Para Falar de Maçonaria: Diálogos Com o Sagrado
Por LuCaS
INTRODUÇÃO
O termo Loja designa, também, o local em que esta
assembleia se realiza; é o local de reunião dos Obreiros da Loja para a prática
da liturgia maçônica.
No estudo dos seus
símbolos, é ensinado que a forma da Loja é de um retângulo, isto é, uma figura
alongada, de quatro lados; seu comprimento é do Leste a Oeste; sua largura do
Norte ao Sul; sua profundidade da superfície ao centro da Terra; e sua altura,
da Terra ao Céu. Simbolizando a universalidade da Sublime Instituição e
mostrando que a caridade do Maçom não tem limites, a não ser os ditados pela
prudência. E mais, Orienta-se a Loja de Leste a Oeste porque, como todos os
lugares de culto divino e antigos Templos, as Lojas Maçônicas assim devem
estar, por três razões: primeira, o Sol, que é a maior Glória do Grande
Arquiteto do Universo, nasce no oriente e se oculta no ocidente; segunda, a
civilização e a ciência vieram do oriente, espalhando as mais benéficas
influências para o ocidente; e terceira, a doutrina do amor e da fraternidade e
o exemplo do cumprimento da lei vieram, também, do oriente para o ocidente,
trazidos pelo Divino Mestre.
Em seus ensinamentos,
informa-se, também, que a primeira notícia que se tem de um local destinado,
exclusivamente, ao culto Divino, é a do Tabernáculo, erigido, no deserto, por
Moisés, para receber a Arca da Aliança e as Tábuas da Lei. Esse Tabernáculo,
cuja orientação era de leste para oeste, serviu, muito tempo depois, de modelo,
na sua planta e posição, ao magnífico Templo erigido em Jerusalém pelo rei
Salomão, sábio e poderoso monarca dos israelitas, e cujo esplendor e riqueza
fizeram com que fosse considerado como a maior maravilha da época. Eis porque
as Lojas Maçônicas, representando, simbolicamente, o Templo de Salomão.
A
Loja Maçônica se apoia e é sustentada por três grandes colunas, denominadas
Sabedoria, Força e Beleza. A Sabedoria inventa e cria, a Força sustenta e anima
e a Beleza adorna. A Sabedoria deve orientar o homem no caminho da vida; a
Força, deve animá-lo e o sustentar em todas as dificuldades; e a Beleza,
adornar todas as suas ações, seu caráter e espírito. Isto, porque o universo é
o Templo da Divindade, a quem servimos, e a Sabedoria, a Força e a Beleza estão
em volta do Seu Trono, como pilares de Suas Obras, porque Sua Sabedoria é
Infinita, Sua Força Onipotente e Sua Beleza manifesta-se
A Loja, como espaço
físico onde os Maçons se reúnem para a prática dos seus trabalhos, tem,
internamente, a forma de um retângulo de comprimento igual ao triplo de sua
largura, sendo dividido, no sentido longitudinal, ou do seu maior eixo, em três
partes: a primeira compreende o Oriente, a segunda engloba o Ocidente, o Norte
e o Sul, e a terceira corresponde ao Átrio.
A comunicação com o
exterior é feita por uma única porta de duas folhas, que se abrem para o Átrio,
situada no Ocidente.
O soalho do Ocidente é
representado pelo Pavimento Mosaico, constituído de ladrilhos quadrados brancos
e pretos, dispostos, alternadamente, em diagonal.
No Ocidente, ao longo das
paredes laterais, erguem‑se as doze Colunas Zodiacais – equidistantes entre si
e dispostas seis ao Norte e seis ao Sul.
Próximo ao fundo do
Oriente, sobre um estrado de três degraus, que significam Pureza, Luz e
Verdade, e sob um Dossel, eleva‑se o Trono do Venerável Mestre.
À frente do Trono,
sobressaindo‑se sobre os demais em dimensão, fica o Altar do Venerável Mestre,
e sobre o qual devem estar um malhete, um candelabro de três braços, uma
coluneta jônica, a Espada Flamejante, a Constituição e o Regulamento da Grande
Loja, o Estatuto da Loja, um exemplar do Ritual do Grau.
As luminárias sobre os
Altares do Venerável Mestre e dos Vigilantes são obrigatórias porque estas
Dignidades simbolizam a Luz do conhecimento, do entendimento e da razão de uma
Loja Maçônica, daí porque serem também chamados de Luzes.
Atrás do Trono e junto à
parede fica o Retábulo, ou Painel do Oriente, no qual brilharão, ao centro, o
Delta Sagrado, também chamado de Delta Luminoso ou Delta Radiante ostentando no
seu interior o Olho Onividente ou o nome hebraico de Deus, formado pelas letras
hebraicas Iod-He-Vau-He, ou, ainda, pelo menos, a primeira letra deste nome –
Iod –, tendo à sua direita o Sol, e à sua esquerda, a Lua em quarto
crescente.
