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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

A hospitalaria convoca seu centenário

A hospitalaria convoca seu centenário

Por: Jivago de Azevedo Chaves

“embora que não aprenda muito, aprenda sempre um bocadinho”. (SERRA, Raimundo Irineu, Hinário O Cruzeiro, hino nº 71)

A Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba possui um ritual do REAA que por cessão de uso é entregue à guarda da Loja de sua circunscrição. A Loja que recebe este ritual é a zeladora primária pelo uso fiel e integral de sua execução. A Loja destina o ritual ao uso pessoal de cada Ir e por isto, é da responsabilidade do Ven M da Loja instruir a cada Ir para perseguir, seguir no máximo que puder o que estabelece o ritual.

            O sumário do ritual de aprendiz inicia com a temática denominada símbolo e termina com a temática denominada quinta instrução. A Maçonaria Simbólica possui três (03) graus e para cada grau temos um ritual correspondente em nosso REAA .

Nosso ritual de aprendiz apresenta um tanto de condutas que os IIr devem obedecer na execução de seus trabalhos em Loja. Ao folhear suas primeiras páginas nos deparamos como o obreiro deve se comportar ao utilizar seus instrumentos de trabalho. No que diz respeito a Bol de Benef para o Tr de Solid aquele ritual afirma que:

“A Bolsa de Propostas e Informações, a Bol de Benef para o Tr de Solid, os livros, rituais e documentos que circulam em Loja são igualmente considerados como instrumentos de trabalho. Assim sendo, é vedada, aos seus portadores, a execução de sinais e saudações.” (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg.47).

            É vedado ao portador da Bol de Benef para o Tr de Solid que é o Ir  Hospitaleiro, a execução de sinais e saudações, isto é, saudar o Delta ao cruzar o eixo do templo assim como realizar quaisquer sinais dos respectivos graus do rito praticado em Loja.

            Vamos dar um passo à frente da interpretação e desde já deixar bem claro que o portador da Bol de Benef para o Tr de Solid já possui a consciência da condição de não executar sinais e saudações; ora, o Hospitaleiro em seus primeiros passos em Loja, segue em total atenção ao rito para terminar sua execução em obediência a ordem do Ven M. Destarte, a sua concentração deve ser oriunda de seu coração em plena harmonia com todos os IIr.

            Percebe-se que a vedação existe para que o movimento em Loja seja realizado com harmonia, haja vista que o portador do instrumento de trabalho precisa fazer a Bolsa circular em Loja para que se concretize a sua finalidade. O fato é que a circulação da Bolsa não pode ocorrer de qualquer modo e o irmão Hospitaleiro em obediência ao anúncio do Ven M deve fazer circular seu instrumento de trabalho com formalidades, a não ser em caso de dispensa por parte do Ven M; todavia não de qualquer modo. Há um momento na abertura dos trabalhos que o Ven M pergunta ao Ir 1º Diác para que ele ocupa o lugar e parte da resposta do Ir1ºDiác cinge-se à execução de um trabalho com ordem e perfeição.

            O maçom compreende que a sua instituição é sublime; portanto procura prestar bem atenção em seu Ven M porque é o venerável o responsável para conduzir os trabalhos em Loja com sabedoria. A atenção dada ao Ven M é necessária para que o rito praticado alcance ordem e perfeição posto que ele esclarece os trabalhos com as luzes de sua sabedoria. Ora, nós nos reunimos em Loja para combatermos um tanto de coisas e também nossos erros. O fato de um Ir evitar erros em seu oficialato, o aproxima da ordem e perfeição estabelecida pelo rito. Conforme ensina o filósofo F. W. Nietzsche, “as percepções mais valiosas são alcançadas por último; mas as percepções mais valiosas são os métodos”. (O Anticristo, § 13). Bem, meus IIr não nos falta um ritual; temos técnica ou meio de executar nosso trabalho em busca da ordem e da perfeição.

            A Ordem Maçônica é justa e perfeita e cabe ao maçom buscar conscientemente; ou seja, com conhecimento, com ciência esta ordem e perfeição. Pois bem, para que os trabalhos sejam executados com ordem e perfeição é preciso que todos os obreiros em Loja tenham conhecimento do que precisa ser executado para que a Luz e a Sabedoria do Rei Rabino Salomão brilhem em seu representante no sólio; a saber, nosso VenM.

