ÁGAPE
DO SOLSTÍCIO DE INVERNO NO HEMISFÉRIO SUL
LuCaS
Introdução
Ontem,
noite de 21 de Junho de 2024, tive a honra de, mais uma vez, participar de uma
sessão ritualística em comemoração ao Solstício de inverno do nosso hemisfério,
a qual foi presidida pelo nosso Irmão Carlos Porto, Venerável Mestre da
Augusta, Benemérita e Benfeitora Loja Simbólica “Regeneração Campinense 02”,
Oriente de Campina Grande - PB, coadjuvado pelos Irmãos Ivan Lucena, 1º Vigilante
e Paulo Gervany, 2º Vigilante; presentes, ainda, Mestres Instalados, Mestres, Companheiros
e Aprendizes, além de Irmãos visitantes de Lojas coirmãs e Obediências com as
quais a GLEPB mantém Tratados de Paz e Amizade.
Pois
bem, a celebração do solstício de inverno pelos maçons no hemisfério sul é um
evento de grande significado simbólico e espiritual. Tradicionalmente, nós
maçons realizamos “ágapes solsticiais” durante o solstício, que são encontros
fraternais para compartilhar, agradecer e unir energias em prol do bem maior e
da ajuda à humanidade.
Essas
celebrações não são apenas reuniões para comer ou beber, mas momentos de
reflexão e renovação espiritual. No templo maçônico, as datas solsticiais são
representadas por um símbolo especial, que é o círculo entre paralelas
verticais e tangenciais, símbolo esse que está caindo no esquecimento,
lamentavelmente.
Além
disso, para os maçons e Civilizações Antigas, o solstício de inverno simboliza
a vitória da Luz (Sol) sobre a Escuridão, e na maçonaria está associado às
lições de São João, tanto Batista quanto Evangelista, enfatizando a reprovação
do vício e a prática do amor fraternal.
A
celebração dos solstícios e equinócios pela Maçonaria remonta a tradições
esotéricas e iniciáticas antigas, que celebram o magnífico ciclo da vida e as
mudanças das estações. Essas práticas são vistas como uma continuação das
tradições culturais e espirituais que têm suas raízes em civilizações antigas,
como os celtas e os egípcios.
Portanto,
o solstício de inverno é uma época de celebração e reflexão para os maçons,
marcando um tempo de renascimento e renovação espiritual.
A Celebração se fazia com um ágape:
Ágape era uma
refeição que os antigos (primitivos) cristãos faziam em comum. Eles reuniam-se
em torno de uma mesa disposta em formato de ferradura, pois para eles esta
disposição transmitia a ideia de imagem do céu nas suas épocas solares.
Assim, a
reunião de mesa tinha o cunho ritualístico religioso. Era o Kidush dos hebreus.
O Kidush (da
raiz hebraica kodesh = sagrado significa “santificação, sagração” e era
realizado na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do shabat (sábado),
para realçar a santificação do dia.
A última ceia
de Jesus com os apóstolos foi um Kidush, que precedeu à Pêssach (Páscoa).
A realização
de Kidush, muito comum entre os essênios, deu origem à eucaristia, haja vista
que a Igreja herdou muitas das práticas hebraico- judaicas. Assim, a Liturgia
Eucarística da Missa é uma das partes em que a influência hebraica mais se
manifesta. A Oração Eucarística é considerada o ponto central da ação de graças
e consagração em que se revive a última Ceia de Jesus, quando, lançando as
bênçãos sobre o pão e o vinho, ele os distribui entre os convivas; depois da
devida preparação, realiza-se a Comunhão entre os fiéis, que se reveste do
recebimento do corpo e do sangue do Cristo, como alimento espiritual.
Também, entre
os demais povos da antiguidade, os banquetes eram frequentes. Qualquer evento
extraordinário se transformava em motivação para que uma família, uma
associação ou um grupo social se reunisse, para comemorar ao redor de uma mesa.
Além dos
hebreus, que demonstravam particular prazer com as suas festividades, os
egípcios e os gregos as celebravam, com singular recolhimento de convidar os
deuses para os seus banquetes sagrados. De igual forma, os romanos não se
esqueciam de convidar os Deuses festins, colocando-os em leitos que circundavam
as mesas guarnecidas com iguarias.
Os Maçons, coparticipando
dos banquetes primitivos, mantiveram as tradições antigas, realizando um belo
culto ao simbolismo nos seus dias festivos.
Atualmente, o
que é de conhecimento geral é que as festas de São João Baptista, 21 a 24 de
Junho – solstício de Inverno, no nosso hemisfério – e de São João Evangelista, em dezembro –
solstício de Verão, – são celebradas pelos Maçons com
Sessões Especiais.