No Ocidente, coloca‑se o
Altar dos Juramentos, sobre o qual repousam o Livro* da Lei, um Esquadro e um
Compasso.
*(O Livro da Lei é o
Livro Sagrado de cada religião onde seus adeptos julgam existir as verdades
pregadas por seus profetas. Assim, o juramento deve ser prestado sobre o Livro
Sagrado da crença do Iniciando, pois, pelos princípios básicos da Maçonaria,
deve haver o máximo respeito às crenças de cada um).
No eixo longitudinal da
Loja, voltado para o Ocidente, o Painel Alegórico.
No Oriente, o Painel
Simbólico.
o Altar dos Perfumes,
denominado, também, em determinadas cerimônias maçônicas, de Altar da
Consagração.
No Ocidente, próximo à
Coluna B. – entre o assento do Cobridor Externo e do 1o Experto –, estará uma pedra de forma e
contornos irregulares, denominada Pedra Bruta, enquanto que, próximo à Coluna J.
– entre o assento do Cobridor Externo e do 2o Experto –, estará uma pedra de superfície
lisa e polida, perfeitamente esquadriada e de faces iguais, denominada Pedra
Cúbica.
No ângulo sudoeste da
Loja fica o Altar das Abluções sobre o qual descansa o Mar de Bronze, enquanto
que, no ângulo noroeste da Loja, em posição diametralmente oposta, fica o Altar
do Fogo da Purificação, usado nas iniciações.
O teto da Loja, com sua
decoração estelar entremeada de nuvens com os matizes de cor – do vermelho ao
alaranjado, ao amarelo, ao azul e ao negro –, mostrando a transição do dia, ou
da Luz (Oriente), para a noite, ou para as trevas (Ocidente), representa a
abóbada celeste de uma noite de 24 de junho no hemisfério norte.
O Átrio, compartimento
vestibular da Loja, é uma antecâmara que precede a porta de entrada e faz
comunicação com a Sala dos Passos Perdidos e a Câmara de Reflexão.
Junto à parede ocidental
e ladeando o Portal elevam‑se as duas, a coluna colocada a esquerda de quem
entra na Loja, tem insculpida no fuste a letra "B", enquanto que a
coluna colocada a direita de quem entra na Loja, tem insculpida no seu fuste a
letra "J". Essas colunas, simbolicamente, separa o “profano” do
“sagrado”.
O sagrado é um espaço
artificial padronizado que inventa uma Tradição marcada pela escolha do que é sagrado.
Aderir a esta escolha destacaria a função transitória e não substancial do sagrado.
Cada tradição religiosa
organiza o espaço sagrado de acordo com as suas crenças. As igrejas, capelas,
catedrais e santuários católicos são decorados com vitrais, imagens, estátuas,
entre outros símbolos.
Nos templos evangélicos
não há imagens religiosas, mas podem ter vitrais decorativos e simbólicos.
Terreiro é o nome do espaço
sagrado das religiões Afro-Brasileiras.
Sinagoga é o espaço
sagrado do Judaísmo, onde aos sábados os seguidores desta religião se reúnem
para o culto semanal.
A mesquita é o local de
oração dos muçulmanos. Eles costumam reunir-se nas sextas-feiras ao meio dia
para a oração comunitária.
O centro espírita é o
local de reuniões e estudos da doutrina dos seguidores do Espiritismo.
Entre outras funções os
espaços sagrados destinam-se:
Ao contato com o sagrado;
À realização de práticas
devocionais e rituais;
Às celebrações
religiosas;
Às reuniões de ensino e
pregação.
A Maçonaria sendo uma
instituição secular, por muitos considerada milenar, embora progressista, é
também arcaica pois é herdeira e guardiã dos antigos mistérios e filosofias das
mais antigas religiões.
Quanto ao ensino,
pregação, e suas práticas rituais e suas celebrações, a Maçonaria tem sido
definida por vários modos.
"A
Ordem Maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram
irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente unidos
por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando‑se, uns aos
outros, na prática das virtudes”.
"É
um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos".
Embora imperfeitas, essas
definições nos dão a convicção de que a Ordem Maçônica foi, sempre, e deve
continuar a ser, a união consciente de homens, virtuosos, desinteressados,
generosos e devotados, irmãos livres e iguais, ligados por deveres de
fraternidade, para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e
pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e prepará‑los para a
emancipação progressiva e pacífica da Humanidade.