            É bem evidente que conhecer difere do querer, todavia quem afirma saber também deve buscar praticar o que sabe e não apenas para seu próprio bem posto que o maçom também deve buscar praticar o bem ao próximo. Ora, em Loja devemos buscar praticar com ordem e perfeição o nosso rito para que fora da Loja também sejamos praticantes de boas práticas humanas e fraternas em obediência a Deus e às Leis.

Vejamos o que está escrito em nosso ritual:

“O verdadeiro Maçom pratica o Bem e leva a sua solicitude aos infelizes, quaisquer que eles sejam, na medida de suas forças. O Maçom deve, pois, repelir com sinceridade e desprezo, o egoísmo, a imoralidade” (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg.35) 

Isto é a convocação da Hospitalaria.

 Este texto trata da Hospitalaria praticada na Loja e fora dela e seguindo a fluidez do texto entende-se que para uma melhor execução do trabalho da Hospitalaria é preciso repousar melhor entendimento da lógica do nosso ritual. Pois bem, em relação ao Ritual da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, e aproveitando a oportunidade de parafrasear o Filósofo Ludwig Wittgenstein, pode-se recolher seu sentido com as palavras que seguem: o que se pode em geral interpretar, pode-se interpretar claramente; e a respeito daquilo de que não se pode interpretar, deve-se silenciar.

            Ora, seguindo este raciocínio, o presente trabalho também busca esclarecer o modo como a Hospitalaria deve executar seu oficialato, com ordem e perfeição, sempre que os demais IIr estejam em obediência ao REAA posto que deve-se, portanto, poder executar o que se pode executar no limite traçado pelo ritual, e o que estiver além do limite é considerado um contrassenso. Por outro lado, a realidade é que o ritual deve ser lido, estudado, conhecido e posto em execução. Desta forma, entende-se que, no essencial, a execução adequada dos trabalhos, sobretudo em Loja, dá-se pela obediência ao rito e para que isto aconteça os IIr precisam vencer suas paixões, submeter sua vontade, fazer novos progressos na Maçonaria, levantar TT à virtude e cavar masmorras ao vício pois de outro modo entende-se também, aqui, encontrado a solução: pouco importa executar os trabalhos quando o próprio Ir não é reconhecido como maçom.

            O manual de aprendiz na página 66 afirma que:

“Durante os trabalhos somente poderão falar sentados o Ven M, os VVig, o Secr ao fazer a leitura do Balaustre e do Expediente e o Orad ao dar suas conclusões. Os demais IIr deverão falar de pé e à ordem”. (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg.66) 

          Nota-se que da transcrição acima apenas as Luzes e Dignidades estão autorizadas a falar sentados posto que isto decorre de uma necessidade em manter os trabalhos em ordem e perfeição. Neste norte, entende-se que na execução dos trabalhos a fala em Loja é dirigida pelo Ven M e para ele. A licença para falar é concedida pelo VenM não sendo uma prerrogativa do irmão utilizá-la a seu bel prazer. Todos os IIr têm o direito de falar, mas não de qualquer modo ou a qualquer instante. A atenção à fala de cada IIr na prática do rito traz luz e conhecimento, tornando o Ir cada vez mais fiel na execução dos seus trabalhos que o envolve numa egrégora de Luz, Paz e Amor que vem do alto.

            Foi mencionado que nossa instituição é sublime; senão vejamos:

 “Para o REAA, a Maçonaria é progresso contínuo, por ensinamento em uma série de graus, visando, por iniciações sucessivas, incutir no íntimo dos homens a Luz Celestial, Espiritual e Divina, que, afugentando os baixos sentimentos de materialidade, de sensualidade e de mundanismo e invocando sempre o G.A.D.U, os torne dignos de si mesmos, da família, da pátria e da humanidade”. (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg.32 e 33)

 

            Hospitaleiro é o nome dado ao Oficial da Loja encarregado não só de arrecadar o óbolo durante a circulação da Bolsa em Loja, por meio do seu giro ritualístico, como também é encarregado de atender aos necessitados. O trabalho do Hospitaleiro vai além do templo posto que ele é um mensageiro da fraternidade e solidariedade humana; sendo este mensageiro um Ir apto a compreender erros e que possui boa consciência na sua relação com os demais.

