Batista (24 de junho) e São João Evangelista (27 de dezembro). As grandes reuniões maçônicas são feitas nessas datas. Há lembrar, mais, que por Loja de São João deve entender-se uma tríade pelos dois santos e mais o já citado São João de Jerusalém (excluído da liturgia católica). Não há qualquer configuração religiosa nessa tríade. O motivo maçônico é puramente histórico. Quanto às Paralelas, representam, além dos trópicos de Câncer e de Capricórnio, Moisés, que instituiu o Governo da Lei e não dos homens, e. Salomão, o Pacífico e Sábio, construtor do Templo que evoluiu da Tenda. No escocismo, principalmente, as paralelas representam João, o Batista e Precursor, e João, o Evangelista, Seguidor e Pregador. Num Templo Maçônico falam todos os símbolos e todas as partes.

O Círculo entre Paralelas e a Escada de Jacó podem ser esculpidos na face frontal da mesa do Venerável, se for plana a superfície. Ou podem ser discretamente pintados no Retábulo. Ainda, podem constar de um Painel Alegórico, Semelhante ao de Harris (do século passado).

Os altares do Venerável e dos Vigilantes levam cada qual um candelabro tríplice, cujos focos ou lâmpadas se colocam à maneira de três pontos ou vértices de um Triângulo Equilátero. Os candelabros podem ser postiços e cambiáveis e colocados livremente em posições que impeçam incômodos à visão dos titulares e dos circunstantes; razão pela qual eles podem ser colocados atrás das Cátedras ou um pouco abaixo da face frontal de cada mesa, com os focos de intensidade luminosa bem fraca. Cada altar como todas as mesas de ofício, deve ter também um quebra-luz baixo que ilumine apenas a superfície útil do móvel e não difunda luz quando o Templo represente as Trevas. As Cátedras se assemelham.

A joia do 1º Vigilante é o Nível Maçônico, que tem a forma de um Esquadro ou ângulo reto superior, de cujo vértice pende um Prumo a cair no ponto meio de uma hipotenusa mediana. O instrumento é Esquadro, Nível e Prumo ao mesmo tempo, e nunca deve ser substituído por nível de bolha de ar. A joia pode ser esculpida na face ostensiva da mesa e, se esta for prismático - triangular, nas duas faces dianteiras. Importante é que haja a Coluna Dórica (Força, Poder) representada sobre a mesa ou nas quinas, ou à frente, baixa, a substituir o suporte da Pedra Bruta. Esta joia fixa deve ser acompanhada de um Maço, ovoide ou cilíndrico, de madeira e de um Cinzel ou escopo de ferro. Ao lado do titular, se já não existir a figura correspondente na parede do Norte, costuma-se colocar uma estátua de Hércules (Força), mas de maneira estética, ostensiva e não prejudicial à circulação dos Obreiros. Além disso, o 1º Vigilante tem ao seu lado o "Lugar Seguro", no qual se recolhem os instrumentos de trabalho da Oficina. Esse lugar pode ser de g vetas da mesa, se esta for ampla, ou de gavetas disfarçadas nos degraus dos dois estrados, ou de um pequeno armário lateral, a noroeste.

A joia do 2º Vigilante é o Prumo, que também é representado nas faces da mesa ou altar respectivo, no qual se inserem ou 'se acrescentam também, configurações da Coluna Coríntia (Beleza), se esta não estiver sobre a mesa, ou não servir de suporte à Pedra Cúbica ou ao Silhar (Pedra Cúbica Piramidal). Esta 2ª joia fixa deve ser acompanhada de um esmeril de pedra. A superfície em que se apoia simula pó de pedra, de mármore, ou areia colada. Uma estátua de Vênus ou de Apolo ladeia o Altar, se a figura já não estiver representada na parede do Sul.

São chamadas joias fixas e irremovíveis a. Pedra Bruta; Cúbica e a Prancheta, as quais, a rigor e se possível, devem ser cobertas, nas sessões brancas, com panos quadrados, de pano, vermelho e, nas sessões fúnebres, com panos pretos ou de crepe.

O Esquadro (Venerável), o Nível (1º Vigilante), e o Prumo (2º Vigilante) – são chamados joias Móveis, eis que se transmitem aos sucessores dos titulares.