É, pois, um sistema e uma
escola não só de moral, como de filosofia social e espiritual, reveladas por
alegorias e ensinadas por símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao
aperfeiçoamento dos mais elevados deveres do homem cidadão.
Para evitar o afastamento
de seus nobres e sublimes fins, a Maçonaria exige que só sejam iniciados
A Maçonaria proclama,
como sempre proclamou, desde sua origem, a existência de um Princípio Criador,
sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.
Para elevar o homem aos
próprios olhos e torná‑lo digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria erige
em dogma que o Grande Arquiteto do Universo deu ao mesmo, como o mais precioso
dos bens, a Liberdade, patrimônio da Humanidade inteira, cintilação celeste que
nenhum poder tem o direito de obscurecer ou de apagar, pois que é a fonte de todos
os sentimentos de honra e de dignidade.
Os ensinamentos maçônicos
induzem seus adeptos a dedicarem‑se à felicidade de seus semelhantes, não
porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento
de solidariedade é a qualidade inata que os fez filhos de Deus e amigos de
todos os homens, fiéis observadores da Lei do Amor Universal.
Pelo exposto, vê-se que a
maçonaria é, portanto, religiosa e exige a religiosidade do pretendente ao
ingresso nos seus Augustos Mistérios, seja essa pessoa Teísta, Deísta ou Gnóstica,
isto é, “religioso”. Por outro lado, a “maçonaria” se desvia desses princípios
e que admite em seus quadros pessoas a-religiosas, ateus etc. é considerada “maçonaria”
espúria, irregular, não sendo, portanto, reconhecida como uma entidade
Maçônica.
A “aparente” separação entre
o profano e o sagrado é um limite da transformação cultural ou religiosa do objeto
– ou da pessoa – que manifesta o sagrado ao tornar-se outra coisa, permanecendo
ele mesmo. O sagrado na Maçonaria é um princípio de separação e integração onde
o profano e o sagrado são definidos em relação um ao outro.
A iniciação é uma série de cerimônias que visam incorporar o neófito à Tradição. Ele então deixará o mundo puramente profano para entrar no círculo das coisas sagradas. Ora, esta mudança de estado é concebida não como o desenvolvimento simples e regular de potenciais pré-existentes, mas como uma transformação de toda a substância. Diz-se que neste momento morre o profano, isto é, que determinada pessoa que era deixa de existir e que outra, instantaneamente, substitui a anterior. Renasce, então, sob uma nova forma, numa dialética dentro/fora.
A tentativa de responder à
pergunta “Como passar do profano ao sagrado na Maçonaria?” apresenta-se
como uma série de questões sobre as práticas maçônicas para interpretá-las no que
diz respeito aos seus papéis nesta transição.
Aqui está uma lista que pode
fazer você querer abordá-los com mais profundidade.
a). Como o sagrado se distingue
do profano?
b). Como o sagrado é produzido
na loja?
c). Como ocorre a separação?
Como
a separação das roupas profanas conduz ao sagrado? Como funciona o ritual? O que
são essas portas? O cobridor, um pedreiro que nos protege? A abertura dos trabalhos
é uma hierofania? Quais são os limites do tempo sagrado no vestuário?
d). Onde está o sagrado na
loja? Em primeiro lugar, o que é necessário para que um espaço
seja um lugar sagrado? Então, a loja é um templo? Existem níveis de sacralidade
na loja? O pavimento mosaico é apenas uma decoração de piso? A Câmara de
Reflexões é então o centro da sacralidade? Não é o altar dos juramentos mais sagrado
pelo que ali está depositado? Por que o Livro Lei é sagrado? A interseção do esquadro
e do compasso participa do sagrado? O quadro de traçar (ou Painel da Loja) é mais
sagrado do que pensamos? Os juramentos feitos diante do altar tornam-se sagrados?
Por serem únicas, a pedra angular* e a pedra fundamental estabelecem a sacralidade
da construção?
*(A pedra angular
significa geralmente a principal pedra de sustentação que era usada na
construção de um edifício na antiguidade. Outro significado possível para a
expressão “pedra angular” também é aquele que se refere à pedra principal
colocada no centro de um arco para unir seus dois lados. Então no primeiro
sentido, a pedra angular traz o significado de “pedra fundamental”; enquanto
que no segundo sentido ela diz respeito à pedra que estabiliza e une como uma
só estrutura os dois lados de um arco formando a própria base do arco).
e). A linguagem maçônica participa
de uma separação do profano? Quais são as palavras que
separam o profano do iniciado? Que importância deve ser dada à ortoépia das palavras
faladas? A marcha maçônica, a linguagem corporal, um passo em direção ao sagrado?
