sexta-feira, 25 de agosto de 2023

A IDADE SIMBÓLICA DO MESTRE MAÇOM



 A idade do Mestre  Maçom é "S⸫ aa⸫ e m" no Rito Escocês. Já No Rito York e o Emulação, a idade do Mestre é S⸫ aa⸫ sem esse "e mais". Por quê?

Primeiramente, vamos tecer algumas considerações que interessam à doutrina maçônica sobre a abordagem simbólica do número sete.

Assim como no simbolismo iniciático o número três é relativo ao Aprendiz e o cinco ao Companheiro, o sete é especulativamente o número do Grau de Mestre Maçom na Moderna Maçonaria.

Desde a Antiguidade, em muitas concepções iniciáticas, o número sete sempre ocupou lugar de destaque como tema para estudo – é o caso, por exemplo, dos babilônios quando se ocuparam com a construção dos sete recintos cúbicos na Torre de Babel. Assim também ocorre no Livro da Lei Sagrada adotado pela Maçonaria quando o número sete é largamente mencionado em muitas passagens bíblicas – sete eram as vacas e as espigas do sonho do faraó (Genesis, 41 - 26), sete os dias dos pães ázimossete os dias da consagração dos sacerdotes (Êxodo, 29 - 35), sete os braços do candelabro (Menorá), sete os planetas da Antiguidade e sétimo o dia santificado por Deus (shabat). Ainda no Novo Testamento em Mateus, 18-21 e 22-25; em Marcos 12-20; em Lucas 17-4 e 20-29 e em Atos 6-3.

Outro exemplo que pode ser observado no que diz respeito à liturgia maçônica e o número sete está em Provérbios 9-1: “A Sabedoria edificou a sua casa e lavrou suas sete colunas” – foi dessa expressão que a Moderna Maçonaria determinou a composição de um mínimo de “sete Mestres na Loja para torná-la justa e perfeita”.

Ainda, outra citação que merece ser mencionada sob o ponto de vista da liturgia maçônica é a Menorá (candelabro de sete braços). Da tradição hebraica, ele simboliza os sete planetas da Antiguidade. À época os sete planetas conhecidos eram o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, os quais, como se percebe, não eram todos planetas, pois, nessa relação há uma estrela, o Sol, e um satélite, a Lua. Essa representação e influência setenária astronômica é perfeitamente visível na decoração da abóbada celeste no REAA.

Em se comentando a abóbada celeste do Templo, nela também se apresentam as constelações relativas ao Aprendiz, o Cinturão de Órion (três estrelas); ao Companheiro, as Híadas (cinco estrelas) e ao Mestre as Plêiades (sete estrelas).

Adotado no ideário maçônico especulativo, o número sete, tal qual o significado do shabat na cultura hebraica, é um símbolo numérico relacionado à criação, à conclusão e ao resultado.

Provavelmente foi por isso que o sistema especulativo maçônico também o associou à idade simbólica do Mestre como que a exaltar a experiência adquirida, o que, de modo sumário, se resume na conclusão do aprendizado necessário para suplantar todas as fases apresentadas durante o percurso pela vereda maçônica (observe-se a escada em caracol com lances de três, cinco e sete degraus).

Sob o ponto de vista prático e tradicional, sete anos era o tempo que o artífice da construção levava para se especializar na “arte” e com isso adquirir o direito de constituir sua própria Guilda (Organização de mercadores, de operários ou artistas ligados entre si por um juramento de entreajuda e de defesa mútua). Em síntese, após sete anos comprovados ele adquiria o direito de se locomover livremente (franco), contratar obras, instruir e admitir novos membros para a Guilda.

Se, como exposto, literalmente à época da Maçonaria Operativa o artífice da pedra calcária levava em média sete anos para se preparar e aparelhar as suas ferramentas, esse conceito mais tarde viria sugestivamente também ser agregado ao costume especulativo (dos Aceitos) aparelhado pelas doutrinas ritualísticas das duas principais vertentes da Moderna Maçonaria – a inglesa e a francesa.

Foi dentro desse entendimento doutrinário que os Maçons Aceitos, conforme a sua vertente maçônica, adotaram a idade simbólica do Mestre – pura e simplesmente como S AA (tempo determinado), ou de tempo indeterminado como S AA e M, embora alguns autores substituíssem a conjunção “e” por “ou”, ficando então S AA ou M.

Idade de S AA.

Na autêntica vertente inglesa da Maçonaria, geralmente o Craft (Ofício ou Arte) determina a idade simbólica do Mestre por tempo determinado, ou seja, pura e simplesmente como S AA. Isso se explica porque a doutrina de aperfeiçoamento do Terceiro Grau no Craft é ilustrada pelo completo domínio das Sete Ciências e Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas preleções sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada em caracol (sinuosa) que é constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das Sete Ciências ou Artes da Antiguidade.

Na verdade, essa alegoria fazer referência a que a Árvore da Vida, situada no topo da escada sinuosa, só será alcançada por aquele que possuir completo domínio das Sete Ciências e Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.

Essa ideia de concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada um dos sete anos (vida simbólica), uma das Sete Ciências, de tal modo que cada ano seja uma qualidade própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática da moral, como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências correspondente ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a construir conforme as exigências da Arte. Em síntese é o processo de moral elevado que se aplica na construção da Obra da Vida.