Também ocupam mesas e respectivas cátedras o Orador, ao norte do Oriente e próximo à Grade e o Secretário, à frente dele e a sudeste, ambos nos limites da faixa longitudinal de passagem; por sua vez, aquém da Grade, ao Norte e ao Sul respectivamente e pouco distante do Orador e do Secretário, apenas s parados do Oriente, ficam os altares ou mesas do Tesoureiro e do Chanceler.

A mesa do Orador é esculpida na face frontal com vários motivos que lembrem a Lei e a Justiça, o símbolo das Doze Tábuas romanas ou do Decálogo hebraico, ou uma "rota" babilônica (Octada-Sol) que lembre as leis concedidas a Hamurabi, ou a Dungi. Uma balança por cima de um livro aberto é o mais comum. Sobre a mesa do Orador, além do material de escrita; devem ficar um volume completo das leis maçônicas vigentes, inclusive as do Regulamento da Oficina, um volume de rituais e uma coletânea dos Atos e Decretos do Grão-Mestre.

A mesa do Secretário deve ter o emblema do ofício - duas penas sobre um livro, ou num baixo-relevo, a figura do deus Nebo - o escriba do Universo, ou uma reprodução do Escrivão Egípcio.

A mesa do Tesoureiro ostenta duas Chaves Cruzadas ou uma chave sobre um cofre. Por sua vez, a mesa do Chanceler é esculpida frontalmente, e a figura é um Timbre ou Selo.

Não há obrigatoriedade de se colocarem castiçais de um só foco nas mesas do Orador, do Secretário, do Tesoureiro e do Chanceler. Um quebra-luz baixo é quanto basta.

As Três Grandes Luzes Emblemáticas - Livro da Lei Sagrada, Esquadro e Compasso - devem ficar sobre o Altar de Juramentos.

O Mestre de Cerimônias e os Diáconos usam bastões de madeira escura natural. Para o primeiro, o topo do bastão é ornado com o Esquadro e Compasso entrelaçados em torno da letra “G”, e com uma régua logo abaixo do emblema. Os dois últimos usa bastões ornados no. Topo com a Pomba Mensageira ou um par de asas mercurianas. Há variações. A direita de cada titular deve haver um suporte para cada bastão. No Rito Escocês as emblemas são doirados.

Rodeia a alta das paredes do Templo uma Corda de 81 Nós (equidistantes) natural ou esculpida, com o nó central no alto do Trono ou do dossel e quarenta nós de cada lado espalhados na direção nordeste-norte e sudeste-sul, até que as extremas terminem, ladeando a Parta, por duas Borlas. No Oriente também se adaptam à Corda, nos cantos, duas outras Borlas. Quando há somente duas Borlas, uma representa a Prudência e a outra a Justiça. Quando há Quatro Borlas; as do Oriente são a Prudência e a Justiça e as do Ocidente são a Temperança e a Coragem.

Além da Corda, pode percorrer as Paredes do Templo, até se fechar no Alto da Parta, uma Cadeia de União a lembrar a corrente de ferro com que os Pedreiros Operativos firmavam as paliçadas ou tapumes dos "canteiros”. Tanto a Corda de Nós, como a Cadeia têm significados esotéricos semelhantes, inclusive o da união dos maçons espalhados pelos quatro cantas da Terra.

Se os signos do Zodíaco já não estiverem representados em torno da abóbada do Templo, podem configurar-se por doze meias colunas, nas paredes, ou seis ao Norte e outras seis ao. Sul, ou como a descreverem um "U", com a curva no Oriente e as pontas no Ocidente, ou, ainda, duas no Ocidente, quatro ao Norte, quatro ao Sul e duas no Oriente. A comodidade e os espaços exigem, porém, que elas não sejam colocadas no fundo do Oriente. A ordem dos signos é feita à maneira de quem escreve um "U" do Norte ao Oriente e do. Oriente ao Sul. Segue a posição aparente ou real dos signos, mas é importante que Câncer fique ao Norte e Capricórnio ao Sul, acompanhando a linha dos Trópicos. As meias colunas podem ser compósitas, para se diferenciarem das demais existentes no Templo, onde se configuram sempre as cinco ordens arquitetônicas.