1. A Crise do homem
moderno
O homem moderno sofre uma
crise existencial decorrente da perda de sentido do ser. A Humanidade contemporânea
é estruturada nas interpretações mecanicistas da natureza. Seus domínios do
tempo e do espaço simbolizam uma alteração radical de como se está no mundo.
As ciências modernas
alteraram a visão humana da realidade e de sua existência, e conduziram o homem
“a-religioso” a um comportamento ateísta face o cosmos. Só é válido e
necessário aquilo que passa pelo crivo da racionalidade. Com isso, desponta uma
nova perspectiva para o homem: manipular, prever e racionalmente planejar as coisas.
Resulta daí um cosmos secularizado, vazio de uma divindade. Ele significa compreender
e viver em um universo dessacralizado. Contudo, essa perspectiva da existência
profana é falsa, pois uma vida vazia de sacralidade representa sofrimento,
ilusão e ausência de solução para os problemas existenciais.
A crise do homem moderno
é também o resultado do esforço das filosofias ocidentais em esvaziar o homem
de qualquer possibilidade de transcendência e de reduzi-lo à sua imanência. O mito
do progresso, embasado nos avanços científicos de uma sociedade
tecnologicamente desenvolvida, fez com que renunciássemos a toda e qualquer
possibilidade de uma ontologia teísta. Ademais, colocou na imagem do homem, com
sua racionalidade, o fundamento auto suficiente da Humanidade.
Nesse novo cenário,
dessacralizado, da crise teísta do homem moderno, não nos impressiona o fato de
termos como o pessimismo, a angústia, o niilismo e o desespero tornaram-se
virtudes e conceitos do homem.
Entendemos que a condição
moderna se encontra nesse estado devido à sua ruptura com o âmbito do sagrado,
onde o eu (self), o indivíduo, tal como se revela e se conhece em sua própria
consciência, passou a ser entendido como oposição ao “outro”, posição que rompeu,
consequentemente, com a conexão cosmos-humano. Dessa forma, a crise da
Humanidade representa uma “queda” na história do homem, que ocorre devido à
alteração de sua mentalidade na relação com o mundo. A consciência científica histórica
afastou o vínculo do homem com os arquétipos divinos, e reprimiu essa relação à
zona do inconsciente.
Entretanto, se reconhece
nessa afirmação a existência, no homem moderno, ainda que inconsciente, de
vestígios do “Homo religiosus”. Portanto, “[...] a queda da ordem da
existência e o retorno dessa ordem constituem um problema fundamental da existência
humana”. A crise do homem moderno é uma crise da sua “a-religiosidade”. Por
conseguinte, pode-se afirmar que o homem secular não pode livrar-se plenamente
do pensamento religioso, pois, ao assumir a necessidade de esvaziar-se ontologicamente
de qualquer divindade, o homem assume a existência de modelos sagrados. Ao
tentar fazer sua própria história, o homem moderno se opõe ao pensamento dos
modelos míticos exemplares. O resultado desse esforço, o homem total se
desintegra no homem a-religioso e perde a capacidade de transformar sua situação
particular em uma situação exemplar. Daí as angústias do homem moderno, ainda
que inconscientes, decorrentes da ausência da religião, que não são interpretadas
como o homem “religioso” as interpreta. Uma consequência disso é a incapacidade
de conceber o mundo de modo integral, como algo instituidor de um arquétipo.
A crise é, em suma,
“religiosa”, descrença no sagrado, pois que, aos níveis arcaicos da cultura, e a
maçonaria é por excelência arcaica, o “ser” se confunde como o sagrado.
Para toda a Humanidade primitiva, é a experiência religiosa que dá origem ao
Mundo: é a orientação ritual, com as estruturas do espaço sagrado que ela
revela, que transforma o “Caos” em “Cosmos” (Ordo Ab Chao) e, por esse fato,
torna possível uma existência humana (quer dizer, impede-a de regressar ao
nível de existência zoológica). Todas as religiões, mesmo as mais elementares,
são uma realidade ontológica: elas revelam o ser das coisas sagradas e
das Figuras divinas, demonstram o que é realmente e, ao fazê-lo, fundam um
Mundo que já não é evanescente e incompreensível.
2. O homem não é só
desejo
Não se pode analisar o
homem somente pelo horizonte sentimental e psíquico, sem abordar a dimensão do
mundo e da singular realidade existencial. Essa dimensão não está restrita à
libido: o homem não é só desejo. Não se pode reduzir o homem como um “ser” que
é somente determinado pelo prazer.