O Ven M é responsável para manter o Hosp informado das adversidades que podem viver alguns irmãos, para que o Ir Hosp ajude a todos, espiritualmente e materialmente. Do querer do Ir Hosp depende toda a filantropia realizada e ao Hospitaleiro cabe examinar bem o mérito das solicitações feitas juntamente com o VenM.

A circulação da Bolsa ocorre em todas as sessões, a Bolsa é o símbolo da Hospitalaria. Neste momento é vedado aos IIr a entrada ou a saída do Templo. É colocada uma música suave e luz baixa para um relaxamento e recolhimento espiritual, pois o ato de doar é uma forma de receber bons fluídos como agradecimento. O obreiro coloca o óbolo na mão que em seguida é fechada e movimentando a mão encostada ao peito do lado do seu coração, coloca dentro da Bolsa de coleta e lá dentro solta a doação energizando o conteúdo da Bolsa com as pontas de seus dedos retirando a mão completamente aberta. Não há o que se falar no momento da doação e tudo o que for colocado na Bolsa é debitado à Tesouraria e creditado à Hospitalaria. Note-se que tudo aqui significa todo o valor colocado na Bolsa. Neste momento tão valoroso e cheio de Graça e Beneficência há de reinar silêncio absoluto, até mesmo porque não há permissão da parte do Ven M para diálogo ou falas. O ritual do REAA não estabelece conversação naquele instante ao depositar o óbolo para a beneficência tampouco depois, haja vista o Ir Hosp precisar continuar a cumprir o giro até se encontrar entre CCol em cujo momento único, de seu giro, lhe é permitido fazer um anúncio para o Ven M que em seguida lhe dar uma ordem. Aquele anúncio do Ir Hosp é feito em sessão de Aprendiz e de Companheiro, e não em sessão de Mestre.

Entende-se neste trabalho que é preciso examinar as afirmações no que diz respeito ao ritual da Grande Loja do Estado da Paraíba posto que não estamos definindo afirmações já que buscamos pensar livremente a respeito dele. O ritual como referencial para a prática do R E A A estabelece orientações na busca da ordem e perfeição produzindo na mente, no mundo e na linguagem certos resultados. Os resultados podem produzir Luz(conhecimento), Paz e Amor que são dimensões que vêm do alto. Ora, investigar, examinar o referencial objetivando a ordem e perfeição é o que podemos dizer ser algo justo não apenas como busca objetiva assim como subjetiva, a exemplo de uma prática ritualística Bela ou Pura que indica um nível ritualístico diferente; uma vez que há a prática exotérica e a esotérica do R E A A .

O ritual de aprendiz é e deve ser utilizado até mesmo pelo IR mais experiente uma vez que, segundo a compreensão de Espinosa, “a experiência nunca nos ensina a essência das coisas- o máximo que pode fazer é determinar nossa mente a pensar apenas acerca de certas essências das coisas”(ESPINOSA, 1983ª,p.372)

O rito é uma coisa, ele é o rito. O ritual é outra coisa, ele é o ritual. Posto que temos um ritual como referencial percebe-se que este consiste numa determinada visão do rito. Ora, o ritual não é definitivo uma vez que suas palavras ou orientações a respeito do rito denominam “objetos” deste. Supomos que esta seja a visão predominante entre os IIr posto que para um tanto deles, o ritual possui significado se a ele corresponde ao seu objeto (Rito), embora, entre estes mesmos IIr, nem sempre haja concordância quanto à natureza do ritual. Aqui, procura-se examinar de forma teórica, como vemos o ritual ou se pelo menos estamos praticando as orientações dele em busca de alcançar ordem e perfeição do rito.

A prática exotérica do rito se dá com ordem e perfeição, algo alcançado por um tanto de IIr , mas a prática esotérica do rito é alcançada, a depender do grau do Ir sob a direção do Rei Rabino Salomão, pela ritualística, tendo o Ven M como representante daquele. 

Entende-se aqui por exotérico o que se fala abertamente a respeito de uma filosofia ou algum tipo de ensinamento entregue de forma pública, sem reserva. De forma que, esotérico é algo que se fala com reserva; é um conhecimento reservado aos iniciados (público seleto) que irão se defrontar com algo a ser revelado de forma primordial. O fato é que a pessoa esotérica compreende a relação entre sociedade e filosofia ou até mesmo entre sociedade e mística; e por ser assim, fala ou escreve com atenção, estabelecendo os pensamentos que lhe são afins “entre linhas”, a medida que fala ou escreve abertamente aquilo que pode ser compreendido por todos na sociedade.