Como não se
sabe a qual São João grande parte da Maçonaria honra como padroeiro, os dois
são aceitos como tal. Mas, a maioria dos autores destaca São João Baptista como
o verdadeiro padroeiro, por ter sido ele tomado como patrono pelos membros das
sociedades de construtores romanos – os “collegiati” –
convertidos ao cristianismo, e ainda pelo fato de os colégios de arquitetos celebrarem,
assim como os povos da antiguidade, naquele hemisfério (Norte), o solstício de
Verão. Esta tese foi reforçada pela fundação da primeira Obediência Maçônica do
mundo – a Premier Grand Lodge – a 24 de Junho de 1717.
Loja de mesa
Procedimentos
de uma Loja de Mesa:
De maneira
geral, o Banquete Ritualístico deve ser realizado nos edifícios maçônicos, em
salas apropriadas. Pode, todavia, ter lugar em qualquer outro edifício,
contanto que tudo esteja disposto de maneira que, de fora, nada se possa ver e
ouvir; isso significa que o Banquete Ritualístico deve estar a coberto dos
olhos profanos, já que se trata de uma sessão ritualística.
Como dito, o
Banquete Ritualístico, antigo costume maçônico, deveria ser realizado pelo
menos uma vez por ano, de preferência no solstício de Inverno (no hemisfério
Sul), ou de Verão (no hemisfério Norte).
O solstício de
Inverno, no nosso hemisfério, ocorre a 21 de Junho, que é, então, a época mais
propícia para o Banquete Ritualístico, embora muitas Oficinas o realizem no dia
24 de Junho, aproveitando o solstício e homenageando o padroeiro de muitos
ritos maçônicos, São João, o Baptista.
Tudo o que é
usado no Banquete Ritualístico tem um nome simbólico, ligado à arte de
construir, aos materiais de construção e aos instrumentos necessários ao
trabalho de edificação, são seguintes os nomes simbólicos:
·
Água: Pólvora branca ou fraca;
·
Sal: Areia branca;
·
Copos: Armas, ou Canhões;
·
Beber à saúde: Fazer fogo;
·
Cerveja ou Cidra: Pólvora amarela;
·
Cadeiras: Mochos;
·
Café: Pólvora preta;
·
Colher: Trolha;
·
Comer: Mastigar;
·
Comida em geral: Materiais;
·
Colocar líquido no copo: Carregar;
·
Faca: Alfange;
·
Garfo: Espeque;
·
Garrafa: Barrica;
·
Guardanapo: Bandeira;
·
Licor: Pó fulminante;
·
Luzes: Estrelas;
·
Mesa: Oficina;
·
Pão: Pedra bruta;
·
Pimenta: Cimento ou saibro;
·
Prato: Telha;
·
Travessa (prato): Bandeja;
·
Sal: Areia branca;
·
Toalha: Véu;
·
Trinchar: Desbastar;
·
Vinho: Pólvora vermelha ou forte.
A mesa do
banquete é disposta em forma de ferradura, com as extremidades correspondendo
ao Ocidente e a cabeceira (mesa de honra), ao Oriente.
O Venerável
Mestre ocupa o centro da parte da mesa que constitui o Oriente, tendo, à sua
esquerda, os Mestres Instalados e, se for o caso, o Venerável de Honra, e, à
sua direita, as Dignidades do Simbolismo, presentes à sessão.
Os demais
Oficiais e Dignidades, colocam-se como em Loja, ou seja: O Orador e o
Secretário colocam-se nas extremidades da mesa de honra, frente a frente; ao
lado deles, colocam-se o Chanceler e o Tesoureiro, tendo, junto a si, o
Hospitaleiro; o 2° Vigilante senta-se na metade do lado Sul, ou na extremidade
ocidental, ou sudoeste, da mesa (da ferradura); na metade da mesa do lado
Norte, coloca-se o Experto; o 1° Vigilante ocupa a extremidade noroeste da
mesa, variando a posição, conforme o rito (inversão dos lugares dos Vigilantes,
Orador, Secretário, etc.); o Mestre de Cerimónias fica próximo à extremidade,
ao Norte, junto ao 1° Vigilante e à disposição deste; finalmente, o Cobridor
fica na extremidade sudoeste, de frente para o Oriente (se ali estiver o 2°
Vigilante, ficará ao lado dele).
Os demais
obreiros colocam-se à vontade, em torno da mesa, sempre na parte externa da
ferradura, com Aprendizes e Companheiros ocupando o mesmo local que lhes
compete nos templos. Se o espaço na parte externa não for suficiente, admite-se
a ocupação de alguns lugares na parte interna.