O homem “religioso”, o
homem integral, o verdadeiro Iniciado, se vale dos símbolos para captar a
realidade mais profunda das coisas. Existe, nesses símbolos, um movimento
dialético de desvelar e de cobrir que não poderia ser expresso por palavras ou
conceitos. Desse modo, “traduzir uma Imagem na sua terminologia concreta,
reduzindo-a a um único dos seus planos referenciais, é pior que mutilá-la, é
aniquilá-la, anulá-la como instrumento de conhecimento”.
Os símbolos representam
uma “abertura” para o transcendente. O mito é um modelo para o
mundo inteiro, como uma revelação de mistérios pelo homem enquanto um ser
total.
O mito não de dissocia da
ordem natural, sensual ou cognitiva. O mito é informado pelo cosmos;
"amarra" os seres humanos à natureza e à sua imaginação mítica. Por
isso, não podem operar de nenhum outro modo a não ser por meio dos sentidos e
do simbolismo do corpo.
Durante milênios, o homem
trabalhou ritualmente e pensou miticamente nas analogias entre o macrocosmo e o
microcosmo. Era uma das possibilidades de se “abrir” para o Mundo e de
participar assim da sacralidade do Cosmo.
Desde a Renascença,
quando se provou que o Universo era infinito, essa dimensão cósmica que o homem
acrescentava ritualmente à sua existência nos é negada.
“A “religião”, a religião
universal, a maçonaria é a solução exemplar de toda crise existencial, não
apenas porque é indefinidamente repetível, mas também porque é considerada de origem
transcendental e, portanto, valorizada como revelação recebida de um outro mundo,
trans humano. A solução representada pelo sagrado não somente resolve a crise,
mas, ao mesmo tempo, torna a existência “aberta” a valores que já não são
contingentes nem particulares permitindo assim ao homem ultrapassar as
situações pessoais e, no fim das contas, alcançar o mundo do espírito”.
3. O Nosso humanismo
O Nosso Humanismo
se funda em uma ontologia da experiência do sagrado mediante o diálogo
intercultural e o uso de uma linguagem simbólica.
Enquanto a ontologia
moderna (profana) nega qualquer forma de transcendência, a filosofia maçônica
sugere uma ontologia do sagrado como solução para as crises existenciais do
homem moderno, já que elas “retiram o homem de seu universo profano ou de sua
situação histórica e o projetam num universo diferente em qualidade, um mundo completamente
novo, transcendente e sagrado”.
A fim de elucidar o Nosso
Humanismo, é preciso compreender a definição do sagrado e seu efeito na
vida do homem. Entretanto, o sagrado é irredutível, o que torna complexo
definir o seu sentido.
Assim, apresentaremos
alguns conceitos que a filosofia nos propõe;
O principal ponto de
partida na compreensão da existência do sagrado é originado de uma dualidade: o
sagrado e o profano. “A ambivalência da divindade constitui um tema encontrado
em toda história religiosa da Humanidade. O sagrado atrai e atemoriza
simultaneamente o homem”.
A sacralidade separa o
natural do sobrenatural. Lançada essa dualidade, expõem-se as características
que formam seus modos de ser. O sagrado é a experiência de uma realidade e a
fonte da consciência que existe no mundo. O sagrado é sempre a revelação do
real, a realidade por excelência, o encontro com o que orienta e que fornece um
sentido à existência.
O profano, ao contrário,
é tudo o que desorienta o homem. Subtrai-lhe o sentido da existência e o
projeta ao caos. O profano está cheio do que é irreal; o sagrado, por sua vez,
está completo do real e da ordem cósmica.
– O sagrado é
qualitativamente diferente do profano, embora possa se manifestar na profanidade
por intermédio de hierofanias: manifestações do sagrado, ou quando o
sagrado se nos revela. Elas ocorrem quando o sagrado é percebido em qualquer
objeto (pedras, animais, plantas, instrumentos de trabalho, o Pavimento
Mosaico, o Oriente, a posição dos Oficiais, o Delta Sagrado, Candelabros,
Altares, Espada Flamejante etc.). As hierofanias equivalem às maneiras
de percepção da realidade do homem integral.
O sagrado é um arquétipo
transcendental que fundamenta e revela as relações existenciais no Mundo.
Suas modalidades correspondem aos modelos essenciais do ser do homem “religioso”.
Logo, todo ato que o homem arcaico efetua só têm sentido no mundo sagrado. O
encontro do homem com o sagrado desperta-o para a existência de valores
absolutos referenciais para seu modo de ser, levando-o a rejeitar o modo profano
de vida.
O sagrado é uma “visão do
Mundo” capaz de assegurar a existência em sua plenitude, na medida em que lhe fornece
o valor total e o sentido último do modo-de-ser do verdadeiro iniciado.
O sagrado e o profano
fundamentam duas formas de existência que o homem assumiu no mundo. Com isso,
há outras questões que devemos nos interrogar: como definir o modo de existir
do homem no mundo sagrado e sua existência no mundo profano? Quais implicações
decorrem ao se assumir uma dessas duas modalidades de existência?