Ora, o R E A A possui uma série de graus e a Hospitalaria é presente neste Rito com comportamento diversificado conforme já dito. Neste sentido, aqui também é preciso tratar a temática de forma exotérica e esotérica. Pois bem, tratar desta temática de forma aberta ou não também é algo a ser examinado.

A prática ritualística, a prática dos IIR seguindo o ritual, em busca de ordem e perfeição é vista aqui sob o aspecto EXOTÉRICO para que o mínimo possível de clareza com ordem e perfeição seja alcançado em Loja. Todavia, neste trabalho, não há definições no sentido de que ao aspecto exotérico sejam os IIR filiados ou, de outra forma a um aspecto esotérico, posto que os IIR são livres e de bons costumes conforme o próprio ritual de aprendiz afirma na página 31, senão vejamos:

“[...] a Ordem Maçônica foi sempre, e deve continuar a ser, a União consciente de homens inteligentes, virtuosos, desinteressados, generosos e devotados, irmão livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e para prepará-los para a emancipação progressiva e pacífica da Humanidade.”

 

Ocorre que um trabalho no grau de aprendiz precisa ter lucidez suficiente para não se adentrar em assuntos de graus posteriores, posto que as iniciações posteriores trazem instruções a posteriori.  Em outras palavras, a temática é para cada grau como a ela lhe parece. Aqui, é preciso apontar que para Waismann ou o lema dele segundo o qual “a essência da filosofia reside em sua liberdade” caberia bem a Wittgenstein: “nós não forçamos o interlocutor. Nós o deixamos livre para escolher, aceitar ou rejeitar qualquer uso das palavras”. E aí estaria “o verdadeiro modo de fazer filosofia não-dogmaticamente”. Escolher usar o ritual em busca da prática do rito é uma livre decisão do maçom- uma forma de ver de nossa parte, mas é nosso inferir.

A Enciclopédia de Diderot, citada por Arthur Melzer (2014, p. xi, tradução nossa) define os termos exotérico e esotérico como segue:

“EXOTÉRICO e ESOTÉRICO, adj. (História da Filosofia): A primeira dessas palavras significa exterior, a segunda, interior. Os antigos filósofos tinham uma dupla doutrina; uma externa, pública ou exotérica; a outra interna, secreta ou esotérica.” 

Praticar o que o nosso ritual nos orienta é inquestionavelmente certo naquilo que ele nos orienta e compreender o rito não é insinuar que ele esteja em um plano escondido sob estudados véus. Entende-se que em cada grau do rito com seu respectivo ritual é revelado aos iniciados, que passam por seus ritos iniciatórios, o seu próprio ensino, instruções que antes podemos denominar de exotérico e após a iniciação, esotérico. Isto é uma maneira de ver que adotamos neste trabalho.

O ritual não significa o rito, se assim fosse, ele perderia seu significado caso esse rito desaparecesse. O ritual, nesse sentido, deve ser estudado e posto em prática por causa de uma necessidade; isto é, a busca da ordem e da perfeição nos trabalhos. Alcançar a presença de Salomão é alcançar um ideal ritualístico, não somente a ordem e perfeição na prática do rito, é estar em sua presença, ritualisticamente perante ele. A perfeição na prática do rito é um ideal mais tácito do que o ideal do referencial (ritual), que garante a univocidade do rito. Seguir o ritual é buscar assegurar o rito, embora fundamentado em uma noção de verdade que não se torne sem valor.

O ritual pode ser comparado a uma muleta uma vez que parece que a ideia do ritual já está na ideia da análise, a priori, como uma necessidade lógica. A verdade, neste sentido, coloca a necessidade da exatidão lógica e da univocidade do sentido em relação ao nosso rito. Nosso ritual tem uma aparência de exatidão de significado relativo ao rito, uma vez que a exatidão absoluta é um ideal, e, portanto, inalcançável, pelo menos pelo ritual. O ritual não é um ideal de exatidão em relação ao rito, mas é o que temos. Ao buscar a verdade, ao buscar praticar o R E A A , vemos o quão longe estamos de nós mesmos, do que significa ser um maçom, um Ir , é como se não fôssemos. Há uma maneira de ver isto parafraseando Parmênides ao afirmar que é maçom, e não é possível que não seja; não é maçom, e é necessário que não seja.

