quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Comentários à Escada de Jacob

 Comentários à Escada de Jacob 

Por: LuCaS, 33º R.E.A.A. 

S.’.S.’.S.’. 

“A cobertura de uma Loja Maçônica se representa por uma 

Abóbada Celeste de cores variadas, representando o Céu, isto é, 

o Infinito. O caminho pelo qual nós, Maçons, esperamos atingi-la 

é expresso simbolicamente pela escada existente no Painel, e 

que as Sagradas Escrituras denominam de Escada de Jacob, 

nome que, sempre guarda fiel da antiga tradição, a Maçonaria 

Conserva. (1ª Instrução do Grau de Aprendiz do REAA)”. 

Prezados Irmãos, não vou, aqui, repetir o que está em nosso Ritual. 

A ideia da ascensão gradual e penosa faz o mister do Escocismo como escola primeira da Arte Real. Está presente, também, nas grandes tradições do Ocidente como esforço individual para a procura de uma mais alta espiritualidade ou de um diálogo mais íntimo com Deus. Tem lugar também nos mistérios egípcios, gregos, escandinavos ou de Mitra e nos dos Cabalistas. Em todos estes mistérios e escolas filosóficas, a escada tem o sentido figurativo de uma realização espiritual que se alcança, degrau a degrau, vencendo as várias dificuldades e através da aprendizagem das várias virtudes. 

Se a realização é espiritual e não meramente protocolar ou dignitária, ela exige uma entrega psicológica total, uma crença na capacidade de se alcançar o limiar desejado. Esse esforço é retribuído pela consciência de se atingir um grau de maior perfeição, luz refletida do objeto glorificado: Deus, o Grande Arquiteto do Universo. 

A percepção da progressão espiritual como processo “faseado” associa, por vezes, duas ideias errôneas: a de que havendo chegado à etapa almejada, o estado de iluminação é total e sem mácula; e que alcançado esse estado não há retorno ou, para usar uma imagem trivial, não há queda pela escada abaixo. 

A escada para cumprir efetivamente o seu simbolismo esotérico terá que ter um curso ascendente e um curso descendente e este sentido mais profundo e enigmático é dado, apenas, pela Escada de Kadosh. É errado contudo concluir-se que a escada surge no ritual associado aos altos graus do Escocismo. Ela aparece, antes, logo no 1° Grau, revelando vários degraus (sete ou mais) que constituem as virtudes morais que estimamos. 

A Escada de Jacob é referida no Antigo Testamento no Livro de Gênesis, Cap. 28, vs. 10-22. A história é a seguinte: 10 Jacó saiu de Berseba e seguiu caminho para Harã. 11 Chegando a certo lugar, preparou-se para passar a noite ali, visto que o sol já se tinha posto. Então, pegou uma das pedras do lugar e, pondo-a debaixo da cabeça, deitou-se naquele lugar. 12 E ele teve um sonho: viu uma escada posta na terra, e seu topo chegava aos céus; e anjos de Deus subiam e desciam por ela. 13 Acima dela estava Jeová, e ele disse: “Eu sou Jeová, o Deus de Abraão, seu pai, e o Deus de Isaque. Vou dar a você e à sua descendência a terra em que você está deitado. 14 E a sua descendência certamente se tornará como as partículas de pó da terra, e você se espalhará para o oeste, para o leste, para o norte e para o sul; e todas as famílias da terra certamente serão abençoadas por meio de você e por meio da sua descendência. 15 Eu estou com você, vou protegê-lo aonde quer que você for e vou trazê-lo de volta a esta terra. Não o deixarei até que eu

tenha feito o que lhe prometi.” 16 Jacó acordou então do sono e disse: “Jeová realmente está neste lugar, e eu não sabia disso.” 17 Ele ficou com medo e acrescentou: “Como este lugar inspira temor! Só pode ser a casa de Deus, e este é o portão dos céus.” 18 De modo que Jacó se levantou de manhã cedo, pegou a pedra em que havia apoiado a cabeça, colocou-a em pé como coluna e derramou óleo no topo dela.19 Então deu àquele lugar o nome de Betel; mas anteriormente o nome da cidade era Luz. 20 E Jacó fez um voto, dizendo: “Se Deus continuar comigo e me proteger na minha viagem, me der pão para comer e roupas para usar, 21 e eu retornar em paz à casa de meu pai, então certamente Jeová terá mostrado que é meu Deus. 22 Esta pedra que ergui como coluna se tornará uma casa de Deus; e eu sem falta te darei um décimo de tudo que me deres.” 

O exemplo bíblico de Jacob revela o uso de um estratagema para alcançar uma vantagem ilegítima. Revela igualmente o sentido da Providência Divina sempre presente, indicando o caminho para Deus, o qual só se torna exequível através da prática da caridade, a mais sublime das virtudes. A escada torna-se etérea porque os degraus são níveis da consciência. Só com a iluminação da divindade o véu que cobre o topo da escada se dissipa e podemos vislumbrar as sete estrelas ou os sete céus. 

Símbolo da via ascendente, em direção ao céu, a Escada de Jacob repousa, no Painel, dito alegórico, sobre o Livro das Sagradas Escrituras, tendo três, ou sete degraus, sobre os quais repousam os símbolos das três virtudes teologais: a Cruz (Fé), a âncora (Esperança) e o Cálice ou Graal (Caridade). 