Ora, assim como existe a
dualidade entre o sagrado e o profano, existe, também, a dualidade do homem no
mundo, a saber, o homem “religioso” e o homem “profano”. Essa
dualidade só existe devido à presença do sagrado em oposição ao profano.
O
“Homo religiosus” é caracterizado pela vida no âmbito do mundo sagrado,
que se constitui em uma existência aberta e que permite transcender-se. A vida
é vivida num plano duplo, a própria existência humana e a vida trans humana ligada
ao cosmos ou ao divino.
O
“Homo religiosus” é aquele sedento do Ser, quem sempre está em
contato com o sagrado que, por sua vez, lhe confere uma dimensão ontológica à
existência. Toda ação realizada simboliza uma repetição do que seu “deus” fez
no passado.
Fundamentados
nessa concepção é que apreendemos o modo de ser do arcaico em relação ao espaço
circundante. Não tardaremos a perceber que também o espaço é constituído a
partir de uma oposição entre o sagrado e profano. Com isso, para entender
melhor essa relação do homem com o espaço, indagamos: como o iniciado nos
augustos mistérios percebe o espaço? Qual é o papel do espaço sacralizado em
sua existência? Quais implicações surgidas desse contato? Há diferença na
percepção do espaço do homem maçom e do homem não maçom?
Essas
são as dúvidas que podem nos desvelar o modus vivendi do homem arcaico e,
por conseguinte, os novos paradigmas do Nosso Humanismo.
O
Tempo
Assim
como é preciso interpretar a existência do mundo e do homem a partir da dualidade
sagrado e profano, o mesmo se dá para compreendermos a concepção do tempo. A
noção do tempo é de vital importância para o homem “Teísta ou Deísta”. É por meio
do tempo que o sagrado e o homem são contemporâneos e garantem suas coexistências.
Sem isso, o sagrado perderia o sentido para o homem arcaico e se esgotaria o significado
de sua vida. O que desejamos compreender são questões implicadas no conceito de
tempo. Como o homem “religioso” percebe o tempo? O homem não “religioso” tem a
mesma percepção de tempo que a do homem arcaico? O que significa o conceito templum-tempus?
Qual a importância das festas comemorativas dos solstícios de inverno e de
verão e dos rituais na relação do homem maçom com o tempo? O que os mitos dizem
sobre o tempo? O tempo sagrado está camuflado no mundo do homem profano?
Na
autêntica vertente inglesa da Maçonaria, que é Teísta, geralmente o Craft
(Ofício ou Arte) determina a idade simbólica do Maçom por tempo determinado, ou
seja, pura e simplesmente como “X” anos. Isso se explica porque a doutrina de aperfeiçoamento
de determinado Grau no Ofício é ilustrada pelo completo domínio das Ciências e
Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas preleções
sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada em caracol (sinuosa) que é
constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das
Ciências ou Artes da Antiguidade.
Na
verdade, essa alegoria faz referência a que a Árvore da Vida, situada no topo
da escada sinuosa, só será alcançada por aquele que possuir completo domínio
das Ciências e Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética,
Geometria, Música e Astronomia.
Essa
ideia de concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada
um dos anos (vida simbólica), de tal modo que cada ano seja uma qualidade
própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática da moral,
como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências correspondente
ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a construir conforme as
exigências da Arte. Em síntese é o processo de moral elevado que se aplica na
construção da Obra da Vida.
Ainda
na vertente inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Maçom, aparece
também a alegoria da Estrela que é encontrada no Painel do Primeiro Grau ficando
ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei Sagrada e
vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira equidistante,
arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais – Fé (cruz), Esperança
(âncora) e Caridade (mão em direção à taça).
Para
relacionar essa alegoria à idade completa do Maçom completos, ou de tempo
determinado, somam-se às Três Virtudes Teologais as virtudes cardeais –
Prudência (originalmente “sapientia” que em latim significa conhecimento ou
sabedoria, dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o
verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz a outras
virtudes, indicando-lhes a regra e a medida", sendo por isso considerada a
virtude mãe humana), Justiça (que é uma constante e firme vontade de dar aos
outros o que lhes é devido), Fortaleza (ou Força) que assegura a firmeza nas
dificuldades e a constância na procura do bem) e Temperança (ou Moderação) que
"modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os
instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados", sendo por
isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres), cujos símbolos
encontram-se representados pelas quatro Borlas colocadas nos quatro cantos do
mesmo Painel.