Górgias, um sofista, afirma em seu Da natureza, ou seja do Não-Ser:

“Se houver coisas exteriores existentes fora de nós, serão objeto da visão, audição, olfato, tato, paladar. Nosso meio de comunicação é a palavra e nenhuma coisa externa nos é dada por meio de palavra. Assim como não vejo o som nem escuto as cores - cada sentido percebe o que lhe é próprio -, não posso, pela palavra, dizer coisas; pela palavra, digo palavras e não coisas. (CHAUI 2002, p. 173)

             O que dá significado ao nosso ritual é o seu uso – nada, portanto, que esteja além dele. No uso do ritual, incluindo nossa cultura e natureza, buscamos a realização do nosso rito e a realização como maçom que vivencia o R E A A . Entende-se, aqui, que a pedra pode até ser polida, mas é preciso que ela seja cúbica para ser utilizada nas construções. O rito apresenta ao praticante que o caminho do G. A. D. U. é um caminho de retidão com ordem e perfeição, e o ritual nos auxilia.

            Buscar o ensinamento exotérico do ritual é uma inteligência desenvolvida pelo IR que começa a subir na escada de Jacó. A subida começa pelo chão com a iniciação no grau de aprendiz. Conhecer o ritual é percebê-lo. A subida, supomos, começa a ficar difícil quando se percebe, dentro do próprio aspecto exotérico, que nem todos percebem o ritual. A partir daí, a subida é árdua, mas o R E A A é a meta a ser realizada a cada grau, onde cabe a cada IR perceber a si mesmo.

Afirma-se em nosso ritual que:

“O caminho pelo qual nós, Maçons, esperamos atingi-la é expresso simbolicamente pela escada existente no Painel, e que as Sagradas Escrituras denominam a Escada de Jacob, nome que, sempre guarda fiel da antiga tradição, a Maçonaria conserva. Por isso dizemos aos AApr MM , depois de sua iniciação, “que puseram o pé no primeiro degrau da Escada de Jacob”, significando-lhes que deram o primeiro passo no caminho do seu aperfeiçoamento moral.” (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg.183-184)

            Em cada grau sabe-se de forma exterior e interior que o começo da escalada é um “novo chão”, sabendo, inicialmente, de forma exterior aquele conhecimento e não sabendo de forma interior, mas satisfeito pelo que foi alcançado. Lá, onde se encontra o ápice da escada, de onde se pode perceber, todo o percurso do R E A A é o lugar de onde se pode afirmar, sem suposição, que nem todos percebem o ritual. Aqui, afirmamos que o ritual deve ser percebido e praticado por todos que foram iniciados na Arte Real e sobretudo na prática da Hospitalaria para que os trabalhos em Loja alcancem ordem e perfeição.

            O fato de o irmão maçom ser livre não lhe é imposto a obrigação de adotar o ritual da Grande Loja do Estado da Paraíba sendo apenas necessário que ele seja o que é, um irmão maçom. Vejamos o que afirma nosso ritual:

“A Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação da verdade e é para garantir a todos essa liberdade, que ela exige de todos a maior tolerância.” (Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito, pg. 33)

             Entende-se que por intermédio do ritual de aprendiz como item cognoscível e primeiro é que os demais rituais vêm a ser conhecidos. Em cada degrau da escada de Jacó, cada grau, cada ritual há um discernimento exotérico e esotérico a ser exposto ao maçom. Na compreensão de Aristóteles, “afirmamos conhecer cada coisa precisamente quando julgamos discernir sua causa primeira.”(ARISTÓTELES, 2008, p.14).

            Ora, infere-se neste trabalho que há realizações que apenas sentimos e a respeito disto, como quem percebe esotericamente falando, afirma Arnaut:

“A eficácia do rito, seu significado profundo, está, assim, na força que lhe é atribuída, previamente conscientizada. Neste processo de comunicação, o receptor da mensagem sente-a, mais do que a ouve e vê. O rito é, afinal, uma forma sensível de tocar o insensível, de dar conteúdo ao mito e regressar ao tempo primordial. O rito maçônico é, do mesmo modo, um conjunto de signos apenas compreensíveis para os iniciados, conforme os graus. Tem um significado histórico-moral e constitui um instrumento de acesso à Sabedoria, pois é o fio condutor da verdade inicial e dos valores eternos.”(ARNAUT, António. Introdução à Maçonaria. Junho 2017, p. 31 e 32) 

            Ora, não utilizar, não estudar, não examinar o ritual de aprendiz não nos parece uma escolha. Aqui é como vemos.