Na mesa deve
ter uma fita estreita, azul ou encarnada, conforme o Rito, indicativa do
alinhamento das armas.
Na parte
interna da mesa, sobre um pedestal colocado junto à mesa de honra, à frente do
Venerável Mestre, estarão as Três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria (o
Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso), dispostas no grau de Aprendiz Maçom.
Isso é fundamental, pois não pode haver sessão ritualística sem a presença das
Três Grandes Luzes Emblemáticas.
Sobre a mesa
de honra, diante do Venerável, estará um candelabro de sete braços (o menorá
hebraico), um pedaço de pão e um copo de vinho tinto; à frente do 1° Vigilante,
estará um candelabro de cinco braços e, à frente do 2° Vigilante, um candelabro
de três braços. A presença do pão e do vinho é uma lembrança do ritual hebraico
de kidush, incrementado pelos essênios.
Todos os
participantes da Loja de Mesa estarão paramentados e as Dignidades e Oficiais
usarão as joias dos seus cargos. Algumas Obediências costumam recomendar que
não sejam usados os aventais, pois eles seriam reservados para os trabalhos da
Loja no templo; isto, todavia, não é correto, pois, em qualquer sessão
ritualística, o Maçom deve portar o seu avental, sem o qual será considerado
como se estivesse nu.
As Saudações
Obrigatórias, Saúde ou Brindes:
Há em todo
banquete ritualístico, sete brindes obrigatórios, que são os seguintes:
1º. Ao Chefe
da Nação e a sua família;
2º. À Sereníssima
Grande Loja, a seu Grão Mestre e sua família;
3º. Ao
Venerável Mestre da Loja e sua família;
4º. Aos
Vigilantes da Loja e suas famílias;
5º. Aos Irmãos
visitantes e Lojas Coirmãs;
6º. Aos Oficiais,
demais membros da Loja e novos Iniciados;
7º. A todos os
Maçons espalhados pelo Universo.
A Loja de Mesa
ou Banquete Ritualístico reveste-se de uma cerimônia sagrada, que deveria ser
praticada pelas Lojas, anualmente, com toda solenidade, nas duas grandes festas
tradicionais e, eminentemente simbólicas, que são as chamadas Festas
Solsticiais ou de São João. Nestas festas são celebrados os Banquetes
Fraternais.
Algumas Lojas
realizam, anualmente, o Banquete Ritualístico, por ocasião da data da sua
fundação.
O Banquete
Ritualístico tem reminiscências antiquíssimas – Ceia dos Apóstolos, Ceia
Pascoal dos Judeus e os Ágapes do Amor dos Cristãos – razão pela qual deve se
revestir da maior seriedade. Não é uma brincadeira. É uma comunhão fraternal,
razão pela qual é realizado longe das vistas profanas, portanto, deve ser
evitado o excesso de bebida e de comida. Infelizmente, em algumas ocasiões,
tem-se presenciado, neste tipo de Ágape Sagrado, mera festa de comilança.
O Banquete
Ritualístico é um momento de confraternização, que é exercer uma
confraternidade, em nome de todos os Maçons do orbe terrestre, de salientar os
laços que unem os Irmãos dessa Ordem Universal. Neste momento deve-se estar
conectado com o Grande Arquiteto do Universo, entendendo que, no momento dessa
confraternização, dever-se-ia estar recebendo o mesmo alimento espiritual,
alimento propiciador de uma ligação espiritual forte, mantenedora de um laço
invisível e inquebrantável, que deve estar isento de qualquer mácula, pois
advém de seres Iniciados.
Bibliografia
CAMINO,
Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 2a. Edição. Rio de
Janeiro. Editora Aurora, 1991.
CARVALHO,
Assis. Cadernos de Estudos Maçônicos – Cargos em Loja Nº 1. 3a Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha”
Ltda, 1988.
CASTELLANI,
José. Cadernos de Estudos Maçônicos – Consultório Maçônico II. 1a Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha”
Ltda, 1989.
______________. Dicionário de Termos Maçônicos. 1a. Edição.
Londrina. Editora Maçônica “A Trolha” Ltda, 1989.
_______________. Loja de Mesa. 1a. Edição. Londrina. Editora
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FIGUEIREDO,
Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. 2a. Edição. São Paulo. Editora Pensamento, 1974.
GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA. Coletânea de Ritualísticas Especiais. Ritual dos Trabalhos de Banquete. Aprovado pelo Decreto Nº 016/95-97. João Pessoa - PB. 1996.