Interpreta-se
esse emblema relacionado ao tempo de vida simbólico do Maçom como “a obra
construída é a vida do próprio homem, desde que pautada pelos princípios da
crença em um Arquiteto Criador, pela confiança em atingir o seu objetivo com
complacência e benevolência e vivida pelo princípio da moderação, do
comedimento e da resolução, de modo firme e constante”.
Na
vertente francesa, diferente da inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito a sua
compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador da
Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve os
três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante de
um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção
filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos
que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.
Sob
a ótica filosófica do deísmo a Maçonaria francesa, especulativa por excelência,
viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento
intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com a Natureza.
Nessa
concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático da morte e
do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos naturais que faz
corresponder as estações do ano com as etapas da existência humana.
Apesar
do ideário do “morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do
ensinamento maçônico, ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do
escocesismo simbólico.
Assim,
na alegoria iniciática Homem/Natureza, sugestivamente a primavera representa o
nascimento e a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a
maturidade; o inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.
Isso
explica e até justifica, por exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no
Templo do R.E.A.A., já que o seu simbolismo indica que cada ciclo é um tempo
existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da vida – o
Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre a
maturidade (Meia-Noite). Na verdade, tudo se reporta à transformação e ao
aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).
Outra
consideração importante no rito em questão é a da existência dos três
candelabros de três braços que acolhem as Luzes litúrgicas, os quais se situam,
um sobre o Altar destinado ao Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas
destinadas aos Vigilantes.
Dessa
concepção de filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se
criou estruturalmente a idade de “X” anos e mais, para determinado grau de
Maçom do R.E.A.A.
Desse
modo, esse enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o
renascimento da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por
ocasião do inverno quando a Terra fica viúva do Sol.
O Tempo De Nove
Meses.
É
esse tempo existencial que explica a idade do Maçom, também, possuir algo mais
além dos “X” anos, já que simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza
é de nove meses, a contar desde o início da primavera até o final do outono. Daí
a razão dos “X” anos e (ou) Mais. Na verdade, vai além do número sete (criação)
até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o Esquadro e o
Compasso).
Assim
se explica a disposição do mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros
com as três Luzes litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os
nove meses de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os
três meses de inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do
Sol (dias curtos e noites longas). É dessa alegoria solar absorvida dos cultos
solares da antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a
despeito de que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante
o inverno.
Por
fim, é essa a síntese da explicação dessas variações aparentes que nos
apresentam as tradições ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da
Maçonaria Especulativa é sempre o mesmo, o de forjar um novo homem nos seus
canteiros simbólicos (Loja), entretanto, mesmo de objetivo único, os métodos
muitas vezes se diferenciam. Assim não há como se generalizar procedimentos na
liturgia maçônica. Tradições, usos e costumes muitas vezes são particularidades
de cada um dos sistemas maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o
que significa cada processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime
Instituição. Para cada gesto, para cada símbolo ou procedimento na liturgia dos
ritos maçônicos, desde que sejam autênticos, sempre existirá uma explicação
lógica.
O
Espaço
A
noção de espaço para o verdadeiro iniciado é heterogênea, pois existem rupturas
que separam o mundo sagrado do mundo profano. A, “[...] divisão binária do
espaço é generalizada ao universo inteiro. Os pares de opostos são, ao mesmo
tempo, complementares. O princípio da polaridade parece ser a lei
fundamental da natureza e da vida. As
rupturas se manifestam por hierofanias que ocorrem quando o sagrado se
revela. Todo o espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do
sagrado que destaca um território do meio cósmico que o envolve e o torna
qualitativamente diferente.
As
hierofanias, vitais para o modo de ser "Iniciático”, permitem mudar
o regime ontológico dos objetos e locais aparentemente insignificantes que,
desde o instante em que incorporam o sagrado, tornam-se arquétipos inestimáveis
aos olhos de todos que participam da mesma experiência.
O
mundo no qual a presença e ação do homem se realizam – as regiões povoadas e cultivadas,
os rios que fornecem as condições de produzir o alimento, as montanhas
escaladas e desbravadas, as cidades, as casas e os templos – existem porque,
antes, está presente um arquétipo que escapa à dimensão material. O espaço
sagrado é compreendido como um modelo ou “cópia” do que há no nível cósmico,
que faz com que a área habitada pela cultura religiosa seja considerada uma
terra sagrada.
O
homem “arcaico” vive em um mundo simbólico. Para ele, o mundo está vivo e aberto.
Portanto, um local ou um objeto nunca são simplesmente eles mesmos, mas sempre
o sinal de uma realidade que transcende o ser daquilo diante dele. Quando meteoros
caem do céu, estão carregados de sacralidades: o local em que se encontram
também se torna santo, pois eles vieram do céu, local habitado pelos “deuses”.