Isto também é a convocação da Hospitalaria.

Pois bem, é preciso observar, examinar melhor a linguagem do ritual para melhor praticar o R E A A . Quanto mais desenvolvido o grau de memória do IR , mais aprendizado ele retira do ritual. O ritual existe para ser usado, estudado e posto em prática. Todavia, entende-se, aqui, que as afirmações contidas no ritual não são definitivas nem intocáveis, o ritual é passível de modificações posto que não é algo acabado, definitivo. Aqui, este ritual é apresentado como uma referência proveniente da Grande Loja do Estado da Paraíba enquanto que ali, para outra Potência, uma equiparação; como se fosse possível dizer em uma linguagem jurídica que temos um Paradigma e um Paragonado.  Em outras palavras, não há rituais definitivos apesar de serem necessários, quando assim considerados.

Então, como é possível falar a respeito do ritual sem estudá-lo, sem praticá-lo e ao mesmo tempo respeitá-lo, haja vista a Grande Loja tê-lo disposto às Lojas e aos IIR ?! Ora, por intermédio da linguagem podemos falar a respeito do ritual, da nossa maneira de usá-lo. A linguagem tem seus elementos que são as palavras, que são organizadas constituindo as proposições enquanto o ritual é um referencial existente no mundo para servir na busca da realização de um Rito. Pela linguagem nos ligamos entre a estrutura lógica do mundo (com seus objetos) e a estrutura lógica da própria linguagem.

Percebe-se que a obediência ao rito impede a prática daquilo que é contrário ao próprio rito e do que trata o ritual. Não seguir as orientações do ritual é no mínimo desrespeitar a todo e qualquer IR que esteja, pelo menos, procurando praticá-lo uma vez que a relação entre objetos e palavras surge em uma ordem de correspondência, enquanto a relação entre os fatos e as palavras, é de ordem lógica, já que é um compartilhamento da forma. Deve-se, em Loja, trabalhar em obediência ao Ven M posto que ele dirige os trabalhos; se em outra ordem estivéssemos também seríamos obedientes àquela. Vejamos o que ensina o Mestre Irineu em um de seus hinos:

Chamo o Tempo

Chamo o tempo eu chamo o tempo
para ele vir me ensinar.
Aprender com perfeição
para eu poder ensinar

Os que forem obedientes
tratar de aprender
para ser eternamente
para Deus lhe atender

Depois que o tempo chega
ninguém quis aprender
depois que refletir
é que vai se arrepender

Firmeza no pensamento
para seguir no caminho
embora que não aprenda muito
aprenda sempre um bocadinho

(SERRA, Raimundo Irineu, Hinário O Cruzeiro, hino nº 71)

            Entende-se aqui que a perfeição buscada é um ideal, haja vista que a perfeição é apenas o Grande Arquiteto do Universo, Deus, a Força Superior.

Ora, todo obreiro segue em obediência ao Ven M, representante de Salomão, para que seus trabalhos sejam realizados com ordem e perfeição. É e sempre será tempo de obedecer. O IR Hospitaleiro, ao realizar seu giro ritualístico, aqui visto no grau de aprendiz, não pode ser interrompido por palavras ou ações que não estejam permitidas no rito, nem tampouco por orientações ausentes no ritual. Em seu giro ritualístico, a depender de cada IR e a depender de cada situação interior que o mesmo esteja vivenciando, conectado em seu coração inicia seu giro lembrando-se da melodia sentida; aqui, me vem à lembrança de noturno em dó sustenido menor, de Chopin (Noturne in C sharp minor, Op. Posth). O M H sabe que a música ajuda a todos os IIR nos trabalhos em Loja, além de consolar a tranquilidade de consciência.

O fato é que não se deve interromper, interpelar ou invocar qualquer irmão que circula em Loja com instrumento de trabalho para realizar ações que não estejam em nosso rito.