A âncora é o símbolo da esperança; no cristianismo, ela é usada, associada à figura dos dois peixes (símbolo do cristianismo). 

O Cálice ou graal é o objeto misterioso, que, de acordo com a lenda medieval, é o cálice com que Jesus instituiu a Eucaristia; segundo outras correntes místicas, seria a bandeja onde foi servido o cordeiro pascal, durante a última ceia. O Santo Graal é um dos símbolos mais lendários e de maior importância, beleza e complexidade. Segundo a lenda, a posse dele, por alguém, assegura eterna juventude ao seu possuidor. O sangue do Cristo, sempre fluindo no interior do graal, simboliza sua verdadeira doutrina; e o cálice que o contém, sua escola esotérica, o cálice de seus adeptos. 

A cruz é um símbolo bastante antigo e de caráter universal, simbolizando a união dos opostos e a harmonia entre Deus e a Terra. Um dos mais antigos símbolos cósmicos, indica os quatro pontos cardeais, sendo base de todos os símbolos de orientação: terrestre, celeste, espacial e temporal. O braço vertical liga os polos ao plano do equador; o braço horizontal relaciona-se com os solstícios e os equinócios. Em seu ponto de encontro inscreve-se o centro. 

Existem vários tipos de cruz: 

A cruz simples é a forma básica, com as hastes horizontal e vertical cruzando-se exatamente no meio de cada uma, como símbolo perfeito da união dos opostos. É também chamada de cruz grega. 

A cruz de Santo Antônio, ou tau reproduz o desenho da letra grega tau (T). Ela já era usada pelos antigos egípcios, como a representação de um martelo de duas cabeças, o sinal "daquele que faz cumprir". Para os gauleses, é o martelo do deus escandinavo Thor. 

A cruz latina, ou cruz cristã, era, originalmente a representação de um patíbulo, com uma trave vertical longa e uma trave horizontal, mais curta, próxima ao topo. A cruz de Santo André, com o formato de um "xis", tem esse nome porque Santo André teria sido martirizado numa cruz com essa forma.

A cruz ansata, com o formato de um tau, sobre o qual há um círculo, no topo da haste vertical, é um importante símbolo solar egípcio. Ela era um hieróglifo, que significa "vida". 

A cruz gamada, ou suástica é um símbolo muito antigo e importante: ela representa a energia criativa do cosmos em movimento. 

A cruz quádrupla é formada por duas paralelas horizontais e duas verticais, que se cruzam, formando um quadrado fechado, reforçando, por ser dupla, a união dos opostos. A cruz de Malta, ou cruz de São João, com quatro pontas bipartidas, na extremidade, é, no sentido místico, a representação das forças centrípetas do espírito. A cruz forcada, ou teutônica, composta por um ramo vertical e um horizontal, tendo, cada um deles, nas pontas, um pequeno ramo tangencial, formando uma bifurcação. É chamada de "forcada" porque forcado é um utensílio da lavoura, formado por uma haste de pau, terminada em duas ou três pontas ; e forcado é o ponto de bifurcação. A cruz de Lorena, ou cruz patriarcal é formada por um ramo vertical e por dois ramos horizontais desiguais --- o inferior mais longo do que o superior --- representando os bispos e príncipes da Igreja cristã primitiva. 

A cruz rosa-cruz tem significado místico e alegórico. Ela é interpretada como o corpo físico do Homem, com os braços estendidos, em saudação ao Sol. A rosa, no centro da cruz, ou seja, no cruzamento das hastes vertical e horizontal, simboliza a alma humana, o "eu" interior, que vai se desenvolvendo, no ser humano, à medida que ele recebe mais luz. 

Na escada de Jacob, a figura é a de uma cruz latina. 

É trivial a ideia que ao atingir-se o Grau de Mestre, o Maçom possui a iniciação integral e que os Altos Graus não lhe trarão nada de novo, pois nada são mais que desenvolvimentos dos graus anteriores. Trata-se de uma ideia despida de todo o fundamento. O Maçom pela mestria inicia uma nova etapa do seu aperfeiçoamento espiritual, da percepção do sagrado, caminho que como tudo o que é humano pode ter retrocessos. 

O objetivo ritualista é a procura da Luz, a Luz da Liberdade e o combate da opressão, seja qual for a forma que esta assuma. 

Esta procura só é possível nos graus filosóficos pois só aí o Cavaleiro Escocês se liberta das limitações e dos equívocos de uma Mestria insuficiente, do obscurantismo que ainda limita a sua liberdade de consciência e das convenções. A razão é intuitiva: no julgamento da nossa alma, depois da nossa morte física, o Grande Criador do Universo julga-nos pela sinceridade que emprestamos às nossas ações em vida, por aquilo que fizemos desinteressadamente pelos outros, sendo desprezível a proclamação elogiosa das nossas virtudes próprias. Contudo, a liberdade aqui representada não deve ser identificada como licenciosidade, já que esta implica excesso e o bom maçom deve viver em equilíbrio utilizando sabiamente os instrumentos que se habituou a usar.

TFA
LuCaS, 33º R.E.A.A

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