Ainda na vertente inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Mestre, aparece também a alegoria da Estrela de Sete Pontas que é encontrada no Painel do Primeiro Grau ficando ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei Sagrada e vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira equidistante, arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais – Fé (cruz), Esperança (âncora) e Caridade (mão em direção à taça).

Para relacionar essa alegoria à idade completa do Mestre, somam-se às Três Virtudes Teologais as virtudes cardeais – Prudência (originalmente “sapientia” que em latim significa conhecimento ou sabedoria, dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida", sendo por isso considerada a virtude-mãe humana.), Justiça (que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido), Fortaleza (ou Força) que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem) e Temperança (ou Moderação) que "modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados", sendo por isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres), cujos símbolos encontram-se representados pelas quatro Borlas colocadas nos quatro cantos do mesmo Painel. O resultado da soma dessas virtudes é o número sete que corresponde às pontas da estrela que fica no topo da escada e que, por sua vez, satisfaz à idade do Mestre, ou seja: S AA completos, ou de tempo determinado.

Interpreta-se esse emblema setenário relacionado ao tempo de vida simbólico do Mestre como “a obra construída é a vida do próprio homem, desde que pautada pelos princípios da crença em um Arquiteto Criador, pela confiança em atingir o seu objetivo com complacência e benevolência e vivida pelo princípio da moderação, do comedimento e da resolução, de modo firme e constante”. Eis aí a razão pela qual alguns rituais adotarem para a idade do Mestre apenas S AA⸫.

Vale a pena comentar a influência teísta que é predominante nas concepções simbólicas dos Trabalhos da vertente inglesa de Maçonaria, que difere em vários aspectos dos ritos deístas da vertente latina de Maçonaria (francesa) como é o caso do REAA, muito embora nele, em particular, também existam influências do teísmo anglo-saxônico.

Idade de S AA e M.

Na vertente francesa, diferente da inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito a sua compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador da Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve os três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante de um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.

Sob a ótica filosófica do deísmo a Maçonaria francesa, especulativa por excelência, viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com a Natureza.

Nessa concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático da morte e do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos naturais que faz corresponder as estações do ano com as etapas da existência humana.

Apesar do ideário do “morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do ensinamento maçônico, ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do escocesismo simbólico.

Assim, na alegoria iniciática Homem/Natureza, sugestivamente a primavera representa o nascimento e a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a maturidade; o inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.

Isso explica e até justifica, por exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no Templo do REAA, já que o seu simbolismo indica que cada ciclo é um tempo existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da vida – o Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre a maturidade (Meia-Noite). Na verdade, tudo se reporta à transformação e ao aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).

Outra consideração importante no rito em questão é a da existência dos três candelabros de três braços que acolhem as Luzes litúrgicas, os quais se situam, um sobre o Altar destinado ao Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas destinadas aos Vigilantes.

Dessa concepção de filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se criou estruturalmente a idade de S AA e M para o Mestre Maçom do REAA, mesmo que nele também persistam feições teístas hauridas de influências anglo-saxônicas (dos Antigos). A questão é de doutrina.

Desse modo, esse enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o renascimento da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por ocasião do inverno quando a Terra fica viúva do Sol.

Nove Meses.

É esse tempo existencial que explica a idade do Mestre também possuir algo mais além dos S AA, já que simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza é de nove meses, a contar desde o início da primavera até o final do outono. Daí a razão dos S AA e (ou) M. Na verdade, vai além do número sete (criação) até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o Esquadro e o Compasso). Se bem observada a Arte, e despida de ilações e fantasias, a explicação está na Lenda de Hiran.

Assim se explica a disposição do mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros com as três Luzes litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os nove meses de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os três meses de inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do Sol (dias curtos e noites longas). É dessa alegoria solar absorvida dos cultos solares da antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a despeito de que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante o inverno.

Dada à existência simbólica da Luz além do número sete que é o símbolo da criação (o shabat), indo até o número nove, é que a expressão “e M foi acrescentada à idade de S AA no caso do REAA.

É oportuno salientar, ainda, que o número sete, independente da vertente maçônica abordada, sempre será o marco da Criação (... e no sétimo dia Ele descansou). Daí o Mestre, como elemento de criação, ter o número sete como um principal agregado à sua idade, podendo, dependendo do arcabouço doutrinário do Rito, possuir ainda algum complemento de identificação, que é o caso do “e M” do REAA.

É fato, entretanto, que com ou sem complemento na identificação da sua idade, todos os Mestres se equivalem na plenitude alcançada, já que a Lenda do Terceiro Grau revive o Mestre tal como o Sol revive a Natureza após o inverno. Se a sua idade simbólica é de S AA isso se dá no Ocidente da Loja, pois depois de revivido ele renasce para o Oriente o que, de acordo com as suas obras, ele permanecerá, além dos S AA, eterno na mente dos que hão de vir.

Por fim, é essa a síntese da explicação dessas variações aparentes que nos apresentam as tradições ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da Maçonaria Especulativa é sempre o mesmo, o de forjar um novo homem nos seus canteiros simbólicos (Loja), entretanto, mesmo de objetivo único, os métodos muitas vezes se diferenciam. Assim não há como se generalizar procedimentos na liturgia maçônica. Tradições, usos e costumes muitas vezes são particularidades de cada um dos sistemas maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o que significa cada processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime Instituição. Para cada gesto, para cada símbolo ou procedimento na liturgia dos ritos maçônicos, desde que sejam autênticos, sempre existirá uma explicação lógica.

T.F.A.

LuCaS

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