Dessa forma, Ka’aba, em Meca, se tornou uma cidade sagrada para o Islamismo. O
povo de Israel, quando vagueava pelo deserto, chefiado por Moisés, levava seu
acampamento de um lugar para outro somente quando a nuvem, que simbolizava
Javé, se levantava acima da tenda. Logo, “[...] a noção de espaço sagrado
implica a ideia da repetição da hierofania primordial que consagrou este espaço
transfigurando-o, singularizando-o, em resumo, isolando-o do espaço profano a
sua volta”, também. O nosso Templo Sagrado e separado ou isolado do mondo
profano por suas duas Colunas vestibulares “J” e “B”.
O
espaço sagrado encontra-se isolado do espaço profano. Mas o que representa? O que
o torna diferente para ser distinto do espaço profano? Ele representa o ser, o real,
o cosmos que se revela como ponto fixo, centro do mundo – o que
equivale à criação do mundo – sustenta sua existência, isto é, tudo o que é
verdadeiro e perfeito, lugar em que se encontra e se pode estar em comunhão com
a divindade.
“Não
te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tire a sandálias de teus pés, porque
o lugar onde te encontras é uma terra santa”. Local que representa o princípio
de todas as coisas, “[...] o sagrado revela a realidade absoluta e, ao mesmo tempo,
torna possível a orientação – portanto, funda o mundo, no sentido de que
fixa os limites e, assim, estabelece a ordem cósmica”. Em contrapartida, tudo
que está fora desse espaço é profano, estrangeiro, amorfo, desconhecido, lugar
do caos.
O
espaço sagrado é utilizado como um local de retorno para renovação de energia e
vitalidade. Adentrar em sua extensão significa tomar parte de uma fonte
inesgotável de força e de sacralidade.
Tratamos
de um povo primitivo, de uma sociedade arcaica. Existem diferenças na percepção
do espaço e do tempo do homem religioso e do homem moderno? Como o homem não-religioso
percebe o espaço em que vive?
Para
a experiência profana, o espaço é homogêneo, neutro, sem nenhuma orientação
sacralizada. O ponto fixo que permite ao homem arcaico escapar da homogeneidade
caótica do espaço, na vida do homem não-religioso não goza de um estatuto
ontológico único, pois surge e desaparece segundo as necessidades cotidianas.
Assim, a mudança de moradia não significa, necessariamente, uma mudança
transcendental que exige um ritual de consagração. Para o homem dessacralizado,
o espaço no qual se encontra não é dotado de simbolismos espirituais. No
entanto, ainda surgem espaços que matizam o que foi dito acima. Alguns não são
homogêneos para o homem profano, como locais especiais que lhe trazem
lembranças e se tornam “sagrados” em sua singularidade.
Ainda,
quanto ao tempo, o homem integral, seja ele teísta ou deísta, concebe o tempo
de forma heterogênea: o sagrado e o profano.
O
tempo sagrado tem, por natureza, a capacidade de ser reversível,
circular e repetível. Encontra-se nele a possibilidade do retorno a seus
primórdios, a renovada apreensão de seu modelo originário de vida, pois ele
mantém-se sempre igual, não se esgota. Nele se revela um período especial na
vida do homem arcaico, que o tira do tempo ordinário e o coloca em contato com
o sagrado.
Por
sua vez, o tempo profano é o tempo do cotidiano, sem sentido, onde
ocorrem atos privados de significados sacralizados. Mas em que se distingue o
tempo sagrado da duração profana que o precede e lhe sucede? Nosso entendimento
é que qualquer momento do tempo pode se tornar sagrado por sua hierofania.
Quando isso ocorre, o tempo passa a ser transfigurado, consagrado, comemorado e
repetível infinitamente.
De
fato, uma das principais diferenças que separa o homem “arcaico” do homem “moderno”
se encontra na incapacidade em que esse tem de viver a vida orgânica como um
sacramento. Com efeito, em consequência disso, as grandes crises do homem
moderno ocorrem quando este se lança no mundo sem consciência de seu sentido
de existir nesse mundo. Somente ao se lançar na busca da compreensão do
sagrado, o homem encontrará a revelação do sentido de sua existência.
Ao
conceber o mundo com um sentido sagrado, ao perceber o tempo como uma possibilidade
de eterna repetição dos gestos exemplares míticos e um retorno às fontes
sagradas e do real e, ao perceber o espaço como um estar junto à divindade, o
homem transcende seus limites e é salvo do nada e da morte. Habita um mundo
ordenado e carregado de sentido. Goza de uma ordem interna e se sente mais
forte para viver.
Eis
o porquê da sacralidade na maçonaria!
TFA
LuCaS