No Oriente há dois mastros munidos de carretilhas corrediças ou de um orifício. Superior a do Norte, verde-amarela, serve para a Bandeira Brasileira. O do Sul serve para o Estandarte da Oficina, que é levantada pelo respectivo oficial, ou recolhida, simultaneamente à declaração de que a Loja está aberta ou fechada.

É de uso maçônico brasileiro erguer o. Pavilhão Nacional em Sessões Magnas, mas a verdade é que essa prática não tem aceitação universal, embora o maçom cultive o Amor a Pátria. Para honrar a Bandeira, basta aos maçons erguê-la, com solenidade de acordo com as normas legais, à frente do Edifício Maçônico e durante o dia. Permite-se, porém, que o Pavilhão Nacional ingresse no Templo, como o último a entrar e o primeiro a sair, o que se faz com as solenidades previstas nos rituais. Porém, isso deve praticar-se exclusivamente em Sessões Brancas e comemorativas de Datas Nacionais e, excepcionalmente quando se consagra um Templo novo, ocasião em que o Pavilhão, já no seu mastro e arriado, é levantado lentamente, ao som do Hino Nacional, para permanecer assim até que se realize a primeira sessão regular da Loja.

Não é lícito pendurar estandartes nas paredes da Oficina.

Bem a sudoeste da Loja deve haver um móvel com uma jarra Judaica e uma miniatura do Mar de Bronze (I - Reis, 7/25 e II - Crônicas, 4/15). As mãos do iniciando em certa oportunidade, são lavadas nesse mar, que muitas lojas substituem por uma bacia artística. O mar pode ser de gesso e pintado de bronze.

Bem a noroeste deve haver uma espécie de altar de Perfumes, que é levado ao meio do Templo quando este é inaugurado, mas que também pode servir para a simbólica purificação pelo fogo. Permite-se que ele seja munido de filamentos e resistências elétricas, para produzir calor razoável, como um aquecedor, mas de modo que não se danifique com a queima de incenso e outros ingredientes.

Um Tapete Alegórico de cada grau simbólico, de forma retangular (proporção 1x1,618), e de modo, a deixar espaço em todo o seu redor, deve ser colocado sobre o Equador da Loja e a partir da posição do 2º Vigilante, mas isso deve ser feito pelo 2° Diácono, de passagem, quando se declara aberta a Loja. Fechada a Loja, O Tapete é coberto ou retirado, simultaneamente à declaração de fechamento.

O Tapete pode ser substituído por um quadro deitado ou pendurado num cavalete.

É em torno desse Painel que os Obreiros fazem a Circunvolução, na forma indicada nos rituais. Importante é que os desenhos sejam emoldurados pela Orla Denteada, com as Quatro Borlas nos cantos, e nos pontos-médios dos lados, com as iniciais dos Quatro Pontos Cardeais.

12. O ÁTRIO - É o compartimento vestibular do Templo. É nele que se colocam as duas colunas “J” e “B”, como manda a regra mais acertada. O seu chão é também branco e preto, mas pode ser como um tabuleiro de xadrez. Pisos de madeira, dispostos em quadrados claros e escuros, satisfazem à exigência.

O Átrio dá para os demais compartimentos ou corredores do Edifício Maçônico, sendo possível; deve ter uma porta ao Sul, a qual dá para uma Escada Caracol que vai para a Câmara do Meio, no andar superior (lI - Reis, 6/8).

Embora o Átrio, deva ser vazio, é costume colocar no seu recinto um dispositivo de guardar as Espadas ou Gládios Maçônicos e os bastões denominados “estrelas".

Por via de regra a espada maçônica deve ter o elmo cruciforme, com o cabo roliço e ornado do Esquadro e Compasso com a letra “G”, e os dois ramos terminados com as “volutas” da coluna jônica. A lâmina tem dois gumes, mas não deve cortar. Uma saliência mediano longitudinal percorre as duas faces da lâmina, esta sempre muito bem niquelada ou Cromada. Infelizmente; os maçons não têm usado bainha e cinta, o que é de rigor. Por isso, é mais comum que o Arquiteto coloque as espadas nos espaldares das cadeiras situadas no meio do Templo. No Rito Escocês a bainha da espada é dourada, ou de couro preto ou plástico, e fica ao lado esquerdo do corpo do Obreiro. Espadas devem sempre ser empunhadas na mão direita. Por outro lado, é proibido fazer sinais com elas.