A forma ritualística e lógica da Hospitalaria, da Tesouraria, da Chancelaria etc, determina o que se pode constituir em Loja, ou seja, o que é possível ocorrer e a forma lógica das palavras determina quais delas podem constituir proposições ou falas com sentido aceito pelo rito. A única fala, conforme PERMITE o ritual, aqui visto no grau de aprendiz, dirigida ao IR Hospitaleiro deve ser aquela vinda do Ven M e não de outros IIR . O rito precisa ser praticado, realizado ou estaremos em Loja como profanos. Compreende-se que o sentido de uma fala ou proposição está em ela expressar um fato possível e a sua verdade está em ela expressar um fato que realmente ocorre, todavia, em Loja, em sessão aberta, as falas, as frases, as proposições estão condicionadas àquelas permitidas pelo ritual. Expressar um fato possível é visto, aqui, como uma referência ao aspecto objetivo do R E A A em seu sentido de conteúdo objetivo. Destarte, segue o que pensou inicialmente o filósofo Wittgenstein em seu Tractatus Logico-Philosophicus  que termina com a seguinte afirmação: “sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”. (WITTGENSTEIN, 1994, p. 281)

Pode-se também falar subjetivamente a respeito do nosso ritual numa perspectiva entre os conceitos de mente, mundo e linguagem numa correspondência entre pensamento, fatos e falas. Todavia, é preciso lembrar que a prática exotérica do nosso rito é uma condição básica da busca de uma ordem e perfeição estabelecida pelo nosso ritual. Ora, quem já está no grau de praticar o rito de forma subjetiva com beleza e pureza ritualística é um IR que pratica seu rito sem interferir na prática ritualística do outro IR ; ou seja, é um IR que já superou a prática exotérica.  Terminando, porém não finalizando, esta convocação da Hospitalaria em seu centenário, percebe-se que apesar de termos que seguir em obediência as orientações do ritual, também percebe-se que a aparente exatidão do significado do ritual é relativo e indissociável do Rito, do contexto dele, sendo que aquela exatidão não é absoluta e se for uma exatidão absoluta é apenas um ideal e, sendo assim, algo que não se alcança. Wittgenstein, a respeito do ideal, afirma:

“Um ideal de exatidão não está previsto; não sabemos o que devemos nos representar por isso- a menos que você mesmo estabeleça o que deve ser assim chamado. Mas ser-lhe-á difícil encontrar tal determinação; uma que a satisfaça.” (WITTGENSTEIN. 1999, p. 424) 

Aponta-se, aqui, que a principal situação em que nos deparamos é aceitar e conceber clara e distintamente as noções primeiras do nosso ritual de forma a fazer a análise, um raciocínio contínuo a partir das orientações, das proposições nele contidas que supomos verdadeiras.

            Em seguida compreende-se que não há exatidão última em nosso ritual e isto desfaz a convicção da lógica como estruturadora do pensamento, do mundo e da linguagem. O fato é que praticar o rito é preciso e cabe a cada IR investigar sua prática por si mesmo.

            Isto é a convocação da Hospitalaria em seu centenário na Loja Regeneração Campinense nº 02

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 1-Aprendiz, Ritual de. Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Loja do Estado da Paraíba.

 2-ARNAUT, António. Introdução à Maçonaria. Junho 2017, EDIÇÃO REVISTA E AUMENTADA. IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. COIMBRA UNIVERSITY PRESS.

 3-ARISTÓTELES. Metafísica: Livros I, II e III. Campinas: UNICAMP/ IFCH, 2008.

 4-ESPINOSA, B. Correspondência. Trad. CHAUÍ, M. São Paulo: Ed. Abril, 1983a, p. 372 (Col. Os Pensadores)

 5- CHAUI, M. Introdução à história da filosofia. – Vol. 1. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

 6- MELZER, Arthur M. (2014). Philosophy Between the Lines: The Lost History of

Esoteric Writing. Chicago: Chicago UP.

 7- Noturno nº 20 em Dó menor, Op. Post. Lento con gran espressione. (é uma peça para piano solo composta por Frédéric Chopin em 1830 e publicada em 1870.)

 8-O Anticristo, § 13. Friedrich Wilhelm Nietzsche

 9-SERRA, Raimundo Irineu. Hinário: O Cruzeiro, hino n° 71.

 10- WAISMANN, F. “How I see philosophy”. In: AYER, A.J.. (ed). Logical positivism. New York: The Free Press, 1963, p. 356.

 11-WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. Tradução: Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.

 12- WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução: José Carlos Bruni. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999 (Coleção Os Pensadores: Wittgenstein)


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