Chamam-se "estrelas" os bastões de cor azul-celeste e de altura aproximada de 1,90 m., com um foco luminoso no topo, ou uma estrela brilhante, de cinco pontas. Ainda se, usam velas, para os focos, mas a prática moderna não deve ser essa a melhor é ajustar uma estrela, ou colocar no topo do bastão o dispositivo de uma lanterna fina de pilha seca e de maneira que a lâmpada fique livre.

As estrelas servem às comissões de recepção, em certos casos e conforme o ritual.

Certas recepções são feitas com "abóbada de aço", formada de espadas cruzadas no alto. É proibido, nesse caso, bater ou vibrar as espadas, como nos falsos costumes de algumas lojas desavisadas.

13. A SALA DOS PASSOS PERDIDOS - Além de outros compartimentos destinados aos próprios misteres sociais, o Edifício Maçônico tem uma sala de recepção, denominada Sala dos Passos Perdidos, mobiliada e de paredes decoradas de quadros ou galerias de retratos de maçons ilustres ou dos que se sucederam no Governo de uma Loja. A sala, além das cadeiras de espera, deve ter uma mesa ampla, sobre a qual devem estar, antes das sessões, o Livro de Presença dos Irmãos do Quadro e o Livro de Visitantes.

14. O SALÃO DE BANQUETES - Junto a uma discreta cozinha e de portas sempre fechadas, sem prejuízo da necessária ventilação pode haver nos Edifícios Maçônicos um salão de banquetes, para os ágapes tradicionais ou ritualísticos. A mesa, longa deve ter- a forma de "U" e, em certos casos, de um "T”. Convém que essas disposições sejam formadas por mesinhas justapostas. Um ritual regula os banquetes.

15. AS CÂMARAS DE REFLEXÕES - São pequenos compartimentos do subsolo, ou ao lado do Átrio, se não se puder construí-los adequadamente. São pintados de preto por dentro e lembram masmorras. As paredes internas podem ser de pedras escuras: No interior, há uma mesa e uma cadeira e, no chão vários pés direitos de alpargatas, sandálias de tiras e solas finas; ou chinelos. Sobre a mesa, uma só vela acesa, num castiçal (salvo se houver um moderno foco de luz negra), uma ampulheta de areia (Tempo), duas taças, com as respectivas inscrições AMARGO e DOCE, um crânio humano com duas tíbias e um alfanje (Morte), uma imitação de pão de trigo, cortado (nutrimento do Corpo), uma jarra de água (nutrimento dó espírito, purificação), como respectivo copo, além do material de escrita e os impressos do testamento. No fundo escuro, com figuras e letras, pintadas com tintas fosforescentes, ou levemente luminosas, há um conjunto bem à frente da mesa, assim composto, de cima para baixo: a – um galo que canta (despertar, novo dia, ressurreição de quem morre para a vida profana), com a cabeça da ave à esquerda do observador; b) debaixo dessa figura, mais dois significados da mesma - as palavras VIGILÂNCIA e PERSEVERANÇA; c) - logo abaixo, a figura da Morte, com o seu alfanje e, sob a figura esta inscrição bem visível: LEMBRA-TE QUE ÉS PÓ E QUE AO PÓ VOLTARAS; d) - por último, as seguintes advertências: 

Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te.

Se queres bem empregar a tua vida, pensa na Morte.

Se temes que se descubram os teus defeitos, não estás bem entre nós.

Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós aqui não as conhecemos.

Se fores dissimulado, serás descoberto.

Se tens medo, não vás adiante. 

Os objetos simbólicos que ficam sobre a mesa também podem ser substituídos pelas respectivas imagens acrescentadas à pintura do conjunto descrito.

É dispensável a expressão V. I. T. R. I. O. L, no alto.

(Quando o Experto estiver na Câmara com o candidato à iniciação, deverá aconselhá-lo, sem dar-lhe qualquer explicação, que preste a máxima atenção às figuras e às inscrições e ao ambiente, para que possa externar as suas impressões quando interrogado oportunamente. Pedirá ao candidato, mais, que escreva o seu testamento).

Bibliografia: 

VAROLI, Theobaldo Filho – RITUAL E INSTRUÇÕES DE APRENDIZ MAÇOM DO REAA – Editora A Gazeta – São Paulo - 1974.

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